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Esgoto identitário

A derrota do feminismo por uma boneca fútil

Incapazes de pensar de maneira crítica, os esquerdistas que outrora abraçaram a onda identitária, agora se emocionam com um filme criado sob medida para emburrecer a população

Em coluna publicada no portal Brasil 247, Hildegard Angel declara abertamente que “me vesti de cor-de-rosa pra embarcar nessa viagem cinematográfica” (“Uma epifania chamada ‘Barbie’”, 25/7/2023). A exemplo de outros esquerdistas desorientados, a colunista mostra-se deslumbrada com uma peça de propaganda detestável, mas ao fazê-lo, expõe a crise da esquerda. Se há epifania possível no entusiasmo de Angel com o filme da boneca, é o de que o feminismo burguês e a esquerda pequeno-burguesa estão sendo sepultados pelo identitarismo.

Instrumento ideológico criado pelo imperialismo para se inserir nos meios da esquerda, o identitarismo tem como tática comum usar uma produção hollywoodiana para criar um entretenimento barato e com isso, a ilusão de apoio a um determinado setor oprimido da sociedade. Foi assim com os negros no filme de herói de gibi Pantera Negra, está sendo assim agora com o da boneca Barbie. Os brasileiros têm ainda a experiência extremamente desagradável dos reality shows da Rede Globo, que há alguns anos, converteram-se na grande apoteose identitária em solo nacional.

“Assistam ao filme”, pede Angel, segundo a qual, a obra teria o mérito de não ser sobre o “empoderamento feminino” (tema e jargão identitários por excelência), mas “a masculinidade insegura, frágil, ameaçada”. Curiosamente, a colunista está correta ao afirmar que a obra não se confunde em nada com os anseios das mulheres por liberdade e igualdade, mas cabe a pergunta: é realmente a luta contra o homem genérico o que move Angel e demais esquerdistas?

Os homens respondem por pouco menos da metade da população brasileira, que por sua vez, é majoritariamente pobre, chegando inclusive a ter dezenas de milhões de pessoas jogadas no flagelo da fome. A desgraça de cerca de metade desses famélicos é motivo, portanto, para celebração?

Claro que algo assim só pode passar pela cabeça de alguém privilegiado, que dada a sua posição, não consegue conceber como a dura realidade vivida pelo povo afeta homens e mulheres. A superação da tragédia social brasileira, finalmente, não vem com o ataque ao homem, mas ao imperialismo, o centro irradiador de toda opressão são exatamente aqueles que incutiram em Angel e uma centena de esquerdistas pequeno-burgueses, que vestir-se de rosa para assistir a um filme ruim é um ato progressista. 

Aqueles que produziram e distribuíram o filme investiram também muito dinheiro em jornais, sítios de internet, redes sociais, enfim, toda sorte infernal da máquina de propaganda disponível para aliciar a mente da esquerda pequeno-burguesa, fazê-los crer que uma boneca – ícone da super conservadora década de 1950 acompanhada de seu conversível de luxo, tornara-se símbolo agora da libertação feminina. Com isso, ignora-se o essencial: a verdadeira libertação das mulheres implica na criação de mecanismos que a tirem da escravidão doméstica e a liberem para atuar na sociedade, econômica e politicamente. Dado que as mulheres mais ricas tendem a recorrer a mulheres mais pobres para livrarem-se da servidão do lar, não é de se estranhar que as condições materiais de opressão das mulheres importe menos do que o simbolismo barato de Hollywood.

É desagradável, para dizer o mínimo, criticar uma senhora entusiasmada com uma obra de propaganda imperialista martelada pelos monopólios de comunicação naturalmente, dominados pela burguesia e para usufruto desta classe social. O fato de a luta política obrigar a isso, contudo, revela muito sobre o momento de falência intelectual da esquerda.

Incapazes de pensar de maneira crítica, os esquerdistas que outrora abraçaram a onda identitária, agora se emocionam com um filme criado sob medida para emburrecer a população (em especial a pequena burguesia) e tornar o identitarismo mais palatável. Ao derrotar a verdadeira luta das mulheres com a ajuda inestimável de seus próprios bonecos de ventríloquo, os arquitetos desta ideologia são os verdadeiros beneficiários de todo o “auê” causado pela obra hollywoodiana.

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