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'Israel'

Antissionistas não são antissemitas, mas sionistas são, e muito

Judeus são usados como escudo humano para defender crimes na Palestina, o que terminará tendo consequências graves graves para a comunidade judaica

O órgão de imprensa bolsonarista Gazeta do Povo reproduziu, em sua edição do último dia 19, um artigo do judeu norte-americano Dennis Prager, cujo título fora traduzido como “Sim, antissionismo é antissemitismo” e, como indicado, considera “desonesto” e “absurdo” o “argumento de que alguém pode ser antissionista — isto é, contra a existência de um estado judeu — sem ser antijudeu.”

Imagine um grupo de pessoas que trabalham para destruir a Itália porque, afirmam, as origens da Itália são ilegítimas. Imagine ainda que essas pessoas afirmam que, de todos os países do mundo, apenas a Itália não merece existir.Agora, imagine que essas pessoas neguem veementemente que sejam anti-italianas. Você acreditaria nelas?

Agora, substitua “Itália” por “Israel” e você entenderá a desonestidade e o absurdo do argumento de que alguém pode ser antissionista — isto é, contra a existência de um estado judeu — sem ser antijudeu.

Na fantasia de Prager, os antissionistas consideram “injusto acusar de antissemitas aqueles que meramente ‘criticam’ Israel”, acrescentando que “ninguém diz que uma crítica a Israel é antissemita. Mas o antissionismo não é uma crítica a Israel. O antissionismo é uma oposição à existência de Israel”, tergiversa o autor, que não explica qual seria a equivalência entre opor-se à existência de “Israel” e opor-se à existência dos judeus. Porque não há.

Sendo um propagandista inepto do sionismo, Prager simplesmente dá de barato que “oposição à existência de Israel” e “oposição à existência de judeus” são o mesmo, porém no primeiro caso, existe uma oposição a uma política, que no caso concreto, significa opor-se à colonização racista da Palestina. Essa era a premissa fundamental do projeto sionista desde que o austríaco Theodor Herzl fundou o movimento sionista no século XIX. Já no segundo caso, dos opositores da existência de judeus, o alvo da oposição não é uma determinada estrutura política, mas a uma população e, em última instância, aos indivíduos que a compõe.

Uma forma de ilustrar o quão desencontrando da realidade está esse argumento é lembrar dos inúmeros casos como o da antiga União Soviética, que em um determinado dia deixou de existir, o que não implicou na eliminação das pessoas que lá viviam. Elas simplesmente mudaram seus documentos.

Os antissionistas afirmam que não podem ser antijudeus porque o sionismo não tem nada a ver com o judaísmo. Isso é o mesmo que dizer que a Itália não tem nada a ver com ser italiano. O judaísmo sempre consistiu em três componentes: Deus, Torá e Israel (o povo de Israel e a Terra de Israel). Israel é tão parte do judaísmo quanto Deus e a Bíblia.

Dizer que “Israel” significa, como diz o autor, tanto “o povo de Israel” quanto “a Terra de Israel”, é uma loucura completa, que não encontra aceitação nem entre os judeus. Desde a diáspora ocorrida no Império Romano até o século XIX, a reivindicação de uma “terra de Israel” simplesmente não existia.

Para o argumento ser crível, o autor teria de demonstrar que as centenas de gerações de judeus existentes neste “breve” intervalo de quase dois mil anos e que jamais se mobilizaram pela “terra de Israel”, eram menos praticantes do judaísmo do que os sionistas. Percebendo esta lacuna em sua argumentação, Prager parte para o ataque… contra os judeus.

Os judeus mais pró-Israel, ou seja, os mais sionistas, são os ortodoxos, os judeus mais religiosos. O fato de existir um pequeno grupo de judeus ultraortodoxos (Neturei Karta) que é anti-sionista não significa nada. Eles são tão representativos do judaísmo quanto a Ku Klux Klan é do cristianismo.

Ora, mas finalmente, estes chamados “ultraortodoxos” existem e sua oposição mostra o quanto é inconsistente a tese do norte-americano de “Deus, Torá e Israel” com os significados do último elemento dados por Prager. Isto vale tanto para os judeus anteriores ao sionismo, quanto para os de hoje. Ele próprio, diga-se de passagem, não vive na terra supostamente prometida pelo deus judaico, mas nos EUA, dando uma eloquente demonstração prática da total falta de seriedade do argumento.

