Na última quinta-feira (2 de março), saiu no Diário Oficial da União o decreto da nomeação do delegado Alessandro Moretti para o cargo de Diretor Adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Trata-se do segundo cargo mais importante do órgão e está sendo indicado para ele um indivíduo que tem um passado muito ligado ao bolsonarismo.
Atualmente, Moretti é delegado da Polícia Federal, tendo sido indicado diretamente por Anderson Torres para o cargo. Torres, para quem não se lembra, foi Ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil durante o último período do governo Bolsonaro. Mais recentemente, foi investigado e preso por ter ligação com o planejamento e execução dos atos do dia 8 de janeiro.
Alessandro Moretti chegou a ser braço direito de Anderson Torres durante um período. Foi indicado, em março de 2022, para o cargo de diretor da Diretoria de Inteligência Policial da Polícia Federal, em um momento em que Bolsonaro noticiou que estava querendo manter a instituição em “rédeas curtas”, colocando somente pessoas de sua “extrema confiança”. Moretti também havia sido diretor de Tecnologia e Informação da PF, ainda durante a gestão de Anderson Torres.
Moretti teve outras passagens, por cargos de confiança ligados ao bolsonarismo. Atuou como secretário adjunto de Anderson Torres durante seu período como Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, na gestão Ibaneis Rocha. Durante a gestão de André Mendonça (atual ministro do STF) como Ministro da Justiça, Anderson Moretti esteve na Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp).
Após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, cogitou-se transferir Alessandro Moretti para a representação da PF na França. A transferência para o exterior estava sendo adotada para diversos agentes da PF ligados a Anderson Torres ou de confiança do bolsonarismo em geral.
Pelo histórico de Moretti, fica claro que sua indicação para um importante cargo dentro da Inteligência do governo, que teria vindo supostamente do próprio Presidente Lula, é uma movimentação no sentido de aparelhar com bolsonaristas o aparato repressivo do Estado. Não dá para dizer com certeza, mas é evidente que isso é uma imposição feita ao governo em troca de alguma espécie de favor.
Após as manifestações do 8 de janeiro, o governo procurou retirar bolsonaristas de alguns dos cargos mais próximos da presidência da república. O governo também desvinculou a GSI da Abin, vinculando-a à Casa Civil, onde o governo tem mais controle. Além disso, foram transferidos diversos militares bolsonaristas de cargos com relação direta à segurança do presidente ou de assuntos da presidência.
No entanto, a indicação de um bolsonarista para um dos principais postos da Abin não condiz com essa política. Os cargos ligados à inteligência do governo têm uma importância fundamental no sentido de impedir alguma investida golpista por parte dos militares e dos bolsonaristas. É preciso extirpar do governo todos os elementos bolsonaristas como Moretti e outros. O governo Lula está acossado pela direita por todos os lados e precisa se apoiar na mobilização popular para conseguir governar sem sofrer pressões da burguesia e dos bolsonaristas, e sem correr o risco de ser derrubado a todo momento.