Hélio Schwartsman, colunista da Folha de S. Paulo, publicou um texto intitulado “Por um PSOL raiz”. O mote do colunista do jornal golpista foi o rompimento da CST (Corrente Socialista dos Trabalhadores) com o PSOL. Segundo ele, a CST seria a corrente “mais à esquerda” do partido e ilustra isso citando um trecho da publicação onde o grupo anunciou o rompimento. Nele aparece o argumento de que o PSOL teria traído seus princípios políticos ao apoiar e compor o governo Lula junto “com representantes dos banqueiros, agronegócio, multinacionais e setores da extrema-direita”.
Personificando a CST na figura do psolista Babá, um dos fundadores do partido, Hélio afirma de maneira contundente: “Babá está certo”. Apesar de declarar repulsa a uma aplicação prática das ideias de Babá, defende que a presença de parlamentares de partidos “mais ideológicos” seria algo positivo: “desde que não se tornem majoritários, dão bons parlamentares”. Nesse sentido, opõe ideologicamente o PSOL ao Partido Novo. Segundo o colunista, ambos seriam “contrapontos ao pragmatismo”, caminhando no sentido de buscas utópicas, e que isso “tende a aperfeiçoar o sistema político”.
O colunista da Folha de S. Paulo conclui apresentando a versão de que o PSOL surgiu denunciando as “falhas éticas” e o “stalinismo” do PT e apontando um caminho para o partido: “Se o PSOL não puder ser um partido que faça a crítica ao PT pela esquerda, ele perde sua razão de ser”. O problema é que o rompimento dos parlamentares petistas que originou o PSOL não teve nada de “utópico”, foi puro e simples oportunismo de figuras como Heloísa Helena (hoje na Rede Sustentabilidade), João Fontes (hoje no PTB), Luciana Genro e o próprio Babá. Esse sequestro de mandatos do PT veio um ano antes do “escândalo do mensalão”, episódio que deu importante impulso para o recém-criado partido.
Interpretar que a CST estaria sendo impedida de fazer “a crítica ao PT pela esquerda” é uma manobra para promover o grupo, que se coloca como oposição ao governo da mesma forma que apoiou as movimentações golpistas contra o governo Dilma Rousseff. Na época, adotou a palavra de ordem de “Fora Todos”, junto com o PSTU. Para se ter uma ideia, em texto do grupo publicado meses antes da derrubada do governo a CST dizia que o PSOL deveria se manifestar contra o impeachment, mas que isso não deveria significar “apoio à Dilma, nem adesismo às teses de “golpe””. Ou seja, não era para defender o governo porque não existia nenhum golpe em andamento.
O mesmo texto traz como uma das suas chamadas em caixa alta “TIRANDO O AJUSTE FISCAL DE PT, PMDB e PSDB, NÃO EXISTE NENHUM GOLPE EM CURSO!”. Qualquer semelhança com o “combate” ao arcabouço fiscal não é mera coincidência. A burguesia vem tentando submeter o governo Lula desde o processo eleitoral e só vem elevando o tom contra o governo. Do mesmo jeito que fizeram na preparação do golpe de Estado de 2016, os mesmos grupos esquerdistas ou pseudo esquerdistas atuam para desmobilizar a resistência popular contra os avanços da direita contra um governo de esquerda.
E ao contrário do que sugere o colunista da Folha de S. Paulo, não há nenhuma busca utópica envolvida nisso. Pelo contrário, se trata do mais rasteiro e inconsequente pragmatismo. Uma busca constante, desde seu surgimento, para herdar o espólio eleitoral do PT após sua destruição. Parte do PSOL parece ter entendido que isso não vai funcionar, porque de fato não funcionou nem com o golpe de Estado; por isso, preferem pegar carona no partido do governo. Mesmo com a campanha da burguesia contra o PT, grande parte da população se manteve solidária ao partido, que foi claramente vítima de perseguição pelo monopólio das comunicações e pelas instituições de um regime político profundamente corrompido.
A defesa desse “PSOL raiz” é um aceno às figuras mais oportunistas da esquerda pequeno-burguesa. Os poderosos meios de comunicação da burguesia têm a capacidade de impulsionar de maneira muito ampla as figuras que abraçam sua linha política. O próprio Boulos é fruto desse mecanismo e foi impulsionado pelo mesmo veículo, onde ganhou até coluna para atacar Dilma. No racha atual do PSOL, o cara do “Não Vai Ter Copa” da Fundação Ford aparece no lado oposto a Babá. No entanto, longe de ser alguém que busca defender o governo Lula e influenciá-lo pela esquerda, Boulos expressa apenas outra estratégia oportunista. Ao invés de herdar o espólio eleitoral do PT “por fora”, vem fazendo isso “por dentro”.