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Argentina

Com que programa sair às ruas contra Milei?

Não basta sair às ruas com reivindicações econômicas, é preciso colocar em perspectiva a derrubada do governo

Nesta quarta-feira, 20 de dezembro, ocorre a primeira grande manifestação do povo argentino em protesto contra as medidas anunciadas por seu novo presidente, Javier Milei. O dia de mobilização, que contará com greves pelo país, está sendo apoiado e convocado pelas principais organizações argentinas – não só as que integram o peronismo, mas também as organizações que se declaram “revolucionárias”.

Uma dessas organizações é o Partido Obrero (PO), agremiação que se reivindica “trotskista”. Segundo Gabriel Solano, dirigente da organização, as medidas tomadas por Milei seriam “claramente um ‘Rodrigazo’, com uma desvalorização de 54% do peso, tarifas sem limite, fim de obras públicas e rescisão de contratos estatais que resultarão em milhares de demissões no setor privado e público”. Diante disso, o dirigente argentino propõe que as centrais sindicais convoquem “urgentemente uma greve nacional ativa”, com “reabertura imediata de negociações salariais e aumentos de emergência para todos os assalariados – mínimo de $500.000 -, aposentados e programas sociais”.

Por mais miserável que esteja a situação econômica da população argentina, iniciar uma campanha, neste momento, para o aumento salarial é um sinal de total incompreensão da situação em que o país se encontra. Ao lançar tal proposta, o PO está considerando, implicitamente, que o governo Milei seria um governo “normal”, em que as reivindicações dos trabalhadores serão atendidas caso haja uma pressão neste sentido. O fato é, no entanto, que este é um governo de guerra contra a população, conforme o próprio Milei fez questão de deixar claro logo em sua posse:

“Adicionalmente, a conclusão é que não há alternativa ao ajuste. Não há alternativa ao choque. Naturalmente, haverá um impacto negativo no nível de atividade, de emprego, nos salários reais, no número de pobres e indigentes.”

O problema dos trabalhadores argentinos, portanto, é muito maior que estar sob uma situação salarial muito negativa. O problema é que o governo que acaba de tomar posse tem como orientação arrancar a pele da população para engordar ainda mais a poupança dos grandes capitalistas, que sequer residem na Argentina. Não se trata, portanto, de enfrentar o governo com uma proposta salarial, mas sim de afirmar, de imediato, que o governo Milei precisa ser derrubado – caso contrário, os trabalhadores sofrerão uma série de ataques sem precedentes.

Com abordagem semelhante ao Partido Obrero, sua dissidência, Política Obrera, apresenta a vitória eleitoral de Javeir Milei como um “golpe de Estado econômico”. De fato, a fórmula apresenta de maneira um pouco mais precisa o que está acontecendo no país sul-americano. Não seria apenas um conjunto de medidas reacionárias propostas por Milei, mas sim uma imposição, por parte dos grandes capitalistas, de um programa completo para arrasar a economia argentina.

Assim disse Marcelo Ramal, dirigente da Política Obrera:

“Milei e Caputo consumaram um golpe de Estado econômico contra trabalhadores e aposentados, que se pretende justificar com um argumento peculiar: em nome de querer evitar uma ‘hiperinflação’, o próprio governo a desencadeia, com uma desvalorização de 110% e tarifas em massa. O ataque é complementado com a eliminação da mobilidade das aposentadorias, que é a condição imposta pelo FMI a Caputo para reconstituir o acordo entre a Argentina e a organização.”

O problema de considerar o governo Milei como apenas um “golpe de Estado econômico” é que ele ignora outro aspecto central do golpe de Estado: a repressão. O governo Milei não apenas servirá de fachada para um conjunto de medidas econômicas alheias aos interesses do povo argentino, como, inevitavelmente, será um governo de força contra a sua população. E por motivos óbvios: para levar adiante um programa furiosamente neoliberal como está propondo, Milei precisará fazer uso da força.

A relação entre uma política neoliberal ferrenha e a repressão pôde ser vista, por exemplo, durante o governo de Michel Temer, no Brasil. Embora Temer nunca se apresentasse como um grande saudosista da ditadura militar, como o fazia Jair Bolsonaro, o presidente golpista lançou mão de uma série de medidas que estabeleceram um Estado bastante repressivo. Em maio de 2017, quando os trabalhadores organizaram uma grande manifestação em Brasília contra as reformas da Previdência e trabalhista, Temer enviou as Forças Armadas para reprimir duramente o movimento. No ano seguinte, diante da greve dos caminhoneiros, Temer solicitou o apoio das Forças Armadas. Naquele momento, os militares já estavam tão à vontade no regime, que alguns setores chegaram a cogitar dar um golpe militar no País.

O que Milei pretende fazer na Argentina é muito mais avassalador que Temer fez no Brasil, em um país em que há muito menos “amortecedores” na economia. A situação da Argentina beira a crise humanitária. E, por isso, a própria ministra da Segurança Pública da Argentina, Patricia Bullrich, já anunciou que “só quem não vai receber pelo plano é quem vai à passeata e bloqueia a rua: quem bloqueia não recebe”.

Diante de um golpe de Estado com esse conteúdo, que tende a evoluir para uma ditadura com características fascistas, é preciso que a esquerda denuncie para onde vai o regime e prepare o movimento operário para a derrubada imediata do governo. É preciso explicar aos trabalhadores que há uma guerra sendo travada, e ela só poderá ser vitoriosa se o governo vier abaixo. Do contrário, as consequências serão nefastas para os povos de todo o subcontinente.

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