A questão reaparece no seu terceiro ponto levantado pelo sionista, quando refuta o argumento de queo judaísmo é apenas uma religião”.

“Portanto, os judeus seriam apenas membros de uma religião, não de uma nação. Mas os judeus são chamados de ‘nação’ mais de cem vezes na Bíblia. É por isso que pode haver judeus irreligiosos, seculares e até ateus — porque os judeus não são apenas uma religião, mas um povo — uma nação. Ninguém pensa que judeus não religiosos não são judeus. Enquanto isso, não pode haver cristãos ateus porque o cristianismo é uma religião, não uma nação.”

“Quarto”, continua, “as pessoas apontam para judeus antissionistas para provar que o antissionismo não é antijudaico. Isso seria como apontar para americanos que deram a Stálin os segredos da bomba atômica para argumentar que apoiar a União Soviética na Guerra Fria não era antiamericano. Ou, para fornecer outro exemplo judeu, seria como apontar judeus que comem carne de porco no Yom Kippur para argumentar que comer carne de porco no Yom Kippur é judaico. O que os judeus fazem ou acreditam nem sempre bate com o que é o judaísmo.”

Aqui, fica evidente a contradição do autor, que se porta como defensor do que supostamente seria o “judaísmo”, mas prefere viver em Nova Iorque do que na antiga terra dos palestinos. A picaretagem de Prager, embora reveladora de uma hipocrisia enorme, reflete o problema dos sionistas do século XIX e de hoje: embora se esforcem para se apresentarem como os defensores do “que é o judaísmo”, nem eles acreditam nessa bobagem.

Mesmo em meio a um dos momentos mais dramáticos da história da comunidade judaica, durante o Holocausto, foi preciso uma complexa operação para empurrar os judeus que fugiam da Europa para a Palestina. Ninguém queria ir para o Oriente Médio até os anos 1930 e, mesmo sob o pavor do nazismo, essa população tentava migrar em parte para o Reino Unido e principalmente os EUA.

Os governos desses países tiveram de barrar a entrada de navios com perseguidos pelo nazismo para conseguir aumentar a população judaica no Oriente Médio, evidenciando que a farsa de “Deus, Torá e Israel” não é nada além de um malabarismo retórico tosco criado para enganar incautos. Isso não é reconhecido por ninguém da comunidade judaica e nem mesmo pelo próprio autor.

“Quinto, os antissionistas afirmam que Israel é ilegítimo porque o sionismo — e, portanto, Israel — é ‘racista’. Isso é uma calúnia. Metade dos judeus de Israel sequer são brancos, e qualquer pessoa, de qualquer raça ou etnia, pode se tornar um judeu. Além disso, 1 em cada 5 israelenses não é judeu. E esses israelenses não judeus, na maioria muçulmanos árabes, têm os mesmos direitos dos israelenses judeus.”

Aqui, Dennis Prager abandona qualquer pudor e mente descaradamente. Ao dizer que os muçulmanos têm qualquer direito em Israel que não seja o de morrer pelas mãos da repressão sionista é uma mentira deslavada, mas antes, o autor diz que “metade dos judeus de Israel sequer são brancos”, uma informação que revela a farsa da suposta ancestralidade dos judeus que lá estão.

Se mesmo para um norte-americano, “metade” dos israelenses pode ser considerada branca, é porque a ligação do povo que para lá se deslocou com os semitas que lá habitavam há quase dois mil anos é nula.

“Se os palestinos parassem de matar israelenses, Israel não teria problema com uma ‘solução de dois estados’. Mas os palestinos rejeitaram ofertas para ter seu próprio Estado em quatro ocasiões distintas desde 1947. Essa é a única razão pela qual eles não têm seu próprio Estado.

E por que eles sempre rejeitaram ter um Estado palestino? Porque o único Estado que aceitariam seria aquele que erradicasse Israel. Eles têm, portanto, se dedicado exclusivamente a destruir o Estado judeu, não a ter seu próprio Estado ao lado de Israel.”

