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Considerações sobre a eleição

Sobre a ‘resposta’ do Primera Línea ao DCO – parte 2/2

O debate político deve ser feito sobre bases concretas, ou se incorrerá sempre no erro de avaliar a situação com base em impressões e ideias preestabelecidas que não deixam avançar

Dando continuidade ao debate sobre o artigo do Primera Línea, é preciso destacar um truque que utilizam: grafar o tempo todo Lula/Alckmin, como se Lula e Alckmin fossem uma e única coisa. Ao mesmo tempo, espertamente, escrevem “Não entendemos o apoio do PCO à candidatura burguesa de Lula/Alckmin”. Portanto, é preciso traçar um panorama para demonstrar a falsidade daquela afirmação.

Relembrando os fatos, em agosto de 2020, em um programa na TV247, o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, em um debate com presidentes de outros partidos ─ PCdoB, PT e PSOL ─, propôs a candidatura de Lula, não de Lula/Alckmin, para unificar a esquerda.

O PCO avaliou que, dado o refluxo da esquerda, desde o golpe de 2016, e o acúmulo de forças da extrema-direita, atraindo para si elementos da direita tradicional, e varrendo o centro político, a única candidatura que seria capaz de agrupar as forças e fazer a balança voltar a pender para o lado da esquerda, seria a de Luiz Inácio Lula da Silva.

O pano de fundo

Em 2021, a esquerda passou a se movimentar e formou-se o seguinte quadro para a viabilização da candidatura Lula: pela esquerda havia o PCO e o Bloco Vermelho (composto principalmente pela base petista); a direção do PT, mais ao centro e, à direita, PCdoB e PSOL boicotando a candidatura e encabeçando a tentativa de formar uma frente ampla, ‘amplíssima’ (como disse Gilberto Maringoni, do PSOL), com ‘setores progressistas’, ou do ‘campo democrático’, como forma de barrar o fascismo, leia-se Bolsonaro.

Os atos de rua pelo Fora Bolsonaro foram o tempo todo sabotados pela coordenação, formada pelo PSOL e pelo PCdoB. Buscaram infiltrar elementos da direita como Doria (PSDB) e Ciro Gomes (PDT), mas a base, com apoio do PCO, expulsou essas figuras. Portanto, não havia nenhuma chapa Lula/Alckmin, como o Primera Línea tenta induzir.

A imposição de Alckmin foi um fator de crise dentro da esquerda. Durante os comícios da campanha, por diversas vezes o ex-tucano foi vaiado em suas intervenções. O PCO avaliou que foi um erro grave do PT colocar esse político como vice, mas que ele, ao mesmo tempo, não era um fator decisivo. Todo o apoio popular se concentra em torno da figura do ex-presidente.

Candidato do imperialismo?

O Primera Línea respondeu em sua matéria que PLR não concorda com o apoio à candidatura Lula/ Alckmin em primeiro lugar, por considerar que se tratou da candidatura preferencial do imperialismo norte-americano, principalmente depois da entrada do vice, Geraldo Alckmin, o homem do Opus Dei ….

É um erro acreditar que Lula possa ser uma ‘candidatura preferencial do imperialismo’. Se assim o fosse, jamais teriam dado o golpe em Dilma, todos sabem que o golpe foi planejado e conduzido desde Washington, e lançariam Lula para um novo mandato em 2018, ao invés de prendê-lo.

O PT já havia vencido quatro eleições consecutivas e caminhava para uma quinta. Foi isso que motivou o golpe. Trataram de prender Lula e cassar seus direitos políticos, tudo ilegalmente. Mesmo aprisionado, o ex-presidente liderava as pesquisas eleitorais e poderia vencer até no primeiro turno, o que, por si, demonstra que Lula era mesmo o nome para unificar a esquerda em torno de sua candidatura. Lula não pode ser o candidato do imperialismo porque tem uma base social que é antagônica ao imperialismo e essa base social vem demonstrando uma tendência à radicalização no último período. Foi essa base que se mobilizou para levar Lula à presidência, mobilização temida pelo imperialismo, pois este sabia ─ assim como esperava o PCO ─ que a mobilização popular em torno da candidatura Lula colocaria os trabalhadores em uma contradição ainda mais acirrada com o imperialismo, e isso levaria Lula à esquerda. É o que estamos vendo com as declarações e posicionamentos de Lula desde que foi eleito.

Durante 2021, e também 2022, houve uma grande campanha da imprensa burguesa tentando fazer colar, de maneira sórdida, a ideia de que Lula não seria inocente, apenas que os processos contra ele teriam sido extintos. A imprensa corporativa, como sabemos, é porta-voz dos interesses da burguesia e do imperialismo. Portanto, não faz sentido tratar assim um ‘candidato preferencial’. Se quisermos traçar um paralelo, podemos comparar com o caso Trump x Biden.

