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Palestina

Dilúvio de Al-Aqsa, um “erro de cálculo”?

Articulista ataca o Hamas e vê situação catastrófica, enquanto trabalhadores por todo o planeta se levantam contra o sionismo, em solidariedade cada vez maior à resistência armada

 O sítio Esquerda Online, na última sexta-feira, 15 de dezembro, traduziu do inglês e publicou um artigo de Gilbert Achcar intitulado Dilúvio de Al-Aqsa e erro de cálculo. A peça é um ataque ao Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas, na defesa da situação “pacífica” na Palestina até então.

“Depois desta enorme catástrofe que está a caminho de completar a Nakba de 1948 com uma Nakba em Gaza que é ainda mais extrema e mais feroz do que tudo o que a precedeu – enquanto a matança e a perseguição sionistas estão aumentando na Cisjordânia – é necessário examinar que cálculo pode ter passado pela mente daqueles que idealizaram a Operação Dilúvio de Al-Aqsa, levando-os a lançá-la, embora fosse possível prever o que aconteceria como resultado.”

Como se torna evidente pela introdução do texto, o Esquerda Online partilha de uma visão vergonhosa, segundo a qual, diante da repressão dos opressores, os oprimidos não deveriam agir.

Primeiro, tiremos do caminho a farsa colocada: não havia paz nem em Gaza, nem na Cisjordânia antes da Operação Dilúvio de Al-Aqsa. O bloqueio a Gaza opera de maneira cerrada há mais de 15 anos. Os ataques à população no território, da mesma forma, são de extrema violência toda vez que tentam protestar contra a situação inaceitável.

Já na Cisjordânia, as expulsões, assassinatos, destruição, demolições, invasões, prisões, torturas e estupros nunca cessaram. A multiplicação de assentamentos dos colonos fascistas segue desde sempre, a queima e corte das oliveiras, árvore que é símbolo da Palestina, também. A entrada de colonos nas próprias cidades palestinas vem ocorrendo, e o objetivo é claro: terminar o processo de limpeza étnica iniciado há mais de 75 anos.

Ou seja, ao passo em que a situação da sobrevivência na Faixa de Gaza se tornava cada vez mais insustentável, na Cisjordânia, avançava o processo de colonização do território. Assim sendo, com um mínimo de informação a respeito da situação palestina, podemos afirmar dois fatos. O primeiro: caso o Hamas e os grupos armados da Faixa de Gaza não levassem a cabo sua operação, a limpeza étnica da Palestina ocorreria desimpedida. O segundo: o autor ou desconhece totalmente a questão palestina, ou está sendo desonesto. E é nos termos da ignorância que a matéria traduzida pelo Esquerda Online ataca o Hamas.

“Ou aqueles que planejaram a operação estavam cientes de que resultaria em uma catástrofe, como o que aconteceu até agora e ainda está em andamento, e não se preocuparam com o assunto; ou calcularam mal. A segunda hipótese é a mais próxima da realidade, e isso em dois aspectos principais.”

Antes de entrarmos na opinião do articulista sobre a ignorância e erro de cálculo dos grupos armados de Gaza com relação à situação em seu próprio território, pensemos um momento. Tendo em vista a situação prévia e o sucesso da operação, seria possível que houvesse qualquer ignorância a respeito da postura do Estado sionista? 

“A primeira é que os planejadores da Operação Dilúvio de Al-Aqsa não levaram totalmente o giro completo à extrema-direita da sociedade israelense, materializado em um governo que inclui todo o espectro da direita sionista fascista, do Likud [sic] ao Partido Nacional-Religioso e ao Poder Judaico. A interação entre essa realidade política e a gravidade da operação de 7 de outubro, que superou todas as operações militares anteriormente realizadas pela resistência palestina contra a ocupação, tornou inevitável que a reação israelense excedesse, por sua vez, tudo o que o exército sionista já havia feito antes, e que a extrema direita sionista aproveitasse a oportunidade desse trauma para começar a implementar seu plano de alcançar o ‘Grande Israel’, apagando o que resta da Palestina e aniquilando seu povo por meio do extermínio e do deslocamento, a começar pela Faixa de Gaza”.

