O Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) falsifica a realidade para começar seu movimento de oposição ao governo Lula, o que, na verdade, corresponde a um alinhamento com a direita. O título da matéria publicada em seu sítio: “Todo apoio à luta do povo peruano contra o governo golpista de Boluarte, apoiado por Lula”, assinada por André Barbieri, já dá o tom da falsificação.
Vejamos o trecho do próprio Esquerda Diário dizendo que “há uma semana, Lula havia saudado o governo Boluarte” e reproduz o texto seguinte de Lula: “É sempre lamentável que um presidente eleito democraticamente tenha este destino, mas entendo que tudo foi submetido dentro da estrutura constitucional […] O que o Peru e a América do Sul precisam neste momento é de diálogo, tolerância e convivência democrática. […] Espero que a Presidenta Dina Boluarte tenha êxito em sua tarefa de reconciliar o país e conduzi-lo no caminho do desenvolvimento e da paz social”(grifo nosso).
Com base no texto acima, temos de perguntar: onde está o apoio de Lula ao que Dina Boluarte vem fazendo em sua gestão? Primeiro, é preciso lembrar que o Brasil não pode simplesmente se meter em assuntos internos de outro país. Segundo, quando alguém diz que é preciso diálogo, tolerância, e convivência democrática, isso soa muito mais como crítica do que apoio. No final, Lula diz que espera que o novo governo consiga a reconciliação e a paz social. Não existe apoio, mas o MRT precisa forçar a barra para justificar sua oposição a priori ao governo Lula, que sequer foi empossado.
Indicações
O MRT sabe, ou deveria saber, que o governo vai ter que negociar para conseguir governar minimamente, mas o grupo publica outra matéria dizendo que “Com Alckmin e França em pastas chaves, novo governo Lula abre espaço para a direita”. Embora achemos que Alckmin na chapa de Lula tenha sido um erro, nem por isso mantemos uma posição corrosiva, nosso intuito, isso sim, é o de forçar o governo mais à esquerda. Defendemos que é preciso fortalecer os Comitês de Luta e colocar o povo nas ruas para que o governo possa ter força para fazer reformas sociais. Não adianta simplesmente criar-se uma cisão em uma gestão que ainda não começou a governar.
Os nomes de Alckmin e Márcio França são ruins, mas nomes como Haddad, Mercadante, Luiz Marinho no Ministério do Trabalho também fazem parte das nomeações. Todas essas figuras, que estão realmente em postos-chaves, desagradam profundamente a direita, ou o ‘mercado’. Os dois primeiros a matéria simplesmente ignora. Terá sido esquecimento do Esquerda Diário?
Futurologia
Lula, embora esteja desagradando a direita em pontos essenciais, é criticado, como vimos, por oferecer “ministérios de enorme peso econômico e político para a direita, abrindo espaço à burguesia e ao grande capital com nomeações neoliberais”. O MRT já fechou questão de que a próxima gestão será neoliberal e ainda estamos em 24 de dezembro.
O MRT tira todas as conclusões a partir de fatos absolutamente corriqueiros, coisas que são comuns a todos os governos recém-eleitos, como conversas, visitas e telefonemas recebidos de outros governos. É claro que os EUA vão pressionar o governo Lula. Mas o MRT já declara em tom de acusação que: “Lula recebeu uma delegação de representantes do Partido Democrata, liderada por Jake Sullivan, assessor de segurança nacional de Biden, em que discutiram a região. Biden aposta que o Brasil, como o principal país da América do Sul, será um parceiro confiável sob o governo de Lula”.
Nós, diferentemente do MRT, não sabemos que tipos de apostas Joe Biden vem fazendo. Agora, supondo que tivesse apostado nessa possibilidade citada acima, isso faz de Lula um parceiro confiável? Putin conversou com o petista durante meia hora. Quais conclusões o MRT deriva desse fato? E o que dizer da carta de Xi Jinping a Lula?
Golpes baixos
O MRT insiste no truque de grafar ‘governo Lula-Alckmin’ para indispor a esquerda contra a futura gestão. Quem disse que Alckmin vai presidir o Brasil junto com o petista? Esse grupo chega ao cúmulo de dizer que o próximo governo “não se distingue substancialmente da [posição] do próprio Bolsonaro, que também saudou o governo Dina Boluarte”. Não basta sugerir uma parceria com Biden, é preciso forçar e praticamente igualar “Lula-Alckmin” a Bolsonaro. Esse é o nível do debate que a esquerda que se diz revolucionária está se propondo a fazer.
Depois de atribuir, sem conseguir provar, um apoio de Lula a Dina Boularte, o MRT diz que isso “Não apenas indica a força que os setores da direita neoliberal possuem dentro do governo, mas também a aproximação de Lula com Joe Biden e a fração Democrata do imperialismo norte-americano, que sustentou a chapa Lula-Alckmin durante a campanha presidencial. Mais uma vez, fica exposto caráter farsesco da retórica de Lula sobre o resgate “da autonomia regional”, com uma política que preserva a América Latina sob o poder das articulações arbitrárias de Washington” (grifos nossos),
É preciso repetir, o governo Lula ainda não iniciou e o MRT diz que ‘Lula-Alckmin’ está preservando a América Latina sob as articulações de Washington. Diz que o partido Democrata sustentou a chapa.
Reprise do filme
Todo o barulho que o MRT vem fazendo nada mais é do que uma posição sectária. O grupo já tem questão fechada com relação a Lula. Basta lembrar que o Psol foi criado para se opor ao PT. Oposição pela esquerda, eles diriam, mas não tem sido assim na prática.
O Psol esteve, é bom lembrar, em movimentos como o Não Vai Ter Copa, junto com PSTU e Rede. Lideranças, como Luciana Genro, apoiaram a Lava-jato. O PSTU é o partido que também vive dizendo que os governos Lula e Dilma foram neoliberais e por isso apoiou o golpe contra Dilma Rousseff.
Esses movimentos, como o Não Vai Ter Copa, serviram como porta de entrada para o golpe de Estado de 2016. O golpe que, justamente, aprofundou as políticas neoliberais implementadas pelo governo Temer. Ainda que digam que estão combatendo o neoliberalismo, estão, de fato, servindo de base para que ele consolide.
Ninguém deve se impressionar com essa gritaria ‘esquerdista’ do MRT, o que estão fazendo é uma espécie de ‘Fora Todos’ usado pelo PSTU para apoiar o golpe que empossou Temer.
A esquerda precisa ficar atenta a esse tipo de debate falso e entender que esse tipo de oposição, embora se pinte de esquerda, servirá unicamente aos propósitos do imperialismo contra a classe trabalhadora.