A Polônia é um país aliado e vizinho da Ucrânia, com uma fronteira de 529km que dividem os dois países do leste europeu. Apesar de várias divergências no decorrer do tempo, após o colapso da URSS, mantiveram relações relativamente amistosas, principalmente quando estiveram contra a Rússia. Durante a pandemia, a Polônia forneceu vacinas e cerca de 129 toneladas de equipamentos médicos. Com a iminência de reação russa, enviou armamentos, fechou o Pacto trilateral Britânico-Polaco-Ucraniano, para “melhorar a segurança cibernética, a segurança energética, e combater a desinformação”, obviamente uma medida contra o poder militar russo. Em 2013, durante o Euromaidan, e a Crise de Crimeia de 2014, a Polônia apoiou a Ucrânia. A Polônia também foi o país que sancionou a Rússia após início de conflito com a Ucrânia, inclusive com ajuda militar.
Pois bem. Eis que a Polônia anuncia, no dia 15 de abril, a proibição da importação de cereais e outros produtos agrícolas ucranianos. O motivo seria para proteger os latifundiários poloneses. Eles têm denunciado que as commodities ucranianas importadas causaram a queda de preços, o que tem prejudicado a agricultura local. Os alimentos que entram nos países da Comunidade Europeia passam pela Polônia, mas têm ficado represados no local, causando prejuízo econômico para os agricultores poloneses.
Desde o início de conflito na Ucrânia, os portos do Mar Negro foram bloqueados e os grãos ucranianos entram na Comunidade Europeia através da Ucrânia. O governo polonês disse que continuarão recebendo grãos que seriam destinados a outros países, ou seja, se entrar somente para passagem.
Segundo o governo polonês, a proibição entraria em vigor a partir do dia 19 de abril.
O escoamento de alimentos para Polônia representa 10% do total das exportações da Ucrânia.
Essa decisão do governo polonês foi considerada inaceitável pela União Europeia.
Segundo a autoridade da União Europeia, “É importante ressaltar que a política comercial é competência exclusiva da União Europeia e que as ações unilaterais não são aceitáveis”, “Nestes tempos difíceis, é crucial coordenar e alinhar todas as decisões dentro da União Europeia”.
A decisão foi tomada com base na “assimetria entre a agricultura polonesa e ucraniana”, devido, entre outros fatores, à diferente qualidade das terras e ao preço mais baixo da mão-de-obra na Ucrânia, o que levaria, se as importações não fossem restringidas, a uma profunda crise no setor agrícola nacional, justificou governo polonês.
O ministro polonês da Agricultura e do Desenvolvimento Rural defendeu que a União Europeia deve tomar medidas urgentes para distribuir a nível europeu os produtos ucranianos que estão inundando o mercado polonês.
“A União Europeia usa palavras bonitas, mas os commodities ficam no nosso país, nos países da frente”, lamentou o governante polonês, em declarações citadas pela agência polonesa PAP, ao defender que o custo da ajuda à Ucrânia “deve recair sobre toda a Europa e não apenas sobre os agricultores poloneses”.
A exportação de cereais de portos ucranianos tem sido um dos principais, e praticamente o único, acordo alcançado entre a Rússia e Ucrânia que, com a mediação das Nações Unidas, conseguiram em 2022 aprovar um plano de envio de cereais a partir do Mar Negro.
Além da Polônia, Hungria e Eslováquia também anunciaram a suspensão da importação de commodities ucranianas por mesmos motivos.