“A vida de nenhum peruano merece ser sacrificada por interesses políticos. Expresso minhas condolências pela morte de um cidadão em Andahuaylas. Reitero meu apelo ao diálogo e ao fim da violência,” declarou a recém-empossada presidenta do Peru, Dina Boluarte, ao mesmo tempo que ordenava seu aparato repressivo a conter violentamente protestos populares contestando sua ascensão ao poder. A repressão é tão dura que não poupou sequer menores de idade, como foi o caso de um jovem de 15 anos assassinado pela polícia, identificado apenas por suas iniciais D. A. Q. pela Coordinadora Nacional de Direitos Humanos (CNDDHH), organização não-governamental peruana. A atuação criminosa das autoridades em Andahuaylas ainda deixou outra vítima: Becam Romario Quispe Garfias, de apenas 18 anos.
Até mesmo a Organização das Nações Unidas viu-se forçada a fazer um pronunciamento, condenando a morte de um menor de idade nas manifestações. “Fizemos um chamado à realização de uma investigação imediata, imparcial e exaustiva dos atos, proporcionando acesso à justiça aos familiares das vítimas,” declarou o perfil da missão peruana da ONU no Twitter. A declaração é no mínimo cínica se considerado que vem 4 dias após o português António Guterres, secretário-geral da instituição, ter condenado tentativas de “subversão” da ordem democrática no Peru. O posicionamento refere-se à tentativa desesperada do presidente em exercício, Pedro Castillo, de dissolver o Parlamento, que já havia tentado derrubá-lo em duas oportunidades e preparava o terceiro pedido de impeachment.
Apesar da dura repressão, a luta em Andahuaylas não é totalmente unilateral. Manifestantes ocuparam o aeroporto local e tomaram como e fizeram diversos policiais de reféns, segundo reporta o portal Resumen Latinoamericano. Na capital do Peru, Cusco, trabalhadores seguem em greve por tempo indeterminado exigindo a soltura do presidente democraticamente eleito.
A detenção de Castillo levou milhares de pessoas às ruas do Peru. Boluarte, sua vice e atual presidente, governa com o Congresso fujimorista, liderado pela filha do ex-ditador peruano, Keiko Fujimori. A população, especialmente os trabalhadores peruanos, rejeitaram o golpe parlamentar, apesar da constante evolução do presidente à direita ao longo de seu mandato, em busca de uma governabilidade agora visivelmente impossível.
A população enfrenta-se nas ruas das principais cidades do país contra a polícia e notícias de outras arbitrariedades, como sequestro de manifestantes por parte de policiais, já se espalharam pelas redes sociais. Vladimir Cerrón, líder do partido de esquerda Perú Libre – pelo qual Castillo se elegeu, mas com o qual rompeu -, convocou corretamente sua militância a lutar contra o golpe. “A Assembleia Nacional do Perú Libre solidariza-se com Pedro Castillo, denuncia sua detenção arbitrária e ilegal e exige a sua libertação imediata,” diz mensagem fixada em seu perfil no Twitter.