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Henrique Áreas de Araujo

Militante do PCO, é membro do Comitê Central do partido. É coordenador do GARI (Grupo por Uma Arte Revolucionária e Independente) e vocalista da banda Revolução Permanente. Formado em Política pela Unicamp, participou do movimento estudantil. É trabalhador demitido político dos Correios e foi diretor da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios)

Caso dos peladões da UNISA

Diretoria da UNE e Sâmia Bomfim entraram na igreja de Damares?

Esquerda adotou uma política bolsonarista e extremamente moralista para perseguir estudantes que ficaram pelados em jogo universitário

Um vídeo de abril, ou seja, de cinco meses atrás, aparece nas redes sociais. Embora as imagens sejam ruins, a divulgação diz que estudantes simulam uma masturbação. A imprensa capitalista repercute o vídeo com a mesma explicação.

Começa, então, o linchamento público. Pedidos de punição. Chama os estudantes de criminosos.

A direita pede a cabeça dos estudantes “depravados”.

A esquerda e a direita “civilizada” pedem a cabeça dos estudantes “machistas”; eles seriam uma “representação do patriarcado”.

Com medo da repercussão negativa, a UNISA (Universidade de Santo Amaro), de onde eram os estudantes, do curso de medicina, identifica e expulsa sumariamente os envolvidos.

Vendo o vídeo, ao menos o que se pode ver dele, descobre-se que não há nem simulação, menos ainda masturbação. Descobre-se que o que aconteceu naquele jogo de vôlei em São Carlos no Calomed (jogos entre calouros de faculdades de medicina) é o que acontece em qualquer atividade universitária desse tipo, ou melhor, pode acontecer em qualquer festa que agrupe jovens, na flor da idade.

Ninguém é obrigado a gostar de ver marmanjo pelado. A cena é tão ridículo como poderia ser mesmo uma cena como essa. Mas se deveria haver alguma condenação, ela para por aí.

Da parte da direita bolsonarista, entende-se querer a cabeça dos estudantes. Da parte da direita “civilizada”, é a demagogia do machismo para encobrir a mesma sanha bolsonarista de linchamento, punição e execução sumária.

Mas e da parte da esquerda. Muito impressionante mesmo é a posição da esquerda pequeno-burguesa pedindo a cabeça dos estudantes. Logo ela, que é dada a fazer apologia da nudez e da orgia.

Essa esquerda pequeno-burguesa, 99% criada nas universidades, coloca as mãos no rosto para mostrar escândalo, como se ela nunca tivesse visto isso antes nas festas universitárias.

Descobrimos, com esse caso, que a esquerda pequeno-burguesa foi completamente dominada pela hipocrisia.

Mas se fosse só hipocrisia estaria ótimo. A esquerda virou bolsonarista, isso, sim. Mais especificamente a ala mais evangélica do bolsonarismo.

Sâmia Bomfim, deputada do PSOL, protocolou “uma representação ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pedindo a investigação e responsabilização dos estudantes de medicina que ficaram nus e simularam masturbação”, segundo artigo do próprio portal de seu grupo. Uma deputada de esquerda, cuja trajetória iniciou-se no movimento estudantil, pede que órgão repressivos ajam contra estudantes.

A União Nacional dos Estudantes deveria defender estudantes, certo? Parece que, se depender da UJS, juventude do PCdoB que domina a UNE há décadas, a função da UNE mudou. Agora, a função da UNE é chamar as autoridades para punir estudantes.

Uma passada pelo perfil da UNE no X (antigo Twitter) vemos que a entidade não se preocupa mais em defender o direito dos estudantes. A maioria das postagens é pedindo punição aos peladões. “Prendam!”, “criminosos!”. Baixou o espírito bolsonarista na direção da UNE.

“O desrespeito e a objetificação das mulheres são inaceitáveis em qualquer setor da sociedade. A Unisa precisa se posicionar e os envolvidos responsabilizados criminalmente”, é o que diz uma das postagens no perfil da UNE, no dia 18 de setembro. Por trás da suposta defesa da mulher, a UNE quer que estudantes – que ela deveria defender – sejam tratados como criminosos. É interessante que a postagem dá de barato que os estudantes da UNISA foram machistas, a diretoria da UNE nem se preocupou em verificar se isso era fato mesmo.

A pergunta que fica é o que os órgãos repressores deveriam fazer quando essa mesma esquerda decidir tirar a roupa e alguma manifestação.

Ou será que só os estudantes da panelinha da esquerda pequeno-burguesa podem tirar a roupa?

E vamos deixar claro, será mesmo que a UNE, Sâmia e outros que estão pedindo a cabeça desses estudantes não sabiam, nunca viram nada parecido nas universidades e atividades universitárias? Quem não te conhece que te compre.

E vamos deixar claro aqui: mesmo se esses estudantes da UNISA realmente tivessem feito alguma coisa criminosa, machista ou coisa que o valha, a tarefa da UNE era defendê-los, não pedir a cabeça deles. A tarefa de um sindicato é defender o trabalhador mesmo se ele estiver errado, dar assistência jurídica para que o trabalhador, oprimido, ao menos possa ter um julgamento justo.

A UNE, como uma espécie de sindicato estudantil, nunca deveria pedir que os patrões (direção das universidades) punissem o estudante. No mínimo, deveria garantir que esses estudantes tivessem um processo que respeitasse seus direitos.

O que a UNE está fazendo é uma vergonha. Ou melhor, o que a UJS na direção da UNE está fazendo é uma vergonha, mais uma vergonha dentre muitas décadas de uma política vergonhosa.

O mesmo podemos falar de toda a esquerda que está pedindo a cabeça de uns jovens desmiolados que, como muitos jovens desmiolados, fizeram um ato besta.

Essa esquerda pequeno-burguesa é uma vergonha! Vergonha maior do que a própria atitude dos peladões.

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