No dia 15 de dezembro de 2022, a líder espiritual nhandesy Guarani Estela Vera foi brutalmente assassinada após ser atingida por vários disparos de arma de fogo. O crime aconteceu na região de Tekoha Yvy Katu, município de Japorã, no Mato Grosso do Sul.
Segundo nota divulgada pela Assembleia Geral do povo Kaiowá e publicada no sítio Jornalistas Livres: “No dia 15/12/2022, às 15h, um grupo de assassinos armados atacaram a casa e as famílias da rezadora Estela. Os assassinos utilizaram armas de fogo de calibre grosso, atacaram e dispararam vários tiros em direção às crianças e a rezadora Estela.”
Ainda, de acordo com o relatado na nota, a motivação para o ataque está relacionada ao fato da terra Yvy Katu ser um local de retomada indígena em um processo que ocorreu entre os anos de 2003 a 2013. A partir de então, essa comunidade vem sendo alvo de constantes ameaças e ataques por parte de pistoleiros e agentes de repressão do estado, que gradativamente têm ocupado as terras dos guarani-kaiwoás, a mando dos latifundiários da região. O assassinato da liderança Estela Vera já é o quinto na região e ao que tudo indica outros se seguirão a este.
Lula, o latifúndio e o Identitarismo
Na cerimônia de posse, no dia 1 de janeiro, entre outros pontos, o então empossado presidente Lula afirmou que lutará em defesa dos povos historicamente oprimidos, inclusive os indígenas.
Contudo, como se sabe, embora diversos setores da burguesia busquem encobrir a realidade, e, como já foi denunciado em diversas ocasiões por esse Diário, o que acontece de fato é que o estado do Mato Grosso do Sul, sob o domínio de poderosos latifundiários, que inclusive se encontram entranhados no desenrolar da política nacional, vem realizando um verdadeiro genocídio contra as comunidades indígenas do estado. Vale ressaltar também que estes mesmos indígenas vivem, quando não são alvos de ataques de pistoleiros ou mesmo de policiais fazendo um “extra”, da forma mais paupérrima possível, em condições insalubres, morando muitas vezes em barracões de lona e tendo de conviver com a fome e com a falta de recursos básicos para sua sobrevivência.
O que demonstra que o indígena, apesar de toda sanha dos identitários que em sua ideologia nefasta buscam pintar o índio como uma figura mitológica, o defensor da floresta, o guerreiro, com o intuito de negar sua realidade material seguindo os ditames do imperialismo, está mais vulnerável, desprotegido e entregue a própria sorte do que nunca.
Além disso, fica claro, levando em conta o assassinato de Estela Vera, que não será com demagogia barata ou entregando ministérios para os indentitários que as comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul, por exemplo, conseguirão se desenvolver e se verem livres de tamanha truculência. Ainda mais que este estado é comandado há décadas por latifundiários do calibre de Simone Tebet, a queridinha da chamada Terceira Via, que ocupa atualmente a pasta do Ministério do Planejamento e Orçamento no governo Lula. E não podemos nos esquecer que o atual governador do estado é Eduardo Riedel, um golpista e já conhecido financiador dessa mesma pistolagem que tem ceifado a vida de tantos guarani-kaiowás. Em resumo, Lula conseguiu vencer, mas o latifúndio não dá a mínima.
Pela necessidade de comitês de autodefesa
Como mencionado anteriormente, mais do que demagogia que na prática não ajuda ninguém, é preciso agir concretamente sobre a situação e uma dessas ações é lutar pelo fim da política de domínio e morte do grande latifúndio e também pela criação e o fortalecimento de comitês de autodefesa com o intuito de proteger os indígenas dos constantes ataques de pistoleiros e das demais forças repressivas estatais.
A discussão sobre a autodefesa como alternativa de luta se faz urgente, porque acreditar na polícia para combater a própria polícia, no estado ou na Justiça na resolução da questão aqui apresentada é uma completa ingenuidade, já que essas mesmas instituições trabalham única e exclusivamente para atender aos interesses da burguesia que os financia e perpetua.
É necessário ainda que a esquerda abandone esse conto de fadas de quinta categoria orquestrado pelo identitarismo e juntamente com a CUT, o MST e todo povo trabalhador de conjunto e demais setores combativos da sociedade se mobilizem no sentido de lutar de fato pela vida dos indígenas e pressionar o Estado no combate ao latifúndio, do contrário o verso “e o latifúndio está ai, matando” ,escrito em 1963, pelo poeta Ferreira Gullar, continuará reverberando sobre a morte de cada indígena.