Alberto Cantalice, da direção nacional do PT, tem se esforçado em defender o sionismo, ainda que disfarçadamente. O político entrou em embate com seu correligionário, o jornalista Breno Altman, que está sendo perseguido por defender a resistência palestina.
Para Cantalice, o fato um companheiro de partido estar sendo perseguido pela direita tem bem meno importância do que garantir sua posição acusando a resistência palestina, em particular o Hamas, de ser terrorista, e defendendo o Estado de Israel. Justificar as mentiras do sionismo, ainda que com um disfarce esquerdista, é mais importante do que denunciar a perseguição política e enfrentar a direita.
As justificativas, que Cantalice apresenta, são as mais absurdas. Vejamos o que ele afirma em um dos seus tuítes:
“1°- Defendo os dois Estados;
2°-Não interpreto o ataque do Hamas como resistência, foi terrorismo;
3°-O maior beneficiário do ataque do Hamas foi Netanyahu e a extrema-direita que sempre quis expulsar os Palestinos;
4°-Defendo o cessar-fogo e a devolução dos reféns de ambos os lados;
5°-Como humanista, não acho que as guerras são soluções para nada.
6°-Como Lula, penso que a solução é política e passa por preservar vidas inocentes.
7°-Pelo que li e tenho lido os dois povos são originários da mesma região. Tem que haver uma divisão efetiva do território.
8°-A comunidade internacional tem que contribuir financeiramente para a reconstrução de Gaza.
9°-Israel tem que parar a colonização na Cisjordânia que tem que ser Palestina;
10°-Esse conflito que escalou para o genocídio cujas vítimas principais são crianças, mulheres e idosos trouxe embutido duas pragas: a islamofobia e o antissemitismo.”
Minha posição sobre a guerra Israel-Hamas é muito clara.
1°- Defendo os dois Estados;
2°-Não interpreto o ataque do Hamas como resistência, foi terrorismo;
3°-O maior beneficiário do ataque do Hamas foi Netanyahu e a extrema-direita que sempre quis expulsar os Palestinos;…— Alberto Cantalice (@albertocantalic) December 6, 2023
Embora confessa no ponto 5 ser um “humanista” contra as guerras, Cantalice tenta usar o marxismo para justificar toda a sua política absurda. A defesa de dois estado, por exemplo, é uma política que não tem nada a ver com uma posição revolucionária, portanto, marxista. O seu ponto só pode ser argumentado porque ele crê no ponto 7, “os dois povos são originários da mesma região”, que é uma falsificação completa.
Na realidade, nem precisa ser marxista para saber que o sionismo, ideologia de tipo fascista, invadiu as terras dos palestinos e, cometendo uma sequência monstruosa de massacres, expulsou-os de seu país. Não tem nada a ver com “povos originários da mesma região”. Os judeus que viviam lá milhares de anos atrás não são os mesmos judeus que vieram da Europa para fundar o Estado de Israel. Os palestinos, esses sim são donos da terra, vivem lá há séculos.
Dito isso, a ideia de dois estados é uma política para manter a coisa como está. O Estado de “Israel” fortemente armado, inclusive com armas nucleares, apoiado por todos os países imperialistas, nunca permitirá um Estado palestino pelo simples fato de que essa convivência é incompatível com a ideologia sionista, cujo fundamento é a superioridade racial dos judeus contra os palestinos.
Qualquer marxista deveria levantar a palavra de ordem de um Estado laico e multinacional. Esse é um princípio básico. O Estado de Israel é um estado judeu, ou seja, religioso, e segregacionista. Falar em dois estados nesse caso não tem nada a ver co marxismo porque significa falar na manutenção desse Estado teocrático.
E vejam bem, “Israel” não é uma ditadura teocrática porque os habitantes ali, por uma série de questões históricas e culturais, assim escolheram – o que seria ruim. “Israel” é pior que isso, é um Estado teocrático artificial montado pela intervenção imperialista na região, por um povo que não pertence àquelas terras.
Dizer que a ação do Hamas em 7 de outubro foi terrorismo é outra colocação absurda. É vergonhoso que um dirigente político da esquerda repita as calúnias faladas por toda a imprensa de direita, incluindo aí a Rede Globo e os bolsonaristas. É mais vergonhoso ainda porque essas mentiras estão vindo à tona e está cada vez mais claro que a ação do Hamas não teve nada de terrorismo.
Cantalice se diz marxista, mas se vivesse na época em que o Movimento de Fidel e Che Guevara estava na Sierra Maestra, com certeza diria: “são terroristas, seus atos favorecem a ditadura de Batista”.
O “marxista” Cantalice, é na verdade um “humanista”. Mas não um humanista que se preocupa com os oprimidos, mas com um paz abstrata, a paz dos cemitérios para os palestinos. A única posição pacifista e humanista séria nesse caso é apoiar incondicionalmente a resistência palestina, caso contrário, é hipocrisia, é envergonhadamente aplaudir o massacre promovido por Israel. O pacifismo de Cantalice é o mesmo que condenar os dois lados em uma briga entre um marmanjo armado com uma metralhadora e uma criança “armada” com uma pedra.
Por fim, afirmar que Netanyahu e a extrema-direita foram os principais beneficiários da ação do Hamas é não entender nada de política. Qualquer pessoa com um mínimo conhecimento de política vê a crise total do regime israelense e do governo atual. A situação é desesperadora para o governo Netanyahu, que não consegue combater a resistência palestina e foi obrigado, inclusive, a negociar com os “terroristas”.
As informações passadas por Cantalice são tão fora da realidade que fica a pergunta: ou ele é uma pessoa muito ingênua e ignorante, ou ele está agindo de maneira consciente para defender o sionismo, dando um ar pseudo-esquerdista para essa defesa. Haja vista que Cantalice é membro da direção do PT e um política antigo, a segunda opção parece bem mais plausível.