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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Armadilha da direita

A festa da inelegibilidade

Moraes usou a si próprio como jurisprudência, como se não houvesse mais espaço para discussão sobre o tema

“Imorrível, imbrochável e… inelegível!” Foram muitos os memes e as brincadeiras que a esquerda pequeno-burguesa, em clima de torcida organizada, divulgou nas redes sociais na semana passada, por ocasião da votação do Tribunal Superior Eleitoral que tirou Bolsonaro do páreo eleitoral pelos próximos oito anos – ou até que ele se torne necessário outra vez. As piadas foram boas, mas será que o nosso campo político deveria mesmo estar em festa?

A vitória sobre Bolsonaro, via sistema judiciário, por óbvio, não foi uma vitória do povo, uma vez que não foi auferida na luta política. Mesmo assim, muitos ainda julgariam oportuno o resultado, já que Bolsonaro, grande opositor de Lula nas últimas eleições, mostrou que é capaz de jogar sujo. O problema desse raciocínio é que, nesse quesito, Bolsonaro não está sozinho. Diga-se, inclusive, que o pacote de compra de votos que antecedeu a eleição foi aprovado pelo Congresso e, ainda que ferisse a lei, não foi contestado nem pelo TSE nem pelo STF.

Em clima de festa na imprensa burguesa, Bolsonaro foi tornado inelegível por causa de uma reunião com embaixadores, na qual expôs o que considera serem as vulnerabilidades da urna eletrônica. Alexandre de Moraes, em seu voto, afirma que, desde 2021, estava “pacificado” que lançar a dúvida sobre a urna e insuflar o eleitorado a duvidar do processo eleitoral levaria à condenação de que quem quer que fosse. Moraes usou a si próprio como jurisprudência (esse suposto saber “pacificado”), como se não houvesse mais espaço para discussão sobre o tema. Enfim, ele se apoia em (suas próprias) decisões passadas, não em lei.

Se, no entanto, levarmos em consideração as pistas que a imprensa burguesa nos deu durante o processo eleitoral, poderemos pensar que os crimes de Bolsonaro só o são porque ele perdeu as eleições. Caso contrário, estariam todos muito bem alocados debaixo de algum tapete.

Durante a eleição, a Rede Globo, que não escondia sua insatisfação tanto com Lula quanto com Bolsonaro, promoveu, de modo insistente, a imagem do STF. Chegou a fazer programas especiais com cada ministro da corte, todos levados ao ar durante o Jornal Nacional, programa de maior audiência da emissora. Houve quem achasse que a Globo estava a favor de Lula, pois era conhecida sua desavença com Bolsonaro, que chegou a ameaçá-la de não renovar sua concessão pública.

Entre Lula e Bolsonaro, a Globo optou pelo STF (de Alexandre de Moraes, Luís Barroso e outros), espécie de guardião dos interesses do estado burguês ou, mais especificamente, dos interesses da “terceira via” (ou “centro democrático” ou “direita civilizada”). Isso quer dizer que caberia ao STF continuar controlando o governo, como já vinha fazendo, ganhasse quem ganhasse. Ganhou Lula.

A burguesia vem impondo uma série de dificuldades a Lula, tudo fazendo para impedi-lo de realizar seu projeto – o projeto escolhido nas urnas. Por outro lado, tira Bolsonaro de cena com uma canetada da Justiça – a mesma que destituiu Dilma Rousseff por “pedaladas fiscais” e prendeu Lula por 580 dias no processo-farsa da Lava Jato. Pavimenta, assim, o caminho para o ressurgimento de uma direita “ESG”, renovada pelas pautas identitária e ambiental.

A expectativa dessa direita é recuperar para si os bolsonaristas da burguesia e capturar boa parte da esquerda pequeno-burguesa com as migalhas identitárias. Podemos esperar nas próximas eleições por um negro gay, um indígena de cocar, um transexual ou uma mulher, de preferência negra e lésbica, a serviço do projeto burguês para se contrapor a Lula.

A esquerda precisa ficar em estado de alerta para não cair em mais uma armadilha da direita “civilizada”, que não passa de um bando de bolsonaristas envernizados.    

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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