No último dia 17, o Sindicato dos Trabalhadores da Comunicação (CWU, na sigla em inglês) publicaram seu calendário de paralisações para o final do ano. Os mais de 115 mil trabalhadores dos correios britânicos filiados à CWU estarão em greve nos dias 9, 11, 14 e 15, além dos dias 23 e 24, às vésperas da maior data comercial do ano, o Natal. As paralisações propostas se somam às de novembro, realizadas nos dias 24, 25 e 30, que atingirão outra data comercial importante, a Black Friday, que concentra as maiores promoções do varejo no ano.
“A CWU quer um acordo negociado com a Royal Mail e continuará a trabalhar com a empresa para este fim,” disse um líder sindical à reportagem do portal Reuters. “Mas aqueles que comandam a Royal Mail precisam acordar e compreender que nós não vamos deixar que eles destruam as condições de vida dos trabalhadores dos correios.“
A luta dos trabalhadores dos correios britânicos está em curso desde setembro e não está sozinha. Somam-se a eles setores importantes como o dos profissionais de saúde, em particular do Serviço Nacional de Saúde (NHS, em inglês), os ferroviários e os aeroportuários. No dia 9 deste mês, a Escola Real de Enfermagem (RCN, em inglês), que representa aproximadamente 500 mil trabalhadores, anunciou a primeira greve em escala nacional desde sua fundação, há 106 anos. De acordo com o The Guardian, o feito inédito deve influenciar as demais organizações sociais da área da saúde, que representam mais 350 mil trabalhadores, a aderirem à paralisação.
Os ferroviários, apesar de terem adiado suas paralisações algumas vezes desde setembro, estarão em greve na próxima quinta-feira, ao menos em Londres. A paralisação dos mais de mil membros da Unite afetará a malha metroviária da capital britânica. Finalmente, os trabalhadores do aeroporto de Heathrow também estarão em greve este mês o que afetará aqueles que pretendem, por exemplo, viajar ao Qatar para a Copa do Mundo.
Batendo recorde após recorde, a inflação no Reino Unido já ultrapassou a marca dos 11,1% e é a maior dos últimos 41 anos. Além de terem seu poder de compra corroído pelo “mal econômico”, diversas das categorias em greve passaram por grandes dificuldades no último período. Durante a pandemia, por exemplo, carteiros e enfermeiros trabalharam horas intermináveis para atender à crescente demanda por seus serviços. No caso dos aeroportuários e ferroviários houve demissões em massa durante a crise de saúde pública e, agora, o setor está totalmente sobrecarregado e sem compensação.
A crise, naturalmente, explodiu nos setores mais atingidos pela política do Partido Conservador, mas é sentida pelo conjunto da população britânica. Rishi Sunak assumiu o cargo de primeiro-ministro no final de outubro, após sua antecessora, Liz Truss, não ter se sustentado nem ao menos 45 dias no poder. O chanceler de Sunak, diante de uma ascensão operária, promete aumento de impostos e manter a responsabilidade fiscal, seguindo a cartilha de seu partido, mas abre margem para a possibilidade de um auxílio emergencial que os sustente no poder. Será que Sunak vai sobreviver no cargo por mais tempo que sua antecessora?
Os Conservadores evitam ao máximo falar em novas eleições porque sua derrota está mais do que certa. Ainda assim, as cartas em seu baralho estão acabando e as mobilizações operárias não dão sinal de trégua.