No sítio do Primera Línea encontramos a resposta à nossa matéria que analisa as críticas desse grupo ao PCO. Logo de início, notamos que fogem da discussão sobre a acusação grave de que o PCO teria se vendido por apoiar a candidatura Lula. Dizem apenas que “Nesta matéria, nos concentramos na questão do apoio político à candidatura Lula/ Alckmin”. E, covardemente, colocam uma insinuação “Deixamos de lado por enquanto a questão dos interesses envolvidos ” (grifo nosso).
O Primera Línea não tem nada contra o PCO além de calúnias. Se houvesse alguma prova já teriam revelado. Em vez de agirem com honestidade, insistem nessa atitude irresponsável. Nem é a primeira vez que o PCO sofre esse tipo de campanha sórdida. Já acusaram o Partido até de roubar celulares, bater em mulheres, crianças etc. E o que esse grupo faz é se juntar a essa corja.
O candidato preferencial
A resposta do Primera Línea insiste no erro de que Donald Trump seria o candidato preferencial do imperialismo. Entram em generalidades, do tipo “política do imperialismo é muito concreta e está sempre direcionada a impulsionar os lucros dos monopólios e a conter a luta dos trabalhadores e das massas”. E afirmam que “foi imposto por meio de manobras, apesar da vitória no voto popular do Partido Democrata, por diferença de três milhões a favor de Hillary Clinton”.
Vejamos o que diz o livro A Era da Censura das Massas, dos companheiros Rui Costa Pimenta e João Caproni Pimenta, na página 27 temos: “O resultado de Donald Trump foi atípico. Ele era considerado pela imprensa um azarão que não teria condições de vencer a máquina republicana nas primárias. Erraram feio, muito feio. Trump teve 44,95% (14 milhões de votos) dos votos totais da primária. Considerando que havia 17 candidatos de grande porte (…). O caçula da dinastia Bush, Jeb Bush, um símbolo do republicanismo “moderado”, teve pífios 0,92% dos votos (…) Jeb Bush, no entanto, que era o favorito dos grandes capitalistas e querido da imprensa tradicional, conseguiu para o seu comitê de campanha uma bagatela de US$ 100 milhões”.
E segue: “Os principais candidatos moderados do seu partido, bem como os ex-presidentes da família Bush, se recusaram publicamente a votar em Trump (…) Sem apoio dentro do Partido, sem o seu aparato, Trump teve 62,9 milhões de votos”. Como vemos a partir dessas citações, existem outras no livro, falta ao Primera Línea uma pesquisa básica para se inteirar da realidade. Basta lembrar, também a perseguição da grande imprensa na grande imprensa, o bloqueio de suas contas nas redes sociais. E o porquê disso se deve ao fato de que a plataforma de Trump entrava, na verdade entra, em choque com os interesses do grande capital financeiro e indústria da guerra, o setor mais poderoso do imperialismo.
A gestão Trump esteve ameaçada de impeachment desde praticamente o seu início, acusaram o presidente de ligação com Putin, que vem sofrendo perseguição jurídica e, agora, já encontraram um adversário seu, Ron DeSantis dentro do Partido Republicano, uma tentativa clara de tentar minar sua influência.
A candidatura Lula
Assim como não tem uma visão clara do fenômeno Trump, o Primera Línea não consegue entender o que representa a candidatura Lula e muito menos o apoio dado pelo PCO.
Lula foi alvo do golpe de 2016, conforme o Partido já havia denunciado quando essa intenção do imperialismo estava no ovo. Começou lá atrás, ainda no processo farsa do Mensalão. O PCO avisou que havia a possibilidade de golpe e prisão de Lula. A esquerda, no geral, dizia que era loucura, que não havia espaço para golpe, que não haveria apoio internacional, que o Brasil tinha uma democracia sólida etc. Ninguém acreditou que Lula seria preso, uma vez que não havia provas contra ele. Mais uma vez o Partido foi ridicularizado. No entanto, tudo se confirmou: golpe e prisão.
Diante da perseguição ao PT, e à tentativa de a burguesia ter tentado viabilizar uma candidatura de terceira via, fica claro, para quem tiver olhos para ver, que a candidatura não estava nos planos da burguesia. A polarização política, tensionada pelos efeitos da política neoliberal pós-golpe, é que deu as coordenadas para o apoio a Lula. Vendo que a classe trabalhadora se aglutinava ao redor da figura de Lula, assim como a burguesia com Bolsonaro, em 2020 o PCO propôs os petistas como candidato para unificar a esquerda.
Em 2020, o PCO já caracterizava que, diante do avanço da extrema-direita, nacional e internacionalmente, e do recuo da esquerda. Seria preciso uma candidatura que pudesse reunir toda a esquerda e, dessa forma, o movimento pudesse reunir forças para ter alguma chance de derrotar a direita.
A esquerda pequeno-burguesa passou boa parte do tempo acusando Lula de ser candidato do imperialismo e serviu, o quanto pôde, de correia de transmissão da terceira via dentro do movimento de esquerda. Apenas no final, quando a opção por Lula pela classe trabalhadora estava mais do que incontornável é que esses setores oportunistas vieram dar “apoio”, não sem antes fazer todo tipo de chantagem e negociar cargos.
O PCO, desde o início, deixou claro que não negociava cargos e que não aceitaria participar do governo. A candidatura Lula, apesar dos erros, como a vinda de Alckmin como vice, está se opondo aos interesses do imperialismo. Lula acabou de anunciar que não não vai privatizar o Banco do Brasil e nem a Caixa Econômica, disse que não vai fatiar a Petrobrás, está se opondo ao teto de gastos. Ou seja, tudo o que o imperialismo não quer.
Abordamos aqui dois aspectos da ‘resposta’ do Primera Línea sobre nossa matéria. Oportunamente daremos continuação com os outros tópicos. Foi necessário nos estendermos sobre o caráter do trumpismo e da candidatura Lula porque isso traça um panorama do embate entre as forças políticas no Brasil e nos Estados Unidos, país que planejou e executou um golpe de Estado que jogou milhões de brasileiros na miséria. E a eleição de Lula é, podemos dizer, uma reação da classe trabalhadora.