Como vimos no trecho anterior, a operação de limpeza étnica na Palestina nunca cessou, mas vinha se desenvolvendo. Nesse sentido, a mudança de governo não alterou a situação em grande coisa. O sucesso da operação é demonstrativo ainda do rigor e do tempo dedicado a seu planejamento, em outras palavras, uma reação era esperada. E vemos que assim o é pelo desenvolvimento da situação: “Israel” falha em ocupar a Faixa de Gaza. As forças sionistas se deparam com uma guerrilha muito bem organizada.

Em outros termos, o massacre era esperado. Podemos então comparar outro aspecto para comprovar o fato: em “Israel”, os protestos contra Netanyahu se multiplicam, mas não há um único, seja na Cisjordânia ou na Faixa de Gaza, contra o Hamas. A considerar o fato de que pelo menos 157% da população na Faixa de Gaza já perdeu alguém próximo, podemos concluir que, de uma maneira ou de outra, a coisa foi organizada. De outro modo, a resistência armada seria inviável. Mais, a ofensiva se tratou de uma missão quase suicida. Se a situação chegou neste ponto, é porque as condições já estavam no fundo do poço.

A acusação do autor, Gilbert Achcar, contra a extrema direita sionista, dos planos para a “Grande Israel”, ainda parece encobrir um setor da política sionista: os sionistas que (supostamente) não são de extrema direita. Algo curioso.

“O segundo erro de cálculo consistiu em tomar os desejos como realidades e na expectativa de milagres divinos, seguindo a lógica religiosa que caracteriza o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e a corrente política a que pertence. Isso se traduziu na crença de que a Operação Dilúvio de Al-Aqsa desencadearia uma guerra geral contra o Estado de Israel, na qual todos os palestinos, onde quer que estejam, bem como todos os árabes e muçulmanos, participariam. A expressão mais clara dessa ilusão está na mensagem de áudio transmitida na manhã da Operação por Muhammad al-Deif, comandante-em-chefe das Brigadas Izz ud-Din al-Qassam, o braço armado do Hamas.”

Gilbert Achcar toma a ação do Hamas como uma falha. Uma incapacidade em unir todos os povos árabes de um único sopro, e esmagar com um só golpe unitário a ocupação sionista, um plano de tipo religioso. Ora, logicamente essa conclusão não é factível, e Achcar demonstra sua inexperiência política, somada à ignorância e ao mais puro preconceito, ao tomar as declarações pela forma com que se apresentam.

O Hamas, na operação, teve pelo menos três vitórias:

1 – A desmoralização total das forças armadas sionistas.

2 – Uma guinada total da opinião política mundial, que já vinha sendo organizada pelas diversas atrocidades cotidianas, a respeito de “Israel”.

3 – “Israel” disse que mataria todo mundo, que extinguiria o Hamas, mas não consegue entrar em Gaza, não conseguem prevalecer no combate homem a homem.

“A triste verdade é que chegamos a uma situação em que a nossa melhor esperança agora é que a resistência armada e a pressão internacional consigam pôr termo à agressão e ao genocídio e impedir o Estado sionista de tomar toda a Faixa de Gaza, como prelúdio para tomar o resto do território palestino.”

Assim conclui nosso inexperiente, preconceituoso e profundamente ignorante articulista, republicado pelo Esquerda Online. Tiremos uma conclusão com um mínimo embasamento, que não esteja submissa aos planos sionistas e à capitulação da maior parte dos governos árabes.

O Hamas não conseguiu unir toda a região para “imediatamente esmagar ‘Israel'”, isso é fato. No entanto, outro fato é: os povos do Oriente Médio estão num verdadeiro levante de solidariedade, com manifestações e protestos gigantescos. A situação na região é incendiária, como exemplifica a postura do Iêmen.

Os governos, cujas posturas se assemelham à de Gilbert Achcar, estão, em sua maioria, ameaçados de cair pelo ímpeto de solidariedade dos povos árabes, os quais, inevitavelmente, ingressarão na guerra.

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