É de Marx a famosa frase que, mesmo séculos depois, dá o tom da política pequeno-burguesa brasileira dos dias de hoje. “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Bem dito seja Marx.
Às vésperas do golpe de 1964, golpe que instaurou a pior ditadura militar da história do Brasil, João Goulart, ao lado de Prestes e do próprio PCB, depositaram toda a sua fé aos militares. “Eles são democráticos”, diz um deles; “Não têm interesses em um golpe”, diz o outro; “Jogam dentro da legalidade”, completa mais um. A história, acima de meras declarações, é a prova cabal de que estavam profundamente enganados, um erro que custaria a vida de milhares de pessoas.
Agora, a tragédia está nas mãos do PT. À medida que as eleições vão se aproximando, a candidatura de Lula parece cada vez mais fraca. Dessa vez, o grande absurdo foi uma conversa entre um representante da chapa de Lula e as Forças Armadas. Na ocasião, Nelson Jobim, emissário de Lula, teria afirmado que “as Forças Armadas são totalmente legalistas.”
Sobre isso, Vera Rosa, colunista da Folha de S. Paulo, diz o mesmo: “Emissários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm sondado generais da cúpula do Exército. Sem rodeios, querem saber se Lula conseguirá tomar posse, caso seja eleito. A resposta não foge ao script: nada impedirá o vencedor, qualquer que seja ele, de assumir a cadeira no Palácio do Planalto.”
Devemos, então, acreditar nas palavras do Exército? Deveria ser, a política, baseada principalmente em elementos subjetivos da vida, tal qual uma conversa? Decerto que não. Sabemos que, acima de qualquer coisa, o que importa é a prática. Ou, mais precisamente, as relações econômicas de força vigentes na sociedade.
O fato é que os militares – leia-se alto escalão das Forças Armadas – agem, também, por interesses de classe. E esses interesses, obviamente, são aqueles da burguesia, e não dos trabalhadores.
Nesse sentido, os militares farão um golpe se a situação for propícia para tal. Não depende da índole de determinada figura e, muito menos, da garantia textual de um punhado de generais. Pensar que um golpe militar não está em pauta única e exclusivamente pelo fato de que foi assegurado o contrário é, além de ingênuo, um erro que vai sair caro no futuro para o PT e o povo.
Finalmente, o imperialismo está em crise, na maior de toda a sua história. A guerra na Ucrânia e revoltas populares em lugares como o Afeganistão e a Nicarágua, colocam o regime imperialista em uma posição absolutamente instável. Por isso, para sua sobrevivência, precisa impor sua dominação na maior parte dos países do mundo. Afinal, esta é a única forma de estancar as suas feridas.
E, assim como um animal ferido, o imperialismo apresenta uma tendência extremamente agressiva quanto à sua hegemonia. Por conseguinte, estamos passando por um dos piores momentos no que diz respeito à possibilidade de eleição de figuras nacionalistas, como é o caso de Lula.
O que garante que, aliados ao imperialismo americano, assim como fizeram em 64 e durante a Lava Jato, os militares não darão ainda mais um golpe no Brasil? Sem sombra de dúvidas, a balança tende muito mais para o lado do golpismo do que o contrário.