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Ric Jones

Médico homeopata e obstetra. Escritor, palestrante da temática da Humanização do Nascimento no Brasil e no exterior.

Os botes cubanos

Os botes de Cuba

Cubanos se jogam ao mar para abraçar o sistema que os oprime

Não se passa um dia sequer que eu não escute ou leia de um liberal a seguinte frase, normalmente dita ou escrita com sofisticada empáfia, digna da mais absoluta lacração:

“Nunca vi um americano pegando um bote e fugindo pra Cuba”.

Esse é o mantra dos direitistas, que enxergam apenas a superfície dos fatos, sem entender o que leva as pessoas a fazer esse movimento dramático de fuga de seu país. Dica: não é em busca de liberdade. Até porque o migrante que vai dividir um quarto de 3×3 com 16 pessoas, depois de atravessar um deserto ou se jogar em um mar cheio de tubarões e ratos americanos para quase morrer de sede, não está preocupado com sua liberdade pessoal. O que deseja é uma chance de ascender.

Acham mesmo que um americano pobre da periferia das grandes cidades, nas favelas de Detroit, que urina em banheiro químico, sem teto que mora numa tenda de lona no bairro Skid Row em Los Angeles, não tem dinheiro pra tratar os dentes, tem uma qualidade de vida subsaariana, mora num deserto alimentar, não tem SUS e só pode ser atendido por caridade, seus filhos não tem escola decente e morre de medo de ser espancado e morto por gangues – ou, pior ainda, pela polícia – não aceitaria fugir para um país onde segurança, educação, saúde e moradia são garantidas pelo Estado? Acha mesmo que eles se importam com uma noção idealista de “liberdade” quando a materialidade de suas vidas apresenta a prisão da miséria? E sabe por que eles não fazem isso? Porque são tão miseráveis no capitalismo que não teriam condições sequer de comprar um bote, e também porque a sociedade cubana não poderia suportar os milhões de americanos que fariam essa travessia.

Parece exagero? Olhem para o norte do México e verão cidades inteiras onde o inglês virou a língua mais falada. Existe uma crescente emigração de aposentados americanos para cidades como San Miguel de Allende para que possam viver uma vida com clima melhor e com saúde mais barata do que aquela do sistema privado americano. Nos Estados Unidos mais de 70% dos americanos desejam uma modelo único de saúde, mas isso nunca esteve mais distante do que hoje, pois os governantes sonegam dos cidadãos esse sistema por interesses econômicos, e porque as eleições americanas são uma farsa comandada pelo deep state, onde os presidentes são apenas os CEOs de uma empresa cujos donos são os capitalistas.

“Ahh, mas os imigrantes nos Estados Unidos são atendidos através do Charity Care”. Sim, é verdade, porém é preciso entender que a caridade que eles recebem lhes transforma em cidadãos de segunda classe e que esse benefício recebido por eles é pago por toda a periferia do capitalismo que sustenta o império. Somos nós, o terceiro mundo, que garante – com seu trabalho e seus recursos – a opulência obscena dos países imperialistas. Acham mesmo que a qualidade de vida dos americanos – um modelo que vai esgotar os recursos do planeta em breve – é produzida pelo sistema capitalista concentrador de renda, que só é mantido por meio da violência e que condena milhões a não ter sequer o que comer, negando aos seus cidadãos abrigo e segurança? Não, isso é o resultado do imperialismo opressor, que condena a periferia ao servilismo.

Para quem acha o modelo socialista cubano ruim tenha ao menos a honestidade não o comparar com os países imperialistas, como o seu vizinho, os Estados Unidos – com seus 8 milhões de km2 e seus mais de 330 milhões de habitantes. Compare Cuba com o Haiti, com Honduras, com a Jamaica, com El Salvador ou a República Dominicana. Todos de origem étnica e história semelhantes; todos capitalistas e todos miseráveis – com exceção de Cuba, que ofereceu dignidade humana a quem mora lá. O Haiti, por exemplo, tem um PIB 10x menor que o de Cuba, e todos esses países capitalistas tem migrantes que fogem para os Estados Unidos, México e até mesmo para o Brasil.

Entendam… o socialismo tornou o país mais pobre da Europa – a Rússia – em uma potência nuclear e um player no debate político, econômico e cultural contemporâneo. O socialismo transformou o país mais pobre e mais explorado da Ásia – a China – em uma enorme potência econômica, industrial e tecnológica. Cuba se tornou um país melhor, sendo referência mundial em educação e saúde. Agora… tome 5 minutos para pensar como a ilha seria sem o embargo cruel dos americanos. Agora reserve outros 5 minutos para entender que o embargo é exatamente para que a ilha não possa florescer e mostrar ao mundo que um outro modelo político e outro estilo de vida é possível.

E por fim, não me venham falar de capitalismo e “liberdade”, pois que esse modelo se importa tão somente com a propriedade privada. Os capitalistas do mundo inteiro jamais se importaram que seu sistema abrigasse a escravidão, o apartheid e o jugo imperialista sobre outras nações. Por que se importariam com a real liberdade de seus cidadãos se ela representa o fim dos seus privilégios?

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*As opiniões dos colunistas não expressam, necessariamente, as deste Diário.

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