Pedro Castillo

Os erros da esquerda peruana que levaram ao golpe de Estado

O golpe de Estado no Peru mostra mais uma vez o fracasso da política de se aliar à direita, uma capitulação que aumenta o flanco do governo para o ataque dos golpistas

O Golpe de Estado no Peru contra o presidente Pedro Castillo é um alerta para todas as nações do continente de que os ventos golpistas não mudaram, muito pelo contrário. É também um importante exemplo que revela as políticas erradas tomadas pelos governos nacionalistas e de esquerda que abrem o flanco de ataque para o imperialismo e a direita golpista.

Pedro Castillo é um professor que em sua juventude na década de 1980 participou das Rondas Campesinas, que se colocavam contra o movimento de guerrilha do Partido Comunista do Peru, Sendero Luminoso. Ele concorreu à presidência pelo Partido Político Nacional Peru Livre, PL, no ano de 2021 vencendo a filha do ex-ditador peruano Keiko Fujimori. Sua vitória foi considerada uma vitória da esquerda, apesar de dúbia, devido ao próprio Castillo, uma espécie de peixe fora d’água dentro do PL.

Uma enorme crise política estava em andamento no Peru desde o ano de 2018. No mês de março o presidente PPK renunciou, nos dois anos subsequentes o país ainda teria mais três presidentes antes da eleição de Castillo. A crise dos partidos da direita abriu margem para a vitória da esquerda, que foi capaz de vencer as eleições contra a extrema-direita mesmo com um candidato desconhecido até então da população. O Peru não possui uma figura como Lula, Kirchner e Morales que são os candidatos naturais nas eleições na América Latina.

Assim, o primeiro erro do PL foi a escolha do próprio Pedro Castillo, um candidato que não tinha ligação com a esquerda e os movimentos populares, e um passado ligado as organizações de direita dos fazendeiros peruanos. Isso ficou evidente durante o seu governo quando ele se afastou de seu partido que rachou com Castillo ainda em outubro de 2021, apenas 3 meses depois do início de seu mandato. O motivo do embate foi a troca dos ministros de esquerda, ele tentou governar se apoiando na direita.

O segundo erro do PL foi na escolha da candidata a vice-presidência, ainda mais direitista que o próprio Pedro Castillo. Dina Boluarte foi uma das artífices do golpe de Estado da última quarta-feira. O vice-presidente é sempre um potencial golpista e na América Latina não se pode brincar no quesito golpe de Estado. No Brasil o PT cometeu o mesmo erro com Michel Temer, um erro gravíssimo. E seguiu tomando a política errada no ano de 2022 com a escolha de Geraldo Alckmin como vice de Lula. O PL nesse sentido capitulou na escolha tanto do presidente quanto de sua vice.

Em oposição ao caso peruano está o caso da Venezuela, o único país da América do Sul onde o governo da esquerda não sofreu um golpe de Estado. Lá, Maduro e o PSUV governam apoiados nas organizações populares. Maduro era o vice-presidente de Hugo Chávez, um homem de sua confiança. Quando esse estava com câncer e sabia que poderia falecer ou adoecer a ponto de não governar e assim deixar o governo em situação mais instável dada a sua popularidade pessoal. Maduro seguiu o legado do ex-presidente Chavez pois é um militante do movimento e não um oportunista como Alckmin e Boluarte.

O terceiro erro do caso peruano não foi do PL, mas do próprio Castillo. Ele acreditou que conseguiria governar se apoiando na direita, como dito acima, trocou os seus ministros a ponto de rachar com seu próprio partido no Congresso. A direita o pressionava e ele cedia trocando um a um os ministros e outros membros do governo acreditando que assim a ela seria a sua base de sustentação. Da mesma forma ele se colocou contra a Venezuela e a contra a Rússia para agradar esses setores.

Mas a sua movimentação cada vez mais à direita não adiantou. No fim ele havia perdido o apoio da esquerda, alguns até votaram, em coro com a direita, por sua destituição. Já  a direita, que tanto pressionou para controlar o seu governo, fez a pressão final para derrubar o próprio Castillo por meio do Congresso Nacional. O caso não é tão diferente do que houve com Dilma nos anos de 2015/16 e é um alerta vermelho para o governo Lula. Ceder a pressão da direita apenas aumenta a força dos golpistas, que ganham cada vez mais terreno enquanto o governo perde base social.

Pedro Castillo ante a iminência de derrubada do seu governo tentou fazer uma jogada arriscada, ser o líder do golpe de Estado contra o Congresso apoiado sob as forças armadas. O cálculo foi totalmente fracassado, nem a sua própria guarda pessoal estava do seu lado, eles o detiveram, levaram para a delegacia onde ele ficou até ser levado ao presídio após uma sentença da Suprema Corte, que obviamente estava aliada aos Congresso golpista. É um caso clássico latino americano, o legislativo controlado pela direita se alia com o judiciário e as forças armadas para derrubar o presidente.

Castillo não é e nem tentou ser um grande líder de massas, não há imagens suas como dos líderes latino americanos em grandes comícios populares. O presidente do México, Lopez Obrador, por exemplo, que não é nenhum grande líder de esquerda ao ser pressionado pela direita golpista, chamou uma grande mobilização da Cidade do México. Castillo, até quando o governo estava prestes a cair tentou se aliar à direita, às forças armadas, e não aos trabalhadores peruanos.

A classe operária peruana por sua vez compreende que o golpe contra Castillo é um ataque da direita aos trabalhadores. As manifestações de rua começaram no próprio dia do golpe e pedem o fechamento do Congresso, novas eleições e uma nova constituinte, para eleger um novo governo, sob o controle da população. As manifestações, no entanto, não têm uma liderança clara para dirigir o movimento. Castillo além de preso já se mostrou incapaz de se tornar uma liderança popular e o PL também não ocupa o espaço que naturalmente seria seu.

O caso do Peru deve servir de aviso aos trabalhadores de toda a América Latina e especialmente aos brasileiros, bem como ao PT e ao próprio Lula. Aqui a situação é melhor que a de nossos vizinhos, existe um movimento popular organizado que conseguiu impor uma derrota aos golpistas e eleger Lula. Mas no futuro próximo as tentativas de golpe voltarão, o presidente Lula nesse sentido deve repudiar totalmente as políticas de Castillo e se inspirar no exemplo de sucesso de Nicolás Maduro, governar apoiado na mobilização popular.

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