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“Papai, invada o Catar”, pede menininho da UP ao imperialismo

Unidade Popular pelo Socialismo não resiste e entre de cabeça na campanha para desestabilizar o país-sede da Copa do Mundo

PSTU, correntes do PSOL, PCB e MRT — quase toda a esquerda ongueira e antipetista — decidiu entrar de cabeça na campanha imperialista e hipócrita contra o regime político do Catar, país-sede da Copa do Mundo de Futebol. Faltava, para completar a seleção escalada pelo Tio Sam, apenas mais uma agremiação: a Unidade Popular pelo Socialismo (UP).

O jornal A Verdade, pertencente à UP, foi incapaz de publicar uma frase sequer anunciando sua posição em relação à campanha anti-Catar. Trata-se, afinal, do curioso conceito de “verdade” que está na moda entre os partidos filostalinistas brasileiros: quem nada fala, não mente. Todavia, o youtuber Ian Neves, que é uma das principais figuras públicas do partido, acabou não se aguentando e resolveu dedicar um vídeo ao assunto.

O título que o rapaz escolheu já é, em si, um estelionato: “O que não te contaram sobre a Copa do Catar”. Na verdade, deveria se chamar: “O que sua mãe, sua avó, seu vizinho, seu colega de trabalho, seu tio, seu professor, seu amigo de ‘esquerda’ e seu amigo de direita já te contaram sobre a Copa do Catar”. Durante dez tediosos minutos, Ian Neves fala exatamente aquilo que todo mundo está falando — isto é, aquilo que a imprensa imperialista está falando. O rapaz utiliza uma matéria da Band de base e, sem tirar nem pôr, cita todos os dados apresentadas pela rede golpista.

Ian Neves começa o vídeo citando a hoje já famosa ladainha de que seis mil imigrantes teriam morrido de tanto trabalhar no Catar. Como a matéria da Band dá uma atenção especial ao Nepal, o youtuber destaca também que dois mil desses imigrantes seriam nepaleses. A primeira coisa que qualquer pessoa séria faria antes de analisar o problema seria apresentar a fonte. O rapaz da UP, no entanto, fia nos devendo. Apresentamos, então, de onde vêm as estatísticas do holocausto catariano.

A primeira vez que apareceu na imprensa a história de que 6,5 mil imigrantes morreram no Catar foi em uma reportagem do jornal inglês The Guardian, publicada em fevereiro de 2021. Todas as matérias sobre o assunto, inclusive a que Ian Neves utilizou em seu vídeo, têm o The Guardian como ponto de partida, Acontece que a matéria não passa de uma obra de propaganda mentirosa e claramente mal-intencionada.

O que a matéria apresenta, em primeiro lugar, é que morreram pouco mais de 6,5 mil imigrantes no Catar nos últimos dez anos. Isto é, 650 imigrantes por ano. Em segundo lugar, e mais importante: a própria reportagem reconhece que os documentos que foram utilizados de base não atestam que essas mortes foram causadas pelas obras da Copa do Mundo. Dentre os 6,5 mil imigrantes, há pessoas de todas as idades, classes sociais e que morreram pelos motivos mais diversos. Ao contrário de Ian Neves, que afirma categoricamente que esses imigrantes foram mortos por causa da Copa — será que ele foi para o Catar e é mais bem informado que o próprio governo catariano? —, o The Guardian, que é a fonte original da calúnia, insinua que possivelmente a Copa teria matado esses milhares de pessoas. Lógico que a matéria do The Guardian tem como objetivo dar a entender que o governo catariano é genocida e assassinou seus imigrantes — o jornal só não o faz abertamente para não perder ainda mais sua credibilidade, relegando essa tarefa a seus papagaios de plantão, como Ian Neves.

O governo do Catar reconhece apenas 37 mortes de imigrantes que trabalhavam na construção civil, sendo apenas 3 mortes diretamente ligadas à atividade de construção da infraestrutura da Copa do Mundo. Não havendo uma contestação dos trabalhadores dos números oficiais, nem de uma investigação séria, que demonstrasse algo diferente, os números apresentados pelo The Guardian não possuem validade alguma.

Mas o sábio youtuber tem provas! Ele nos explica que a esmagadora maioria dos imigrantes morreram por “parada cardíaca”, o que, na verdade, significa que as pessoas morreram por causa do calor e, portanto, assim está demonstrado que essas pessoas perderam a vida batendo prego para erguer um estádio. Genial, não?

