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Clima de tranquilidade

Devemos estar otimistas?

Com Bolsonaro inelegível, e com a aprovação da Reforma Tributária, a burguesia procura pintar um quadro de tranquilidade em relação ao governo Lula.

Desde que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi declarado inelegível e, em especial, desde a aprovação da Reforma Tributária, a imprensa burguesa parece ter dado uma trégua temporária ao governo Lula.

Em coluna publicada hoje (13) n’o Globo, sob o título “O bom cenário e suas perspectivas”, Mirian Leitão elogia o crescimento da economia, apontando uma virada de humor por parte dos capitalistas:

“A pequena deflação de junho não surpreendeu, mas consolida outro cenário para a conjuntura, totalmente diferente de há um ano, com uma série de efeitos positivos e melhora nas perspectivas da economia. É em parte resultado da política monetária, mas não só. Tem também os vários acertos da política econômica que, aliás, provocaram uma reviravolta na perspectiva do mercado financeiro. […] No topo da pirâmide, a Faria Lima começa a olhar o governo e, principalmente, o ministro Fernando Haddad com outros olhos. A virada de humor captada pela Genial/Quaest, que divulguei ontem cedo no meu blog, é impressionante.”

O Estadão, por sua vez, diz que a inelegibilidade Bolsonaro reequilibra o cenário político nacional. Ademais disto, elogia o governo por estar cedendo mais e mais para o centrão, dizendo ser assim que o jogo funciona:

“A declaração de inelegibilidade de Jair Bolsonaro pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se deu há duas semanas, mas já produziu consequências capazes de reequilibrar o cenário político nacional. […] Centrão é sinônimo de governismo: não é bom nem ruim, mas é aquilo que o presidente da República quiser que seja. A maioria dos integrantes do grupo almeja emendas para levar recursos para suas regiões e divisão de poder com o Executivo por meio de cargos. Para coibir ilícitos, basta – ou deveria bastar – fiscalizar o uso dos recursos e a atuação dos agentes. É muito positivo quando as bases da negociação entre governo e Congresso se dão em torno do apoio a projetos de interesse da sociedade, como a reforma tributária.

Vê-se, portanto, a imprensa burguesa pintando um quadro de tranquilidade.

Por um lado, a extrema-direita teria sido derrotada de uma vez por todas com a decisão do TSE.

Por outro, a forma como se deu a aprovação da Reforma Tributária, ou seja, um tremendo toma lá dá cá entre o governo Lula e o centrão, em que bilhões de reais em emendas parlamentares foram liberadas (e novos cargos dentro do governo negociados), fez a burguesia avaliar que o “lado ideológico”, esquerdista do governo Lula estaria sendo deixado de lado, dando-se cada vez mais lugar a um nível de pragmatismo desejado pela burguesia.

Em suma, o clima de tranquilidade que se vê na imprensa golpista resulta de uma aparente avaliação de que o imperialismo e a burguesia brasileira estariam conseguindo conter (e mesmo reverter) a polarização política existente no país.

Contudo, não nos deixemos enganar. Essa tranquilidade é apenas uma aparência. Não corresponde à essência da atual situação política.

Por mais que o imperialismo deseje evitar a polarização (ou seja, o acirramento da luta de classes), a burguesia e seus políticos de confiança sabem que isto não é possível de ser feito no presente momento. Por conseguinte, sabem que a inelegibilidade de Bolsonaro não é suficiente para colocar a extrema-direita de volta no canil, onde ela estava antes do golpe de 2016. Igualmente, sabem das intenções nacionalistas de Lula, e que o presidente está cedendo terreno tão somente com a intenção de, eventualmente, conseguir espaço para implementar seu programa de desenvolvimento nacional.

Nesse sentido, o cenário de tranquilidade pintado na imprensa burguesa contribui para mascarar uma situação de instabilidade.

Contudo, deve-se fazer a seguinte pergunta: se a burguesia não acredita realmente que a inelegibilidade de Bolsonaro conteve a extrema-direita de forma definitiva; e o governo Lula não está, de fato, em suas boas graças, por que razão fazer propaganda nesse sentido?

Certamente, o grande capital, imperialista e nacional, está aprontado algo.

