Na edição de ontem (25/10), publicamos um artigo criticando a posição do grupo MRT sobre o Hamas. Em seu portal, Esquerda Diário, o grupo publicou uma matéria com uma série de considerações sobre a questão palestina.
Na primeira parte, explicamos que criticar os “métodos” do Hamas como violentos, fazendo coro com a imprensa imperialista, é uma posição reacionária.
No artigo atual, vamos explicar mais um ponto da política direitista do MRT sobre a questão, a acusação de que o Hamas é “burguês”.
Afirma o artigo do MRT, chamado “Apoiar a resistência palestina não significa apoiar a estratégia e os métodos do Hamas”:
“Como escrevemos há alguns anos, ‘ao mesmo tempo que se opõe à ocupação sionista, [o Hamas] aposta em alianças com governos muçulmanos burgueses, como o Irã ou o regime do Qatar, que constituíram a vanguarda contra-revolucionária contra a Primavera Árabe, para quem o movimento palestino é uma moeda de troca nas suas transações comerciais com o imperialismo. O programa do Hamas para construir um Estado islâmico é um projeto político reacionário’.
Esse caráter burguês e reacionário do Hamas não deixa de ter consequências na sua estratégia, nos seus métodos e nas ações que leva a cabo contra a ocupação israelense.”
Mais do que chamar o Hamas de burguês, o MRT consegue a proeza de acusar um grupo que está enfrentando o imperialismo de ser reacionário. Como dissemos no artigo de ontem, a acusação do MRT prova apenas que quem é reacionário é o próprio MRT.
A primeira pergunta que deve ser feita é qual a relevância de acusar um grupo que está enfrentando de armas na mão o imperialismo, que representa um povo esmagado por um exército poderoso, de ser “burguês”. A única serventia de tal acusação – sendo ela verdadeira ou falsa – é fazer frente com o imperialismo contra o Hamas.
A preocupação em acusar o Hamas expressa uma necessidade desse grupo centrista e extremamente pequeno-burguês de não ser vinculado aos “terroristas do Hamas”. No fundo, o MRT não quer se queimar.
Está claro que, sendo o Hamas burguês ou não, isso não faz a menor diferença nesse momento. Mas qual é a realidade dessa acusação?
O problema aqui é simples. O Hamas é um grupo de tipo nacionalista, logicamente que não tem como ideologia o marxismo. Porém, o Hamas é a expressão da luta de boa parte do povo palestino, ou seja, é um grupo que tem sim bases proletárias, o que é óbvio apenas analisando o tamanho do grupo.
A confusão está justamente que, de maneira abstrata, pode-se dizer que o Hamas por ser nacionalista seria burguês. Mas que tipo de burguesia é essa num territória oprimido como o da Palestina?
Aqui vemos como o dogmatismo é inimigo do marxismo e da luta política revolucionária.
Numa situação concreta como a de agora, a ideologia nacionalista do Hamas não importa absolutamente nada. É preciso cerrar fileiras com o Hamas e demais grupos de libertação. É isso o que está colocado.
A citação do MRT, citando o próprio MRT, de que o Hamas “aposta em alianças com governos muçulmanos burgueses, como o Irã ou o regime do Qatar” é canalha. O que o MRT propõe para um grupo que está lutando nas piores condições como é o caso do Hamas, rejeitar apoio dos governos que estão dispostos a ajudar?
É por isso que a política não pode ser feita no mundo da lua. Qualquer grupo tem o direito de conseguir apoio, o problema é saber qual é a política que está em jogo. O Irã tem interesses contra Israel e contra o imperialismo, o Hamas a mesma coisa. Por que, então, o Hamas deveria rejeitar o apoio do Irã. É uma colocação ridícula de que acha que a política é uma coisa acadêmica, fora do mundo real.
A acusação contra o governo do Irã também é caluniosa. Não é preciso concordar ideologicamente com o governo iraniano para reconhecer que o país é um dos principais flancos de luta contra o imperialismo. O MRT, que se diz grande revolucionário e internacionalista, prefere repetir a propaganda canalha do imperialismo contra o Irã e ainda aproveita para usar isso contra o Hamas.
É impressionante a capacidade de ser direitista. Tudo isso porque o MRT, que finge apoiar a luta palestina, mas na realidade quer impor um sem número de condições para esse apoio, não quer que o imperialismo o associe aos “terroristas do Hamas”.
A acusação de que o Hamas tem um “projeto político reacionário” é outra calúnia e outra demostração de dogmatismo. O Hamas está lutando aqui e agora e isso o que se deve dizer e apoiar. Fora isso, se o MRT fosse um pouco mais preocupado com informações reais e não em simplesmente repetir o que diz a propaganda imperialista, saberia, por exemplo, que junto ao Hamas estão grupos que inclusive se dizem socialistas.
Por fim, não bastasse todo esse entulho de calúnias, o MRT ainda acusa o Hamas de ter sido ajudado por Israel:
“Israel incentivou e ajudou financeiramente o surgimento de organizações islâmicas como o Hamas, na esperança de enfraquecer a influência da OLP e de tendências mais radicalizadas à esquerda.”
Aqui vale a mesma pergunta do início: a quem serve a afirmação de que o Hamas foi financiado por Israel? Serve apenas para enfraquecer a luta contra Israel.
Essa informação parece muito extravagante, mas consideremos, a título de argumento, que ela tenha algum fundo de verdade. O que muda no caráter da luta do Hamas? Absolutamente nada! Exceto se o MRT tiver provas de que a política do Hamas serve para favorecer agora Israel, mas isso é bem difícil de demonstrar.
Ao contrário, na prática, o crescimento do Hamas está mais relacionado à decadência da OLP, uma organização conciliadora que abaixou a cabeça para o imperialismo e perdeu o apoio entre os palestinos. O Hamas expressa uma radicalização da luta do povo palestino.
O MRT está de corpo e alma com o imperialismo. O caso palestino mostrou que o palavreado pseudo-revolucionário do grupo não resiste a meia hora de propaganda imperialista.