Donald Trump foi tratado como um demônio pela imprensa, teve suas contas nas redes sociais bloqueadas, ao passo que Biden foi completamente blindado. Notícias sobre seus assédios, ou sobre as ligações perigosas de seu filho, Hunter Biden, com laboratórios suspeitos na Ucrânia foram vedadas. Glenn Greenwald, por exemplo, foi censurado e se demitiu do The Intercept por esse motivo. Bolsonaro, por sua vez, não foi tratado como Trump por Alexandre de Moraes durante as eleições ─ ao contrário, este disse que os bloqueios criminosos feitos pela Polícia Rodoviária Federal no dia do segundo turno não impediram os eleitores de votar, quando ficou óbvio que eles foram feito, e tiveram algum resultado, para tirar votos de Lula. Bolsonaro teve cerca de quatro vezes mais financiamento capitalista do que Lula e os patrões realizaram uma verdadeira campanha massiva de coação para obrigar os trabalhadores a votarem em Bolsonaro.

Fracasso da Terceira via

Com relação à inviabilidade de uma candidatura da terceira via, o Primera Línea recorre a um chavão: “O imperialismo tentou, mas não conseguiu impulsionar a candidatura da chamada “terceira via”, dada a podridão generalizada do conjunto do regime político”. Não se trata simplesmente de ‘podridão’, mas da radicalização política no Brasil. Esse raciocínio demonstra a completa superficialidade da análise do blogue que nos ataca.

Desde o golpe de 2016, com a implantação radical de medidas neoliberais, o Brasil vem mergulhando em uma grande crise. A polarização abriu uma profunda crise no PSDB e mesmo em partidos como o PSOL, que sofreu vários rachas em razão da política oportunista de sua direção. O fortalecimento da extrema-direita, com apoio da burguesia, e radicalização das massas, a aceitação a Lula, mesmo preso, demonstrava que a polarização não deixaria margem de atuação ao ‘centro’. Foi isso que implodiu a terceira via ─ a pulverização do centro político devido à crise do regime, cujo “centrão” é o principal representante ─, não uma pretensa ‘podridão do regime’.

O próximo período

Os ataques que Lula vem sofrendo por parte da grande imprensa, mesmo antes de sua posse, demonstra que não se trata de uma candidatura preferencial do imperialismo, e já se desenha uma grande dificuldade de o governo implementar políticas básicas de cunho social. O dólar sobe e a bolsa cai, os representantes do mercado financeiro reclamam nos jornais e tentam chantagear Lula para que ele se comprometa com uma política fiscal austera e nomeia um funcionário dos banqueiros para o Ministério da Fazenda.

De nada adiantam a críticas que faz o Primera Línea quando diz que O PT e os organismos de massas que controla parecem verdadeiros mortos vivos. ; A CUT (Central Única dos Trabalhadores), o MST (Movimento dos Sem Terra) e mesmo a UNE (União Nacional dos Estudantes) e o MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto) faz tempo que não mobilizam ninguém para luta nenhuma” ou “A participação organizada dos trabalhadores na campanha eleitoral foi praticamente nula”.

Toda e qualquer crítica tem que ter um caráter de avanço na consciência das massas trabalhadoras, e não reclamações sectárias. Se, por um lado, a CUT se demonstra vagarosa, ou ausente, é preciso fazer o chamamento, pressionar para que se coloque em movimento com base em políticas concretas. Por exemplo combater o avanço da direita com a convocação dos trabalhadores em atos de apoio a Lula e ao novo governo quando este está sendo colocado contra a parede pelos capitalistas, além de pressioná-lo para aplicar medidas que favoreçam os trabalhadores e recuar em políticas que os prejudiquem.

Para que se implementem políticas sociais, como já se faz notar, teremos que nos confrontar com os bancos e com o grande capital financeiro. Isso só será possível com a intervenção das massas, e este é um papel que a CUT e o MST podem cumprir: a mobilização.

Dizer que o Programa da candidatura “foi lançado a três dias das eleições, de maneira demagógica, e na prática, para manter tudo igual”, desmobiliza a esquerda e impulsiona a direita, é uma política capituladora e oportunista. É preciso fazer a luta política, daí extrair suas conclusões e fazer evoluir as massas, nunca desistir de antemão prevendo um suposto desenlace dos acontecimentos. Mas no caso do Primera Línea é mais grave: seu sectarismo e oportunismo políticos, expressados por seus ataques sem razão a Lula, ao PT, à CUT, ao MST e ao PCO, demonstra que a política desse blogue é a de considerar o governo eleito pelos trabalhadores como um inimigo que precisa ser combatido. Nesse sentido, faz uma frente única com a direita e o bolsonarismo para sabotar e investir de forma golpista contra ele.

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