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Ucrânia

Depois do “sionismo de esquerda”, o “nazismo progressista”?

Alinhamento de Kiev ao imperialismo vem de um golpe de Estado, não de um "desejo" de sua população

Após a bem-sucedida operação “Dilúvio de Al Aqsa”, desencadeada pelo Hamas e demais grupos guerrilheiros da Palestina em 7 de outubro, figuras que se apresentavam como “sionistas de esquerda” nos ensinaram que era possível “ser de esquerda” e, ao mesmo tempo, defender o Estado de Israel. O debate esclareceu que o tal “sionismo de esquerda” não é outra coisa que não uma infiltração na esquerda: o sionismo é, por definição, uma ideologia e um movimento tipicamente nazista.

Agora, vemos surgir, talvez inspirado na mesma fábula do “sionista de esquerda”, a ficção grotesca do “nazista ucraniano de esquerda”. Isto é, de uma figura que se diz “de esquerda”, mas que é defensor não apenas “do povo ucraniano” em abstrato, mas propriamente do regime de Kiev. Aqui nos lançaremos, portanto, na tarefa de demonstrar que o “nazismo ucraniano de esquerda” é… nazismo!

O autor da nova proeza é Murray Smith, fundador do Scottish Socialist Party (SSP). O texto no qual a apresenta, European Left leaders on Ukraine: Not even a hint of solidarity, foi traduzido e publicado pela Revista Movimento, órgão editado pelo Movimento de Esquerda Socialista (MES), corrente interna do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Segundo Smith, os ucranianos “não são apenas vítimas, nem são simplesmente manipulados pelos malvados imperialistas ocidentais. O povo ucraniano sabe o que quer e está disposto a lutar por isso”. Se fosse assim, seríamos obrigados a concluir que os ucranianos – isto é, esmagadora maioria do povo daquele país – seria favorável ao ingresso da Ucrânia na OTAN e a aproximação com a União Europeia. E é justamente a essa posição que chegou Smith: “Eles escolheram se afastar da Rússia e se aproximar da Europa. Eles fizeram essa escolha no Maidan, e confirmaram essa escolha nas eleições de 2014 e 2019 [grifo nosso]”.

Das duas, uma: ou Smith considera que o povo ucraniano é o culpado pelo regime atual, pois teria sido “sua escolha”, o que demonstraria, no mínimo, uma completa ignorância do que acontece no Leste Europeu, ou o escocês, na verdade, está defendendo o regime, apresentando a situação como produto de uma “escolha do povo” para torná-la legítima. A primeira posição seria de um esquerdista pequeno-burguês esnobe, que culpa “o povo” pelo fracasso de suas direções reformistas. A segunda, por sua vez, seria a de um defensor ferrenho do regime nazista que hoje existe em Kiev.

O escocês não dá muito tempo para a dúvida. Logo após dizer que o povo “escolheu se afastar da Rússia”, ele nos esclarece que ele o fez porque essa era a decisão correta a ser tomada:

“Antes de 2014, havia uma atitude amplamente positiva em relação à UE, mas não uma maioria clara. Nunca houve uma maioria a favor da OTAN antes de 2014. Depois disso, houve uma maioria a favor tanto da UE quanto da OTAN. E a maioria cresceu e se tornou massiva após 24 de fevereiro de 2022. A razão pode ser resumida em duas palavras: Putin, Rússia”.

O fundador do Partido Socialista Escocês, portanto, ultrapassou a posição de defender o povo ucraniano da “invasão russa” – que já seria uma posição pró-imperialista – e partiu para uma defesa aberta de tudo o que aconteceu naquele país desde 2014. Quem leva a sério o que Murray Smith diz, terminará acreditando que o chamado Maidan foi um levante popular contra Vladimir Putin!

Nada disso. O Maidan foi um golpe de Estado contra o governo de Viktor Yanukovych, que acabou sendo derrubado. E o golpe, por sua vez, não foi produto de uma revolta contra a Rússia, mas sim uma conspiração dos Estados Unidos para derrubar o governo. Há farta documentação demonstrando, por exemplo, que a Ucrânia estava tomada por Organizações Não Governamentais (ONGs), que, por sua vez, tiveram um papel determinante nas manifestações que serviram de cobertura para o golpe.

Não há como negar, também, que o golpe de Estado só foi possível devido ao uso de milícias fascistas, que guardam relação direta com o nazismo. Provavelmente o caso mais emblemático do golpe foi o famoso incêndio da Casa dos Sindicatos, em Odessa, quando mais de 40 pessoas foram mortas. Nessas circunstâncias, em que o governo é acuado pela mobilização de ONGs teleguiadas pelos Estados Unidos e em que os trabalhadores são assassinados brutalmente por milícias fascistas, não há como falar em “escolha”.

As eleições, por seu turno, são expressão do mesmo problema. Como eleições que aconteceram em meio a um regime golpista podem ser consideradas a expressão da “escolha” de um povo? Basta ver o caso do Brasil: com o golpe de 2016, a burguesia assumiu um controle muito maior da máquina estatal, de tal modo que conseguiu impedir que a maior liderança popular do País, Lula, fosse eleito em 2018. O que não teria acontecido na Ucrânia, onde sindicalistas foram assassinados por milícias fascistas em plena luz-do-dia? O que não terá acontecido na Ucrânia, onde foi aprovada uma lei proibindo a divulgação do comunismo? O que não terá acontecido em um país que, entre 2014 e 2022, assassinou 15 mil cidadãos do Donbass como resultado de sua política de repressão fascista?

Murray Smith não defende, portanto, “a escolha do povo ucraniano”, uma vez que o povo nunca escolheu viver sob um regime nazista. O que ele faz, no final das contas, é falar em nome do povo para defender o regime nazista de Kiev, assim como fazem os “sionistas de esquerda”.

Em sua defesa apaixonada do regime de Kiev, o escocês demonstra mais fé em Vladimir Zelensky que Joe Biden e o próprio presidente ucraniano. Enquanto a imprensa norte-americana anuncia, a toda semana, que a Casa Branca estaria pressionando Zelensky para um acordo com o governo russo, Smith ainda acredita que a Ucrânia possa vencer a guerra! Conta-nos ele:

“Em Odesa, Lviv e outros lugares, houve manifestações exigindo que o dinheiro destinado pelos conselhos municipais para diversos fins seja usado para apoiar o esforço de guerra. Em Kiev, manifestações contra a corrupção na administração municipal tiveram o mesmo objetivo. Essas não são manifestações contra a guerra ou em protesto contra o uso da Ucrânia como intermediadora do imperialismo ocidental. São demandas para a guerra ser conduzida com o máximo de recursos disponíveis”.

A propaganda que Smith faz em torno do esforço ucraniano de guerra só tem um problema: ela é o oposto da realidade. A sociedade ucraniana está se desintegrando. Especialistas militares mais sérios vêm dizendo que a Ucrânia se tornará um país de viúvas e órfãos, o que causará um impacto gigantesco em sua economia. Ninguém considera, por outro lado, que a Rússia vá prescindir do território conquistado, o que é, na verdade, uma necessidade para a sua própria segurança.

Não existe apoio popular à Ucrânia na guerra – por parte dos ucranianos, há apenas o clamor para a guerra acabar. Tanto é assim que os esquemas de corrupção a que Smith se refere são, em grande medida, pagamentos de propina de ucranianos que não querem lutar no front. A única coisa que sobrou são os ideólogos do regime de Kiev mais desorientados, como Smith, que ainda não foram avisados que o imperialismo largará a mão de Zelensky.

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