Novamente, somos obrigados a discordar do conceito de “verdade” que a que a UP gosta de aplicar. Dizer que a maioria dos imigrantes morreu de parada cardíaca é simplesmente mentira. O que a matéria do The Guardian diz é que cerca de 80% dos imigrantes morreram de “causas naturais”, o que é bem diferente de “parada cardíaca”. E não custa lembrar que paradas cardíacas e paradas respiratórias estão entre as principais causas de morte em qualquer país do mundo…

Como Ian Neves sabe que a temperatura no Catar é tão quente, se suas análises são feitas de dentro de um estúdio a milhares de quilômetros de distância? Ora, porque ele leu, em algum lugar, essa informação. Como, por exemplo, nos relatórios da ONG imperialista Anistia Internacional, que diz:

“Na última década, milhares de trabalhadores migrantes morreram repentina e inesperadamente no Catar, apesar de passarem nos exames médicos obrigatórios antes de viajar para o país. Ainda apesar de claro evidências de que o “estresse térmico” representa enormes riscos à saúde dos trabalhadores, e um estudo sugerindo que centenas de vidas poderiam ter sido salvas com medidas de proteção adequadas, permanece
extremamente difícil saber exatamente quantas pessoas morreram como resultado de suas condições de trabalho”.

A Anistia é clara: “embora não possamos provar, o motivo pelo qual os imigrantes estão morrendo é a falta de políticas públicas do governo catariano para proteger os trabalhadores das altas temperaturas”. O que a Anistia não consegue explicar, no entanto, é: por que o governo seria tão negligente com a saúde dos trabalhadores que estão construindo o país e, ao mesmo tempo, o Catar é um dos países que melhor controlou a pandemia de coronavírus — com pouco mais de 600 mortes —, construiu dez hospitais em dez anos e disponibiliza saúde, água e luz gratuitos para todos? Vai ver, é um desejo sádico específico em ver imigrantes derretendo…

Visto tudo isso, Ian Neves deveria ainda parar e fazer algumas contas. O que realmente significa dizer que 6,5 mil imigrantes morreram no Catar — ou que 2 mil nepaleses morreram em dez anos? Os imigrantes são a esmagadora maioria da população do Catar (78,8%). Há cerca de 700 mil indianos no país árabe e 260 mil nepaleses. 2 mil mortos em 10 anos — 200 mortos por ano — equivale a uma taxa de mortalidade de 0,08%. Uma das menores do planeta, 12 vezes menor que a dos Estados Unidos e 7 vezes a do próprio Nepal! O risco de um nepalês vivendo no Nepal morrer é 7 vezes maior do que se for para o Catar!

Por que falar tanta besteira de um país que nem conhece? Porque o objetivo de Ian Neves não é discutir, em abstrato, a situação do Catar, mas defender uma posição: a de fazer eco ao que a imprensa imperialista está falando para pintar o Catar como o lugar mais injusto, cruel e desumano do planeta. Da forma como aqueles dedicados à campanha anti-Catar falam, mais parece que o país é a expressão mais bem acabada da barbárie, que os 6,5 mil trabalhadores foram mortos, literalmente, de tanto trabalhar. Que seus corpos estão espalhados pelo chão e que são chicoteados dia e noite.

Essa posição cumpre um único propósito: desestabilizar um país que, neste momento, tem aumentado suas contradições com o imperialismo. Afinal de cintas, o Catar sedia a maior rede de comunicação do mundo árabe, a Al Jazeera, e vem se aproximando dos chineses e russos. O objetivo da campanha é, portanto, indispor a “opinião pública” contra o governo “terrível” do Catar para o momento em que o imperialismo decidir intervir mais duramente no país.

No que depender do youtuber da UP, contudo, essa hora já chegou. De maneira precoce, o rapaz já praticamente pediu, no final do vídeo, para que os Estados Unidos e a União Europeia invadam o Catar. Ian Neves se queixou de que os países imperialistas fechavam os olhos para a situação de “escravidão” no Catar, que só agiam quando houvesse algum interesse seu em jogo. O youtuber já deu o seu recado: no momento em que o imperialismo estiver disposto a levar adiante essa “missão civilizatória”, terá o seu apoio.

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