O caso escabroso do assassinato de uma professora a facadas por um aluno de 13 anos numa escola de São Paulo deu lugar a novamente à análises superficiais do problema por parte da burguesia. A extrema-direita aproveitou o acontecimento para pedir o que sempre pede: mais penas, mais repressão, diminuição da maioridade penal etc. A direita tradicional apela para a ideia de que foi o “discurso de ódio” o culpado por tudo.
A esquerda pequeno-burguesa adotou a posição dos setores dessa direita tradicional, acrescentando que não apenas o discurso de ódio, mas também o “machismo e a misoginia” seriam os responsáveis por crimes como o que aconteceu em São Paulo.
Além disso, usam a tragédia para fazer uma espécie de campanha eleitoral antecipada contra Bolsonaro, acusando-o de também ser responsável.
Vejamos o que diz o G1, ou seja, a Globo, principal empresa da imprensa capitalista no Brasil: “Culto às armas e ideias extremistas acendem alerta para ataques em escolas”. Essa é a manchete anunciando uma entrevista com uma professora. O destaque não é fortuito. Essa é a ideia geral da burguesia, colocar a culpa nas “ideias”, no caso as “extremistas”, que não se sabe inclusive se podem ser “extremistas” de esquerda ou de direita. Colocar também a culpa no “culto às armas”, ou seja, tornando o debate sobre o armamento uma espécie de pecado moral e atribuindo àqueles que o defendem como criminosos de antemão.
Bom, isso é uma das coisas que diz a Globo sobre o caso. Vejamos agora o que fala o Esquerda Diário, jornal na internet do grupo MRT: “Racismo, misoginia e extrema-direita são combustíveis ideológicos de ataques em escolas”. Esse é o título e um artigo publicado no dia 20 de março.
Vejamos que no essencial não há diferença entre as duas posições. Apenas que, para a Globo, o problema é o “extremismo” e para o MRT o problema é o extremismo de direita e as ideias contidas nele.
O artigo do MRT continua dizendo que:
“Todos esses assassinatos estão envoltos em um sinistro e pavoroso caldo de misoginia, machismo, racismo, LGBTfobia, supremacismo racial e culto à violência – todos elementos que o bolsonarismo e a extrema-direita vêm tentando naturalizar em nossa sociedade. As palavras viram ações e, naquela “piadinha” ou “brincadeirinha” que ouvimos todos os dias por aí, está contida mais violência do que pensamos.”
O MRT confunde as causas do problema. O crescimento da extrema-direita precisa ser analisado primeiro como um produto da crise social, econômica e política do próprio capitalismo. É essa crise que resulta em ações como a que ocorreu. Não à toa, nos Estados Unidos, essas ações são as mais comuns. Embora a extrema-direita seja algo presente, os inúmeros ataques em escolas nos EUA durante os anos 90 e anos 2000 não ocorreram num momento que o fascismo estava em alta. Não foi durante a era Trump, ou seja, num momento de crescimento da extrema-direita. Os ataques em escolas são um produto da crise social do capitalismo no seu coração.
Só é possível relacionar esses ataques à extrema-direita na medida em que ambos os fenômenos são um produto dessa crise. Ao simplesmente colocar a culpa nas ideias, o MRT está ignorando o essencial, o fundamental. E pior, acaba se colocando numa espécie de frente ideológica com a burguesia, defendendo que as “ideias” são perigosos. Como o próprio artigo diz: “as palavras viram ações”. Por mais que o MRT se esforce por mostrar o problema da crise nas escolas, a decadência do ensino etc, sua posição essencial acaba caindo na mesma caçapa da direita tradicional. Seria preciso controlar as palavras ditas, controlar a ideologia, o “extremismo” etc.
Se para o MRT esse é um problema da extrema-direita, para a burguesia isso vale para qualquer extremismo, ou seja, de esquerda e de direita. E se podemos atribuir a culpa de um crime à ideologia, ao discurso da extrema-direita, a burguesia, que controla de fato as ações do Estado, tem total condições de atribuir a culpa de qualquer coisa também à esquerda. Se as palavras viram ações de um lado, elas também podem virar ações de outro.
É preciso combater a extrema-direita, mas para isso é preciso em primeiro lugar combater as ideias da burguesia que é quem de fato alimenta a extrema-direita. É preciso denunciar a crise social, denunciar a crise nas escolas, o tratamento dado a alunos e professores. Não é um problema de ideologia, mas é um problema social muito concreto.