As candidaturas presidenciais de setores pequeno-burgueses, PCB, UP E PSTU, cumprem indiretamente um papel importante para a legitimação da chamada terceira via. Esses partidos, ao se oporem completamente à candidatura do ex-presidente Lula, candidatura essa apoiada pelas massas populares, e alimentar, ao mesmo tempo, ideia de que é preciso combater o fascismo e o golpismo bolsonarista, jogam água no moinho da grande burguesia nacional e do capital imperialista que preparam nesse momento uma alternativa a Lula e a Bolsonaro, isto é, a terceira via.
A eleição presidencial brasileira caracteriza-se pela polarização expressa nas candidaturas do ex-presidente Lula de um lado e do atual presidente, Bolsonaro, de outro. Entre um e outro, encontra-se a candidatura da chamada terceira via. A burguesia está até então dividida, um setor mais débil do bloco político burguês tem o atual presidente como candidato, que tem ainda o apoio de um setor minoritário da pequena-burguesia de direita. O setor mais poderoso da burguesia, ligado ao capital imperialista, vê ainda espaço para impulsionar a candidatura da terceira via, que considera mais consequente com o tipo de política que pretende implementar, um neoliberalismo ainda mais radical que o que foi feito até aqui desde o golpe de 2016. O nome escolhido por esse bloco foi o de Simone Tebet (União Brasil).
A candidatura do ex-presidente Lula apresenta-se como uma terceira força, agrupando as massas da população pobre, e mesmo lutando contra o bloco político burguês de conjunto, segue sendo a mais popular candidatura de todos. Os acordos reacionários feitos pelo PT e a tentativa de chegar a um acordo com parte da burguesia não eliminam, no entanto, o peso que as massas trabalhadoras têm nessa candidatura, e por isso mesmo é rechaçada pelo bloco burguês de conjunto, contanto apenas com elementos soltos e desgarrados da classe dominante.
A luta de classes, neste momento, se desenvolve no terreno eleitoral. De um lado a burguesia dividida com seus dois candidatos, de outro as massas trabalhadoras agrupadas em torno da eleição do ex-presidente Lula. Torna-se evidente que a vitória da candidatura Lula é a derrota do bloco político da burguesia de conjunto, o que abre espaço para conquistas populares. Esses partidos, no entanto, não veem a situação sob a ótica dos interesses da classe operária e do povo pobre, que somente podem colher uma vitória, mínima que seja, com a derrota da burguesia, veem a situação sob a ótica de seus próprios interesses de pequeno-burgueses em ascensão.
Aproveitam o momento para exposição de si mesmos, e acompanhados de uma crítica a Lula e Bolsonaro, conseguem maior espaço na imprensa capitalista para fazê-lo.
A candidatura da terceira via, de Simone Tebet, foi preparada justamente para ter um impacto junto ao público da esquerda em geral. Utilizaram o identitarismo, típico destes partidos de esquerda citados, para pressionar esses setores.
Tebet, uma latifundiária, se apresenta agora como defensora das mulheres, tem por vice, outra mulher e deficiente. Essa manobra tem surtido efeito, a própria esquerda evita criticá-la, uns por medo de cancelamento, outros por acreditar na farsa, seja como for, essas candidaturas referidas concentram seus ataques a Lula e a Bolsonaro, criando assim um clima favorável ao crescimento da candidatura da terceira via.
PCB, UP e PSTU, participam da manobra da burguesia, criticam a candidatura popular e se negam a apoiá-la, sob o argumento de que não é radical, ao mesmo tempo, alardeiam que é preciso derrotar o fascismo e que Bolsonaro prepara um golpe militar. Cumprem o papel, no interior da esquerda, de abrir caminho para a terceira via. Impulsionados pela imprensa capitalista, e pela burguesia, foram longe demais na crítica a Lula e ao PT, pensando lucrar com a derrota deste para a burguesia, e já não podem mais voltar.
Não seria de surpreender, que num embate entre Bolsonaro e a terceira via, declarem apoio massivo na candidata dos grandes capitalistas nacionais e internacionais. Na prática, já é exatamente essa política que propagam.