Nesta semana, algumas das principais pesquisas eleitorais apresentaram resultados muito parecidos. O Datafolha deu 52% a 48% a favor de Lula contra Bolsonaro, mas a margem de erro dá empate técnico entre os dois candidatos.
O curioso é que Lula não cresce nas pesquisas e até mesmo diminui suas intenções de voto. Só quem cresce é Bolsonaro. Mesmo Lula realizando uma campanha muito mais ativa neste segundo turno, indo às favelas e periferias, mobilizando multidões vermelhas onde ele passa e fazendo promessas mais agressivas, como o aumento real do salário mínimo e a volta do Bolsa Família de R$600.
A imprensa golpista, que controla os institutos de pesquisa, também demonstra um posicionamento muito diferente em sua cobertura nos dois turnos. Enquanto no primeiro turno Bolsonaro era apresentado como um demônio ─ para possibilitar uma transferência de votos para a terceira via ─, no segundo Bolsonaro já seria um candidato aceitável, ponderado e mesmo civilizado, conforme a visão geral dos principais jornais.
Claramente há um apoio da burguesia de conjunto à candidatura de Bolsonaro contra Lula. E esse apoio é realizado através de manipulações das eleições, não apenas relacionadas às pesquisas e às notícias, mas através de aspectos ainda mais concretos.
O Supremo Tribunal Federal decidiu que as prefeituras poderão escolher se disponibilizarão transporte gratuito ou não no dia da votação. Estando a maior parte das prefeituras do País alinhadas com Bolsonaro, é fácil deduzir que onde houver um eleitorado maior de Lula não haverá transporte gratuito e onde houver um eleitorado maior de Bolsonaro haverá transporte gratuito. Isso afeta diretamente o eleitorado de Lula, que tem mais votos na parcela mais pobre da população, que sequer tem dinheiro para pagar a passagem para ir votar.
Além disso, o STF concedeu a mesma decisão facultativa às empresas de ônibus. Ora, quem os capitalistas (ou melhor, mafiosos) dos transportes preferem, Lula ou Bolsonaro? Logicamente, Bolsonaro. Onde houver eleitores do atual presidente, haverá transporte gratuito. Onde houver eleitores de Lula, não haverá transporte gratuito.
A militância dos capitalistas pela vitória de Bolsonaro, entretanto, torna-se irrefutável quando se lê a notícia de que mais de 900 denúncias já foram processadas pelo Ministério Público do Trabalho contra 750 empresas, acusadas de assédio eleitoral. São muitos materiais na imprensa que mostram patrões coagindo seus empregados a voltarem em Bolsonaro, caso contrário perderão o emprego ou os direitos trabalhistas.
Fica claro, portanto, que há uma mobilização intensa da burguesia pela eleição de Bolsonaro. Logo, o inimigo da campanha de Lula não é simplesmente o bolsonarismo, mas sim toda uma classe social, que são os capitalistas.
Se Bolsonaro tem o apoio ativo de uma classe, vemos claramente neste segundo turno que Lula tem o apoio cada vez mais ativo da classe antagônica, o proletariado. São comícios enormes e vermelhos nos centros populares e operários. Contudo, essa mobilização ainda não atingiu o mesmo nível da mobilização da burguesia, que controla todo o aparato estatal e eleitoral do País.
Por isso, a campanha de Lula precisa intensificar a mobilização da classe trabalhadora, a fim de que não seja apenas um movimento de vanguarda, dos setores militantes do PT, da CUT e do MST. Mas que seja uma mobilização de gigantescas massas populares, de toda a base dos movimentos sociais, de milhões de trabalhadores e explorados.
Essa é a única forma de contrapor a pressão e as manobras da burguesia para vencer a eleição “na mão grande” e entregar um segundo mandato para o seu candidato. Agora é classe contra classe. O segundo turno se tornou tão polarizado que expressa nitidamente o caráter das eleições nacionais deste ano: é o retrato da luta de classes.