Novamente, o autor recorre à mentira deslavada para justificar as chacinas cometidas pelos sionistas e foge completamente ao questionamento sobre o que leva os palestinos a “não parar de matar judeus. O autor termina por expor a inconsistência de seu argumento ao dizer que “palestinos rejeitaram ofertas para ter seu próprio Estado” e depois, “o único Estado que aceitariam seria aquele que erradicasse Israel”. Ora, se é “Israel” que diz como o Estado palestino deve ser e não os palestinos, isso nunca será um Estado palestino de fato, mas um Estado israelense.

Por “Estado palestino”, uma pessoa normal conjecturaria uma entidade política de caráter nacional onde os palestinos – e não os “não-palestinos”, em especial os sionistas – determinariam as políticas a serem desenvolvidas. O fato delas, as políticas, precisarem do crivo sionista mostra o oposto do que diz o norte-americano, que “Israel” nunca permitiu e jamais permitirá a existência de um Estado palestino verdadeiro. A falta de habilidade de Prager para fazer a coisa demonstra que estamos diante de um indivíduo desprovido de luzes, mas a contradição entre “palestinos rejeitaram ofertas para ter seu próprio Estado” e “o único Estado que aceitariam seria aquele que erradicasse Israel” termina facilitando o trabalho para desmascarar a falsidade de suas colocações.

É preciso destacar, por fim, que o antissemitismo tal como alardeado pelo sionista, reflete um período histórico superado. Existe, atualmente, um preconceito muito maior contra os negros e árabes do que contra os judeus.

O antissemitismo é uma política que veio dos governos das nações imperialistas e das religiões. No passado, os judeus foram o bode expiatório dos europeus, mas isso mudou. A Igreja Católica, uma das grandes propagadoras do antissemitismo na Europa, não adota essa política há muitas décadas. Atualmente, os governos e até muitos setores da extrema direita apoiam Israel, demonstrando especialmente para a esquerda que argumentos de antissemitismo devem ser ignorados.

Toda vez que “Israel” começa a matar muita gente, levantam o “antissemitismo”, para silenciar o repúdio popular aos crimes que “Israel” comete, esclarecendo o verdadeiro sentido dos alertas de preconceito contra judeus.

O que o autor faz, ao enfiar sionistas e semitas no mesmo balaio, é direcionar o mais do que justificado repúdio da população mundial contra “Israel” ao povo judeu. Os sionistas, estes sim, são antissemitas e estão demonstrando uma indiferença criminosa ao que se projeta para ocorrer com os judeus.

Na França, por exemplo, vivem cerca de 600 mil judeus, fazendo deste o país com a maior comunidade judaica na Europa. Já a comunidade árabe contava em 2010 com uma população entre 4 a 7 milhões de pessoas. Não é difícil imaginar quem massacraria quem caso as pessoas se convençam de que sionismo e semitismo são iguais, como quer fazer crer Prager e tantos outros apologistas de “Israel.

A manutenção dessa política dos sionistas, de usar os judeus em geral como escudo humano para suas atrocidades, terá consequências graves para os judeus que não estão encastelados nos redutos seguros da burguesia, mas vivendo nos mesmos espaços que as pessoas normais. É também em defesa destes últimos que os marxistas insistem que não, antissionismo não é antissemitismo.

O recém-falecido Henry Kissinger tinha um aforismo importante para a compreensão do perigo que cerca a comunidade judaica em geral: “ser inimigo dos EUA é perigoso, mas ser amigo é fatal”. Os mais poderosos dentre os aliados do principal país imperialista do mundo costumam perder os anéis para salvar os dedos.

Ao resto, cumpre lembrar as imagens da evacuação de Cabul, com dezenas de colaboradores de Washington atirando-se ao avião que decolava da capital afegã, em uma tentativa desesperada para escapar da fúria popular. Aqueles que se esforçam para eliminar a diferença entre o sionismo e o judaísmo terão uma responsabilidade imensa sobre os mais horríveis acontecimentos que podem acontecer se a população mundial acreditar que “Israel” e o povo judeu são iguais.

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