Atualmente, no Brasil, ficou proibido falar mal das instituições. Qualquer crítica é logo chamada de “atentado à democracia” como se as instituições do Estado fossem sinônimos de democracia, quando, em geral, é o exato oposto.
A esquerda pequeno-burguesa tem repetido essa verdadeira idolatria das instituições do Estado. A burguesia faz a campanha e a esquerda repete. E por que isso acontece?
O Estado e a democracia se tornaram um fetiche para a esquerda. É um endeusamento de uma coisa que é criação dos seres-humanos.
Veja o debate das urnas eletrônicas. A esquerda pequeno-burguesa repetiu exatamente com todas as palavras toda a campanha feita pela burguesia a favor das urnas eletrônicas. A maior parte da esquerda defendeu a ação de Alexandre de Moraes e do TSE que tornou Bolsonaro inelegível porque criticou as urnas e o processo eleitoral sagrados.
A urnas se transformaram num fetiche, numa entidade suprema, divina. Se os povos primitivos achavam que os fenômenos naturais, sem explicação, eram manifestações divinas, a burguesia transformou coisas que o próprio ser-humano inventou em algo divino.
Essa é uma tendência muito reacionária no Brasil. Isso porque, se alguma coisa é divina, ela sequer pode ser contestada. Se as urnas eletrônicas são divinas, se as instituições são divinas, então não devem ser criticadas, sob risco de punição. E se é assim, está vetada a possibilidade de qualquer transformação no Estado e na sociedade. Mesmo uma forma transitória assumida pelo Estado se torna um ídolo sagrado.
É o que está acontecendo no Brasil. Vem daí a ideia de que simplesmente questionar a existência do STF seria um crime, um ataque às “instituições democráticas”.
Bolsonaro foi condenado porque contestou a urna eletrônica. Se o ex-presidente não pode falar algo assim, imagine o povo.
Lula afirmou dias atrás que a “democracia é relativa”, ao criticar o cinismo do imperialismo que acusa o governo venezuelano de ser uma ditadura enquanto apoia regime autoritários em várias partes do Globo.
Lula está certo. A forma que a democracia assume é relativa. Ela não está estabelecida de uma vez por todas, não é algo rígido. Na Venezuela, por exemplo, a eleição conta com a participação de sindicatos e outras organizações operárias, que elegem uma parte dos parlamentares. O imperialismo chama essa forma de ditadura. É a tentativa de transformar a forma do Estado em uma coisa sagrada.
A burguesia defender isso é normal, já que está desesperada. Já alguém de esquerda defender isso é uma falência completa, um oportunismo que procuram esconder com teorias que grotescas.
A explicação é justamente a tendência ao fetichismo no Estado, à fetichização do Estado, ou seja, transformar o Estado num ídolo religioso. É uma tendência no Estado capitalista que a esquerda repete, mostrando total desorientação política.