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Camilo Duarte

Militante do PCO e colunista do Diário Causa Operária. É formado em Física pela UFPB.

Modos de vida

Pequena burguesia – policial intelectual e sua falência moral

O curioso julgamento moral da esquerda pequena-burguesa sobre todos e, ao mesmo tempo, a extrema flexibilidade dessa moral.

Esta semana, em um daqueles momentos que apenas um feriado pode proporcionar, provei o dissabor que motiva os trabalhadores a repudiarem a esquerda pequeno-burguesa. O episódio se iniciou com uma defesa identitária da cantora Anitta e descambou para censura ou, na gíria local, uma “cagada de regras”.

Um exemplo para as mulheres?

A certa altura da noite, uma mulher, tão antiga quanto eu no cenário da esquerda paraibana, exaltou a figura de Anitta. Não quis julgar o trabalho de Anitta como artista, pois o desconheço.  Ao contrário da esquerda identitária, acredito que esse deve ser o critério para a avaliação da cantora. Entretanto, ponderei sobre a exaltação de Anitta como exemplo de mulher, fora dos seus aspectos profissionais. 

Parece-me estranho o julgamento moral da esquerda pequeno-burguesa sobre todos e, ao mesmo tempo, a extrema flexibilidade dessa moral. 

Desconsiderando os escândalos sobre o “teste do sofá” que o biógrafo da cantora levanta, o que poderia dar dubiedade, aceitemos como louváveis suas declarações de que “Trabalhei muito. Não precisei transar com ninguém para conseguir cantar e fazer sucesso”. A artista afirmou também: “Qualquer mulher que faz sucesso as pessoas acham isso. Nada contra. Eu só especifiquei que eu não fiz isso, mas não tenho nada com quem fez”.

Mas Anitta também narrou como escolheu o dançarino Ayoub: “Que garoto lindo, queria transar com ele. Sabe o que eu fiz? Chamei para gravar um videoclipe. Sempre que quero transar com alguém, chamo para gravar um clipe”. 

O que parece essa prática além de um “teste do sofá”, em que ela subjuga outras pessoas com seu poder econômico e político?

Identitarismo, uma manifestação individualista

Anitta, como tantas outros artistas comerciais, são aclamados pelos identitários justamente por terem abandonado uma perspectiva coletiva e terem assumido um papel de opressão. Transformaram-se em verdadeiros empreendimentos capitalistas. Eles não discutem a libertação das mulheres e demais parcelas oprimidas pelo capitalismo, apenas a libertação e “empoderamento” individuais.

É uma manifestação do anarquismo capitalista nos setores explorados da pequena burguesia, lumpesinato e algumas exceções da classe operária. Defendem a emancipação individual em oposição à luta de classes.

Isso é, por excelência, a ideologia que manifesta os interesses da pequena burguesia. A vontade de explorar o trabalho alheio, somada à necessidade de sobrevivência perante o grande capital.

Moral deles e a nossa

Mesmo sem qualquer pretensão de julgar o trabalho de Anitta, apenas querendo debater uma questão da vida, quando questionei o fato de a artista ter sido colocada como exemplo geral de mulher, recebi uma resposta no mínimo vil. 

Inicialmente, a interlocutora questionou de forma ríspida minhas fontes sobre o “teste do sofá”. Percebi de imediato que não haveria diálogo. Desisti de ocupar aquele momento com algo tão infrutífero quanto um pequeno-burguês ébrio e intransigente.

Mesmo ao deixar expresso meu desinteresse na discussão, minha interlocutora continuou dessa vez alegando que crítica que fiz se dava apenas pelo fato de uma mulher assumir uma posição de poder. Na sequência lançou-me pecha de misógino, moralista, hétero cis, com “pau”.  Nesse patamar achei melhor me retirar para outro ambiente. Estava abaixo da crítica.

Num ponto ela estava certa. Sou um moralista. Tenho uma moral, embora diferente da moral dela. O importante é a quem essa moral serve, se à classe trabalhadora ou aos capitalistas.

A moral, como tudo numa sociedade de classes, serve a algum interesse. A minha moral, e a do meu partido, servem à classe operária. A pergunta que deveríamos fazer é: a quem serve a moral da pequena burguesia?

A polícia político-ideológica

Essa parecia ser a noite que a pequena burguesia reservou para estragar meu lazer. Já em outro ambiente, aparece outra pequeno-burguesa – eram muitos porque é a classe social à qual também pertenço:  a classe média; que naquele ambiente predominava – que me intimou a não discutir mais política naquele evento, como se em algum momento esse fosse meu desejo. Embora a música e algumas companhias fossem do meu agrado, foi o cúmulo da decadência. Despedi-me de todos.

Esse episódio é interessante porque demonstra o caráter e a atuação dos pequeno-burgueses na luta política. Em outras palavras, como a pequena burguesia serve ao capitalismo e alguns traços da ideologia que ela adota.

Assim como os conservadores são verdadeiros policiais dos costumes, a serviço dos capitalistas, a esquerda pequeno-burguesa é uma polícia ideológica, também a serviço do regime político.

A virulência dos ataques identitários e a simples concepção de censurar uma posição divergente demonstram esse papel de censor ideológico. Esse papel é essencial para evitar que a classe trabalhadora se organize de forma independente.

Os trabalhadores devem varrer essas ideologias de suas organizações e de todo o movimento de esquerda. Devem retirar das suas fileiras todos os elementos que insistirem em continuar nessa função de correia de transmissão da influência dos capitalistas no movimento operário.

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*As opiniões dos colunistas não expressam, necessariamente, as deste Diário.

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