Na última sexta, para marcar o primeiro aniversário da entrada das tropas russas em território ucraniano, o presidente Putin fez um discurso na Assembleia Federal do seu país, relembrando os motivos da intervenção e apontando como as ações ´do bloco ocidental (imperialismo) levou a tomar aquela decisão em fevereiro de 2022. Além de caracterizar o uso da Ucrânia como uma força proxy, ou seja um instrumento para derrotar a Rússia, ressaltou que a guerra não é contra o povo ucraniano e sim contra o governo de Kiev e contra seus patrões ocidentais e esclareceu que quanto maior foi o alcance do armamento fornecido pelo Ocidente mais será preciso avançar para afastar a ameaça das fronteiras russas.
Seu discurso destacou a responsabilidade das elites ocidentais e do regime de Kiev pela incitação e escalada do conflito pelo tamanho da sua ajuda em material e em pessoal, afirmando que os gastos ocidentais já teriam ultrapassados os US$ 150 bilhões enquanto a ajuda ocidental aos países mais pobres ficou em torno de US$ 60 bilhões. Uma prova de como querem destruir a Rússia. Também denunciou a hipocrisia do discurso sobre o combate à pobreza, desenvolvimento sustentável e proteção do meio ambiente foi ignorado para buscar a derrota russa. ´
A principal ressalva que se pode fazer ao discurso do presidente russo é que sua luta é contra o imperialismo. Um termo que a sua ideologia conservadora não abarca. Somente o imperialismo poderia ter promovido um isolamento maior do que o sofrido pela África do Sul do Apartheid, que consistiu entre outras medidas: a expulsão de todos as competições esportivas e da maioria das organizações internacionais, a apreensão das reservas internacionais em bancos internacionais e de bens de cidadãos e de empresas russas.
Até o presente momento, a União Europeia já impôs nove pacotes de sanções econômicas, os Estados Unidos da América já implementaram ou expandiram mais de 2.000 listas de sanções à Rússia e a políticos e cidadão russos. Quem leu os analistas da imprensa imperialista no ano passado viu como estes asseguravam que Putin iria ficar em situação precária e perderia o apoio da população russa. Uns chegavam aventar que ele estaria com câncer.
Quem assistiu às comemorações do dia do Defensor da Pátria e a energia da sua fala no estádio Luzhnik lotado em Moscou, em 22 de fevereiro deste ano, percebeu como estavam erradas aquelas análises. Agora, eles tentam dizer que este apoio vem através da repressão, sendo que nada comentam da situação na Ucrânia que colocou na ilegalidade e criminalizou qualquer partido ou pessoa que proponha negociações de paz.
Uma das razões para a perda do apoio popular seria a grave crise que a economia russa viveria pela saída das empresas ocidentais, das dificuldades de importação e exportação e a expulsão dos bancos russos dos sistemas financeiro. Em junho de 2022, o Instituto de Finanças Internacionais (IIF,na sigla em inglês) previa que uma contração de 15% do Produto Interno Bruto russo no final de 2022. Como passar do ano as previsões foram sendo refeitas. Em janeiro último, o Fundo Monetário Internacional já alterou a sua previsão para uma retração de 3,4%.
A verdade foi que no dia 20 de fevereiro, o Rosstat, o departamento de estatística do governo russo divulgou que a contração do PIB ficou em 2,2% com uma inflação anual de 12%, indicando estabilidade nos índices e os juros estão em 7,5%. Além disso, a Rússia obteve um superavit comercial recorde de US$ 227 bilhões impulsionado em grande parte pelas exportações de energia. Enquanto na Europa Ocidental a inflação tem batido os recordes dos último quarenta anos e um número crescente de greves e miseráveis. Será que os analistas das duas instituições estão engrossando o contingente de desempregados.
No discurso, em uma demonstração que não vai retroceder frente as ameaças ocidentais, Putin relembrou que, tendo em vista a agressividade dos Estados Unidos, suspendeu a participação no Novo Start tratado assinado em 2010, relativo as inspeções entre os dois países para verificar se os limites de armas nucleares estão sendo respeitados.
Uma outra prova que dificilmente a Rússia vai retroceder foi a promessa de iniciar um programa de recuperação e desenvolvimento socioeconômico das novas regiões da Federação, ou seja, as republicas populares de Donetsky e Lugansk e as regiões de Kherson e Zaporizhaya. Inclusive a meta seria alcançar os níveis de investimentos realizados na Crimeia, além de usufruir os benefícios do Mar de Azov voltar a ser um mar interno russo.
