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Antônio Carlos Silva

Professor de Matemática. Fundador do PCO, integra a sua Executiva Nacional. Atuou na fundação do Coletivo de Negros João Cândido. Liderou a criação e coordenação dos Comitês de Luta contra o golpe e pela liberdade de Lula. Secretário Sindical Nacional do PCO, coordena a Corrente Sindical Nacional Causa Operária, da CUT.

Coluna

Contra o golpe, esquerda argentina precisa levantar o fora Milei

É preciso superar a política de conciliação com os golpistas e o imperialismo, bem como a ilusão no decadente regime político em crise e mobiliar pela derrubada do governo

No último dia 27, dezenas de milhares de argentinos realizaram o terceiro dia de manifestações contra o pacote de choque econômico de Javier Milei, em menos de 20 depois da sua posse na presidência.

Milei encaminhou ao Congresso um amplo pacote de medidas denominado “Lei de Bases e Pontos para Liberdade dos Argentinos”, que contém 664 artigos e prevê estado de emergência até 31 de dezembro de 2025, prorrogáveis por dois anos; buscando “legalizar” o golpe de Estado em curso contra o povo argentino.

O pacote ditatorial prevê mudanças drásticas em temas econômicos, financeiros, fiscais, de seguridade social, segurança, defesa, tarifas, energia, saúde, administrativos e sociais, bem como o fim das eleições primárias, alterações na forma de eleger deputados, nova forma de financiar partidos políticos, aumento da pena para manifestantes contra o governo e mais medidas de destruição da economia argentina em favor do imperialismo.

Se for imposto, com apoio da ampla frente da burguesia que vem sustentando o governo, liquidará todos os direitos sociais do povo argentino e vai levar o país a uma brutal ditadura.

A esquerda parlamentar argentina e a burocracia sindical adotaram a inútil política de pressionar o Judiciário para declarar a inconstitucionalidade do decreto de Milei, um caminho que, lá como aqui, serve para fortalecer o papel repressor da Justiça e conter uma efetiva mobilização contra o governo.

Nos primeiros atos convocados pela esquerda, foram apresentadas reivindicações econômicas, como se fosse possível negociar com o governo entreguista (que propõe que se permita a entrada de tropas estrangeiras no país, inclusive, sem a autorização do Congresso Nacional), fascista (que ameaça colocar na cadeia quem se manifeste e atacara duramente as organizações dos trabalhadores) e antinacional (que quer liquidar a economia nacional, praticando tudo e até entregando as terras argentinas para os gringos) uma pauta dos trabalhadores da crise, quando este está anunciando abertamente que veio para reprimir e expropriar profundamente os trabalhadores, valendo-se dos métodos mais brutais das ditaduras, que os argentinos conhecem bem.

No dia seguinte aos dos protestos (28), o Partido Justicialista (peronismo) criticou a “ley ómnibus” que Javier Milei enviou ao Congresso reclamando apenas que “o presidente quer se apropriar dos poderes do Poder Legislativo, pisoteando a Constituição Nacional e a divisão de poderes“.

Posições semelhantes foram adotadas pela esquerda parlamentar, inclusive os que se consideram revolucionários, que se coloca na perspectiva de questionar a legalidade das medidas no reacionário poder Judiciário e “enfrentá-las” no campo de derrotas do parlamento, onde Milei e os golpistas da direita tradicional que já integram seu governo devem contar com apoio de amplas alas reacionárias do peronismo. Também apoiaram as limitadas propostas “de luta” da adormecida burocracia sindical que, em meio a um movimento crescente de revolta e diante da urgência e gravidade da situação, resolveu entrar de férias e chamar uma paralisação nacional apenas para o dia  24 de janeiro, quando há – inclusive – o risco de que os setores da burguesia golpista que apoiam as medidas decretem férias coletivas diante da crise e para esvaziar a mobilização.

Por todos os lados, é visível que as atuais direções do movimento operário e popular mantêm a linha que levou à crise atual, a derrota nas eleições e ao governo golpista de Milei: a tentativa de conciliação com a direita e com o imperialismo por parte dos covardes setores do “nacionalismo” peronista e a perspectiva de “enfrentamento” meramente eleitoral que domina a maioria da esquerda argentina há anos.

Para a imensa maioria do povo argentino, não há outra alternativa real à política golpista e ditatorial que não seja a luta contra o golpe, pela derrubada de Milei e de toda a direita golpista que o acompanha.

É preciso denunciar o golpe, superar a política de conciliação com os golpistas e o imperialismo, bem como a ilusão nas decadentes instituições do regime político em crise, levantar o Fora Milei e organizar uma ampla mobilização dos trabalhadores e das suas organizações para derrubar o governo (com base na própria experiência do povo argentino, do argentinazo, de 2001, e nas tendências de luta contra o imperialismo que se expressam na Palestina, na África e por diversas regiões do planeta), o que deve ser entendido como uma questão de vida ou morte para a classe trabalhadora argentina.

A situação no país vizinho deve servir também de alerta para a esquerda brasileira, sobre para onde conduz a política de frente ampla com a burguesia, de capitulação diante dos golpistas e do imperialismo e o eleitoralismo e a ilusão no regime pseudo democrático da esquerda pequeno burguesa.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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