O sectário é, por natureza, um ser afastado do resto do mundo. No caso, quando falamos dos grupos políticos, são seres afastados das massas.
Um setor da esquerda pequeno-burguesa brasileira, sofrendo dessa doença, se recusou e se recusa a ter um posicionamento correto em relação a Lula. Afirmaram que Lula era um candidato da burguesia e agora afirmam que o governo Lula será um governo do imperialismo. Ignorando a realidade e ignorando, mais ainda, a mobilização popular que se criou em torno de Lula.
A grande questão é: como atuar ali? O correto nesse caso é manter a independência do programa operário e revolucionário, mas participar desse movimento, sem se comprometer com a política direitista que Lula e o PT possam fazer.
O MRT é um desses grupos sectários. Não apoiaram Lula, nem no primeiro, nem no segundo turno, para não se sujarem com a política do PT, como se essa fosse a única alternativa. Assim, falam para as paredes, quando muito, falam com eles próprios.
Agora que Lula venceu, o MRT insiste em se distanciar de uma política para as massas trabalhadoras. No dia 20 de novembro, publicou em seu portal Esquerda Diário, um chamado para um Polo Socialista e Revolucionário.
Em artigo chamado “Sobre o Polo Socialista Revolucionário e perspectivas da esquerda que se reivindica socialista”, o MRT afirma que:
“o desafio na esquerda brasileira que é a construção de alternativas à esquerda do PT e do PSOL que sejam de independência de classe e que frente ao futuro governo federal eleito adotem uma postura de completa independência política, o que deveria ser um princípio elementar da esquerda que se reivindica socialista, mas pelo nível de adaptação ao PT e sua política de conciliação de classes é necessário remarcar com força como um desafio central de uma batalha a dar em todas as organizações do movimento de massas.”
Vejam que o MRT quer constituir uma oposição ao governo Lula antes mesmo de ele acontecer, mas sequer tem uma caracterização correta sobre esse futuro governo, assim como não tiveram na eleição. O MRT quer uma alternativa ao futuro governo. E por quê? Por tratar-se de um governo de conciliação de classes.
Vejamos a coisa concretamente. A política de conciliação não esgota todo o problema do governo Lula. É preciso saber onde se situa esse governo na atual relação de forças entre as classes.
Nesse momento, a política de conciliação de classes vai de encontro aos interesses dos capitalistas e do imperialismo. Isso quer dizer que esse governo de conciliação tem contradições importantes com a burguesia, o que abre espaço para uma política independente dos trabalhadores na situação.
Nesse sentido, a tarefa dos revolucionários seria colocar-se de acordo com esse movimento que está em contradição com a burguesia, independentemente do caráter conciliador do governo em questão.
Manter a independência de classe, como diz o MRT, não significa abster-se de um posicionamento concreto diante da luta real que está acontecendo no momento. É preciso se colocar a favor dos trabalhadores nessa luta, mas como uma política e um programa independentes.
É preciso explicar também ao sectário que, estar a favor do movimento real que se forma em torno de Lula, não significa participar do governo. Assim como apoiar Lula na eleição não significava fazer coligação com o PT e assinar o programa conciliador, como fez e está fazendo o PSOL.
Essa ausência de uma caracterização concreta da situação política leva o MRT a uma potencial aliança com a direita. Ao colocar a oposição ao futuro governo Lula como um princípio, o MRT se abstém de intervir num movimento que vai procurar empurrar o futuro governo para a esquerda.
A polarização política, a luta contra o golpe, criaram esse movimento e o futuro governo será um produto das contradições desse movimento com a burguesia.