Putin também destacou o fortalecimento do rublo russo tanto que o seu emprego nos acordos internacionais dobrou em relação a dezembro de 2021, já chegando a um terço do total. Reafirmou os esforços em criar um sistema de transações cambiais sem a utilização de moedas ocidentais como dólar, libra ou euro, contando com o apoio das chamadas nações amigas. Uma clara alusão à criação do Banco de Desenvolvimento dos Brics e as negociações para adoção de uma moeda internacional, ressaltando que as sanções adotadas pelos países ocidentais estão retirando o caráter universal das suas moedas
O apoio internacional à Rússia tem aumentado, ainda que, às vezes, dissimulado pelos reiterados pedidos de estabelecimento da paz. Tanto que o principal diplomata da China. Wang Yi, foi recebido pelo presidente Putin no dia 22 de fevereiro, ressaltando que “sob a liderança estratégica” do presidente chinês, Xi Jinping e do russo Vladimir Putin, o relacionamento entre os dois países “continua a operar em alto nível”. Este diplomata chinês, diretor do escritório geral do Comitê Central de Relações Exteriores e ex-ministro das Relações Exteriores, se encontrou com o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuteba durante a Conferência de Segurança de Munique no sábado (18/02).. Durante a conferência, o diplomata chinês anunciou que tinha uma proposta de paz para o conflito. Na última sexta foi conhecidos os doze pontos principais.
É preciso reconhecer que o tema da paz ganhou força quando Lula propôs a criação de um grupo de estados não envolvidos na guerra de modo a tentar mediar uma saída para o conflito. A primeira vez que abordou o assunto foi quando negou o pedido do Chanceler alemão de fornecimento de munição à Ucrânia no dia 30 de janeiro. Lula apresentou a proposta pessoalmente a Joe Biden no seu encontro na Casa Branca em 10 de fevereiro. Uma proposta que tem recebido apoio de outros líderes como o ex-banqueiro Macron, presidente da França.
A aceitação cada vez maior de discutir como se chegar a paz mostra como o sistema internacional se encontra estressado por este conflito e as manifestações pela paz aumentam na Europa e nos Estados Unidos da América.
Muitos consideram que Putin é um daqueles vilões de sessão da tarde, sem considerar que nos anos anteriores ele afirmou reiteradamente que fossem respeitados os acordos de Minsk, uma proposta de paz assinada em 2014. Entretanto, percebeu que o imperialismo iria estimular o seu fantoche ucraniano a ignorar os acordos e que o imperialismo está mais fraco e em crise. Fato comprovado pela retirada humilhante das forças estadunidenses do Afeganistão.
A fraqueza do imperialismo foi demonstrada pela lentidão em apoiar militarmente o pais governado pelo palhaço Volodymyr Zelensky. Tanto que o seu aliado ucraniano rapidamente perdeu toda a sua capacidade ofensiva, aérea, terrestre e naval. As forças russas se aproximaram rapidamente de duas das maiores cidades, Kiev e Kharviv, além do avanço no sul e no leste do Ucrânia.
Quem vê os números do apoio do imperialismo pode não acreditar na debilidade imperialista. Fornecimento de 8 mil mísseis antitanque Javelin, de 1600 misseis antiaéreos Ritingerites, de 109 veículos de combate Bradley, de 160 obuseiros e de 39 sistemas de foguetes de artilharia Himars entre outros equipamentos fornecidos só pelos Estados Unidos da América. Mas a Rússia continua firme em sua disposição enquanto percebe como as populações nos países ocidentais estão ficando revoltadas com este apoio e suas vidas piorando.
Não há dúvida de que quem mais está sofrendo é o povo ucraniano. Segundo levantamento do jornal Deustche Welle, um valor equivalente a US$ 138 bilhões de patrimônio ucraniano foi destruído, mais de oito milhões de refugiados e um taxa de pobreza de 60%. Como dito antes, Putin considera que sua guerra não é contra eles e sim contra o Regime de Kiev, mas principalmente contra o imperialismo que não permite que uma paz seja estabelecida. Uma prova disso é que tem sido evitado um bombardeio indiscriminado sobre o oeste ucraniano, diferente do que os EUA fizeram no Vietnã ou no Iraque. O número de mortes civis, ainda que toda morte seja lamentável, é bem menor que nos exemplos citados, podendo ultrapassar os vinte mil de acordo com as Nações Unidas.
As autoridades americanas se apressaram em tentar desqualificar a proposta chinesa de paz e dizem que a Rússia deve retirar as suas tropas e aceitar uma rendição condicional.
Uma clara demonstração do desespero e da ilusão que o imperialismo se encontra. Sua aposta é de que quanto mais pressionar a Rússia e os países que não assumirem uma alinhamento com as posições imperialistas, menos se revelará a sua fraqueza, mas é o contrário o que tem acontecido. Haverá limite para este desespero? É uma situação extremamente ameaçadora que se apresenta quando lembramos que esses desesperados têm a capacidade do emprego de armas nucleares.