Na última semana, na superfície dos acontecimentos políticos nacionais, tivemos alguns eventos de significativa pertinência para compreender a movimentação das classes sociais diante do processo eleitoral em específico, e em relação à luta política de forma mais ampla.
No PSDB, partido que representa em maior grau os interesses do capital financeiro nacional e internacional, há uma intensa e aberta luta política entre os elementos que o compõe.
O atual candidato à Presidência da República e ex-governador de São Paulo, João Doria, apesar de ter vencido as prévias de seu partido, não tem conseguido emplacar seu nome para o pleito e sua viabilidade tem sido colocada em dúvida. Doria tem promovido um grande desgaste político interno, para colocar suas candidaturas desde quando foi Prefeito de São Paulo. Isso gerou uma grande instabilidade no PSDB, que além desses conflitos internos, tem sofrido uma enorme desmoralização diante da população, por sua defesa ferrenha do neoliberalismo e medidas anti-povo, e por conseguinte, pela sua posição de destaque no golpe de Estado.
Tudo isso, tem sido motivo para a mobilização da ala mais tradicional do partido para rever a candidatura de Dória e efetuar a tentativa de emplacar o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, como candidato do partido e da chamada terceira via (ou melhor dizendo, candidato dos golpistas).
Dória observando essa manobra, tentou melar a articulação eleitoral do partido, sinalizando uma desistência da candidatura e sua manutenção no Palácio dos Bandeirantes, o que minaria a exposição da candidatura do atual Governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, e também de Eduardo Leite, caso fosse efetivado como candidato à Presidência pelo PSDB. Porém, a manobra de Dória nesse sentido, foi minada, sob a ameaça de um processo de impeachment em caso de permanência no governo. O ex-governador de São Paulo, teve de engolir seco o choro e renunciar ao cargo, sob o risco de desaparecimento total de sua influência política.
Eduardo Leite já iniciou há algum tempo sua campanha política-eleitoral, desde quando começou a colocar em dúvida a viabilidade de João Dória. Leite renunciou ao cargo de Governador do Rio Grande do Sul e vem fazendo diversos contatos políticos, tendo inclusive, durante o mês passado, feito uma viagem aos EUA para pedir a benção de seus chefes do Departamento de Estado Norte-Americano, para pleitear o cargo de Presidente da República e representar os interesses dos EUA no país.
A benção foi dada à Leite e isso está comprovado com sua agenda de candidato. Da mesma forma que Leite foi buscar o aval do Departamento de Estado dos EUA, também o fez Sergio Moro (União Brasil), desde quando saiu do governo Bolsonaro (PL) para morar nos EUA e ficar milionário com dinheiro das empresas que ele ajudou a destruir. Ambos os candidatos, são agentes diretos dos EUA e da CIA, são capachos que transmitem os interesses políticos dos EUA em sua prática política.
Recentemente, Sergio Moro, que era candidato à Presidência da República pelo PODEMOS, saiu do partido e migrou para o União Brasil (fusão do DEM e PSL), buscando uma legenda com maior força política.
Essa movimentação simultânea de Eduardo Leite e Sergio Moro, tem obedecido à uma mesma cadeia de comando norte-americana, e a comprovação disso, se encontra justamente nas idas desses candidatos aos EUA e o recente encontro dos mesmos para debater os rumos políticos da terceira via (golpistas).
Tal articulação, tem o objetivo de formar uma coalizão eleitoral mais robusta e sólida, com viabilidade e força, eleitoral e institucional, respectivamente. Na realidade, essa manobra política do imperialismo visa reabilitar a coalizão neoliberal que derrubou a Presidente Dilma, que era constituída principalmente pelo PSDB, DEM, PMDB, Rede Globo e Operação Lava-Jato, e que havia reduzido sua unidade, com a participação da Lava-Jato no governo Bolsonaro, para lhe dar sustentação e evitar o retorno do Partido dos Trabalhadores ao Poder Executivo. E assim, ganhar folego para calcar o caminho para o aprofundamento do golpe, com uma operação que viabilize elementos mais vinculados ao imperialismo, como Moro, Leite e o próprio Dória, e que antes era personificado no Deputado Federal e ex-presidenciável, Aécio Neves.
A manobra, não se limita apenas ao interior das candidaturas da direita golpista e neoliberal. Ela também tem penetrado a candidatura da esquerda, do Presidente Lula, com a infiltração do tucano Geraldo Alckmin, com sua ida para o PSB e entrada na chapa como candidato à Vice-Presidente, numa tentativa de se reabilitar politicamente. Bem como, implodir a candidatura de Lula e desmoralizar tal candidatura diante das massas populares, por conta de sua impopularidade advinda da ferrenha defesa do neoliberalismo, da repressão estatal e do golpe de Estado. Provocando assim, um enorme desgaste junto ao povo, ao invés de ter uma soma no percentual eleitoral.
Tal operação acaba demonstrando o quão fora da realidade se encontra o cálculo eleitoral dos articulistas da esquerda. Mas também, como no mundo político, nada é por acaso, isso ocorre, principalmente, sob a complacência da esquerda, numa abdicação da mobilização, por acordos políticos com a burguesia, que visivelmente não levam a lugar algum.
Com essa manobra de aglutinação entorno de Eduardo Leite e Sergio Moro, a burguesia e o imperialismo saem fortalecidos, podendo ter dois candidatos (Bolsonaro e Sergio Moro-Eduardo Leite) indo para o segundo turno ou evitando que Lula vença todos os candidatos no primeiro turno.
Se isso vai dar certo ou não, não dá para saber, pois não tenho bola de cristal. Mas, se consumada, essa manobra política, será a maior vitória do golpe de Estado nos últimos seis anos. Principalmente se o vencedor do pleito for um golpista puro sangue.
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