O que seria? O imperialismo está trabalhando para esconder o fato de que já existe uma ofensiva golpista em curso contra Lula, de forma a abaixar a guarda do presidente, evitando que ele recorra à mobilização daqueles que constituem sua força política: a classe trabalhadora.

Para isto, fazem a propaganda de que a inelegibilidade de Bolsonaro foi uma grande vitória da democracia contra o fascismo. E que agora, com Bolsonaro supostamente fora do jogo político, o país poderia voltar aos eixos. Fazem a propaganda de que a extrema-direita teria sido derrotada definitivamente, acabando com a polarização. Assim, evita que Lula se mova em direção à esquerda, recorrendo à mobilização dos trabalhadores. Faz com o que governo deixe seus flancos desguarnecidos. Afinal, se o fascismo foi derrotado, e a democracia triunfou, qual a necessidade de se radicalizar?

Igualmente, os elogios de que a economia está melhorando; e as pesquisas apontando que o “mercado” (i.e, os capitalistas) está vendo o governo com bons olhos igualmente contribuem para que o governo se desguarneça perante eventuais ataques golpistas. Por quê? Ora, se a economia está melhorando de forma generalizada, no sentido de melhorar a vida da população, Lula não precisaria se preocupar com eventual perda de popularidade perante o povo, algo que, se ocorresse, o deixaria mais enfraquecido perante os golpistas. Da mesma forma, se o “mercado” passou a avaliar o governo de forma positiva, Lula também não precisaria se preocupar com um golpe de Estado realizado pelo imperialismo (o dito “mercado”).

Assim, por trás do clima de tranquilidade que se vê na imprensa pró-imperialista está a tentativa de deixar Lula desguarnecido contra eventual ofensiva golpista.

Ademais, disto, o clima de otimismo em relação à inelegibilidade de Bolsonaro significa que os planos para que o imperialismo consiga emplacar a 3ª via, ou seja, um candidato de sua confiança em 2026, estão avançando e podem dar certo.

Já o otimismo referente à relação do governo Lula com o centrão se dá em razão de que o presidente está sempre tendo que ceder terreno para que consiga aprovar normas que não muda em nada a essência da conjutura política brasileira. Normas que, enquanto resultam em grandes ganhos para o capital, no máximo contribuem para promover apenas uma leve melhoria na situação de vida da população, de forma a servir de amortecedor, adiando eventual revolta popular.

Em suma, a relação do governo com o centrão mostra o quão enfraquecido e isolado Lula está, o que é algo positivo para a burguesia.

Nesse sentido se dá a avaliação positiva do “mercado” (capitalistas). Estando o governo enfraquecido, sem qualquer força institucional, o caminho fica livre para a burguesia aprovar leis conforme seus desejos.  O que, no plano imediato, resulta em significativos ganhos financeiros. Já no plano mediato, tende a enfraquecer o governo perante a população (afinal, quando o capital ganha, o povo perde). E, enfraquecido perante a população, o imperialismo fica com a faca e o queijo na mão para desatar um golpe de Estado.

Conclui-se, portanto, que não devemos ficar otimistas.

Enquanto que a cúpula do Partido dos Trabalhadores comemora efusivamente a aprovação de leis medíocres (arcabouço fiscal e reforma tributária) e o ataque aos direitos democráticos da população (inelegibilidade Bolsonaro) como se fossem uma grande vitória popular, o golpismo avança.

Através de aproximações sucessivas, o centrão toma de assalto o governo. O imperialismo e a burguesia nacional conseguem com que a aprovação das leis se dê conforme seus ditames. Os direitos democráticos da população são progressivamente revogados. Fazem propaganda para mascar essa realidade sob uma ótica positiva. Com isto, o governo Lula vai ficando mais enfraquecido e, ao mesmo tempo, desguarnecido da ofensiva golpista que se avizinha.

A esquerda não pode se deixar enganar por esse clima de tranquilidade pintado pela burguesia. Há uma tempestade no horizonte. Lula não está conseguindo implementar seu programa nacionalista. A política institucional, do toma lá da cá, serve tão somente para enfraquecer seu governo. Sua única alternativa para que não seja vítima de eventual golpe de Estado é recorrer à mobilização de massas dos trabalhadores.

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