No dia 7 de dezembro a América Latina foi sacudida pela notícia de mais um golpe de Estado: Pedro Castillo, presidente do Peru, foi deposto pelo Congresso e capturado enquanto tentava fugir para a embaixada do México, onde havia pedido asilo para o presidente do país, López Obrador.
O fator aconteceu após Castillo tentar fechar o Congresso pouco antes deste tentar votar, pela terceira vez, o impeachment do presidente. Logo após a destituição de Castillo, sua vice-presidenta, mostrando seu caráter oportunista, correu para assumir o cargo e afirmou que uma das primeiras coisas que iria fazer seria “acabar com a corrupção”.
Castillo nunca foi verdadeiramente aceito pela burguesia, enquanto a população se decepcionou com sua traição. Do lado da burguesia porque tinha um leve apoio popular, considerando as bases que vieram de seu partido, o Peru Libre. Do lado da população, porque Castillo capitulou desde o começo, realizando discursos direitistas e que diferiam de sua campanha.
O fato é que, no atual momento, a burguesia não irá aceitar qualquer líder popular, por mais direitista que seja, no poder. Nem mesmo Castillo, que possui apenas um resquício disso, poderia ficar no governo. Outro exemplo disso foi Cristina Kirchner, vice-presidenta da Argentina, que sofreu um golpe e foi condenada a seis anos de prisão por corrupção.
Mas a população não deixou isso barato. Por mais que Castillo tenha traído sua confiança, rompido com o partido e tentado fazer uma série de acordos com a direita e com a burguesia, os trabalhadores acreditam que ele ainda é melhor do que uma total serva do imperialismo como Boluarte.
Por isso, assim que a captura e deposição de Castillo foi anunciada, a população peruana saiu às ruas para defender o governo e protestar contra Boluarte — e o governo golpista respondeu de forma violenta, afinal, já havia provocado um golpe de Estado, o que seria mandar a polícia bater na população?
Já são pelo menos sete mortos pela polícia durante os protestos, entre eles um menor de idade, além de 168 feridos. Como se não pudesse piorar, o ministro da Defesa peruano, Alberto Otárola, anunciou um estado de sítio na última quinta-feira, colocando um aparato imenso nas ruas do país para reprimir os protestos: “Acordou-se decretar estado de emergência em todo o país devido aos atos de vandalismo e violência, ao bloqueio de estradas e vias”, afirmou Otárola, que também disse que a medida seria para “garantir a ordem” e dar “continuidade das atividades econômicas e a proteção de milhões de famílias”.
A população bloqueou estradas, colocou fogo em coisas e até mesmo tomou um aeroporto, exigindo a renúncia de Boluarte e a soltura de Castillo. Esses atos acabaram influenciando o decreto de Estado de sítio, o qual, até o momento, só fez com que os protestos aumentassem ainda mais. Centenas de agricultores estão saindo do interior para se juntarem aos protestos nas cidades centrais.
Castillo, por sua vez, escreveu cartas à população, agradecendo aos protestos e aos líderes de Estado latino-americanos que prestaram solidariedade a seu governo. Na carta, Castillo inclusive acusa a imprensa burguesa peruana de receber 1,8 milhão de soles, moeda local, para encobrir o massacre que ocorre contra a população nos protestos. Agora o presidente foi condenado a passar 18 meses na prisão, preso pelos crimes de “rebelião” e “conspiração”.
“O que foi dito recentemente por uma usurpadora nada mais é do que o mesmo ranho e baba da direita golpista”, afirmou Castillo em outra carta sobre Dina Boluarte suas atitudes golpistas.
“Reitero a minha gratidão aos meus irmãos presidentes da Colômbia, México, Bolívia e Argentina. Digo-lhes que nos manteremos firmes e não renunciaremos ou abandonaremos a causa justa e a vontade popular do povo peruano”, continuou o presidente.
Os protestos continuam e, como visto, a população está muito revoltada com a situação. Não existe, no momento, nenhuma concessão ou algo do tipo que consiga acalmar o povo peruano, que em menos de uma semana já estava virando o país de cabeça para baixo. As organizações sociais estão sendo puxadas pela mobilização a fazerem algo a respeito e Castillo incentiva os protestos por meio do Twitter, um de seus poucos meios de comunicação no momento.
Esse fator só demonstra o poder da mobilização popular. Se Castillo tivesse toda essa disposição e confiança no povo no começo, tendo atendido suas reivindicações e governado apenas com ele, não com a burguesia, a situação não chegaria no que está atualmente. A polícia irá continuar reprimindo e a população continuará se mobilizando mesmo assim, ainda mais quando existe um incentivo, algo a se lutar contra. Castillo deverá continuar incentivando os protestos e as organizações sociais e partidos devem se juntar para fazer com que a mobilização nacional alcance seus objetivos e reverta o golpe.