Ambientalistas

Mais divagações sobre uma brasileira no exterior

Sobre os protestos que depredam obras de arte

Hoje divagando sobre o tema do Vandalismo Artístico. Mais perguntas do que respostas

No dia 15 de novembro, dia de São Leopoldo, o padroeiro de Viena, o Museu Leopold, para comemorar a data, liberou a entrada dos visitantes, com a estimativa de receber cerca de 3 mil pessoas.

Nesse mesmo dia, ativistas do grupo “Ultima Geração da Áustria” (Letzte Generation Österreich) conseguiram esconder um oleoso líquido preto numa bolsa de água quente por baixo da roupa e passaram pelos rígidos controles de segurança na entrada do museu e jogaram o líquido no quadro “Vida e Morte” (Tod und Leben, c.1911), que Klimt pintou. A empresa petrolífera austríaca, a OMW (Österreischische Mineralölverwaltung AG), foi a patrocinadora do evento.

Em entrevista coletiva, o diretor do museu, Hans-Peter Wipplinger, declarou que embora as preocupações dos ativistas ambientalistas fossem “justificadas” (aspas minhas), “o ataque às obras de arte é definitivamente a maneira errada de atingir o objetivo desejado de evitar o colapso climático previsto. Os museus são instituições preservadoras e, nesse sentido, um excelente exemplo de sustentabilidade.”

Houve também uma carta aberta de outros gestores de museus austríacos, membros da Associação de Museus da Áustria (Museumsbund Österreich), salientando que os museus, tanto em suas operações quanto nos seus programas de exposições e de educação, têm se esforçado para dar uma “contribuição de alto nível” à questão ambiental, existindo, portanto, “uma identificação dos museus com as preocupações de proteção climática”. Porém, os museus, por serem “responsáveis pela documentação e preservação do patrimônio natural e cultural”, apelam “urgentemente” a todos os ativistas ambientais “para que se abstenham de qualquer ação que ponha em perigo a preservação do patrimônio natural e cultural e o papel dos museus como lugares de educação e aprendizado” (Kurier Chronik, “So reagieren österreichische Museen auf Klimt-Attacke von Klima-Aktivisten”, por Michaela Reibenwein).

Na sua fala, os ambientalistas justificaram o seu protesto alegando, estarem “desesperados” e que o problema da destruição do planeta já vem há mais de 50 anos e que as emissões de carbono continuam mais “altas do que nunca e que os governos têm que assumir as suas responsabilidades”.

A regra número um numa democracia, todo mundo deve ter o direito de se manifestar. Ponto.

Mas não deixa de ser interessante analisar este tipo de protesto que tem ganhado cada vez mais espaço nos últimos anos. Essas manifestações performativas e depredativas, de cunho propagandístico, são métodos imperialistas que visam tentar apropriar-se de patrimônios culturais e desviar o foco do essencial que é a luta dos oprimidos contra os opressores. Nessas ações, se tenta chamar a atenção de forma agressiva e afrontosa de figuras e fatos históricos que teriam colaborado ou até seriam a razão dos problemas que vivemos atualmente.

No caso dos ativistas austríacos, eles protestaram contra uma empresa petrolífera que supostamente seria a razão de todos os males do país e cujos produtos seriam responsáveis pelas dificuldades dos agricultores e, consequentemente, para as pessoas em geral. Na analogia que tentam fazer com o motivo do quadro: o petróleo representaria a morte e a ausência do petróleo representaria a vida? Mas o que estamos vivenciando é exatamente o contrário. Então, essas manifestações ambientalistas não são baseadas na realidade, mas numa suposta teoria e interpretação da realidade.

O problema que atinge a população não é o fato da empresa petrolífera patrocinar um evento num museu, o grande problema da população é o preço que ela está tendo que pagar para sobreviver (aqui abro um parêntese para um “momento nostalgia”: os velhos tempos em que no final de alguns bons filmes, discos, eventos culturais, em geral, aparecia: patrocinador: Petrobras). Voltando aos problemas reais que é ter que disponibilizar mais de 60 ou 70% do orçamento familiar para pagar as contas de energia, enquanto os governos fazem uma encenação de moral dupla: acusam, sancionam, esperneiam contra o gás e petróleo russos, dizem que vão se livrar da dependência às importações de produtos russos, mas no mercado negro, as empresas distribuidoras seguem comprando os mesmos famigerados produtos russos. Sem falar da grande parte dos grãos russos destinados para a alimentação mundial que foram surrupiados para a produção do chamado biocombustível na Europa. Espera, notícia falsa? Teoria da conspiração? Caro leitor, se está passando essas suspeitas por sua cabeça, não o condeno. Muito provavelmente você não leu isso em nenhum órgão da imprensa tradicional e tão pouco assistiu num noticiário da tv aberta, nem na paga. Mas garanto que as conspirações não se encontram só nas teorias que não são divulgadas nesses meios de comunicação.

E, lembremos, nenhuma fonte de energia pode ser totalmente “limpa” com políticas sujas.

Para terminar, novamente uma dica: que tal em vez de depredar e danificar obras de arte, monumentos históricos, dirijam os protestos contra as políticas hipócritas e que atendem, em primeira instância, aos interesses dos nossos opressores?

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Vídeo com a fala dos ativistas:

Öliger Protest im Leopold-Museum: schwarze Farbe auf Klimts “Tod und Leben”

Tradução da fala:

“Sabemos deste problema há 50 anos. Devemos finalmente agir – o planeta está sendo destruído. Sabemos do problema há 50 anos, as emissões são mais altas do que nunca. Por que não paramos finalmente com isso? Nosso governo deve assumir a responsabilidade. A agricultura não funcionará mais, as pessoas vão ser atingidas. Temos que agir agora. Empresas como a OMV estão patrocinando esta exposição, por exemplo, elas querem lavar as mãos com tais subsídios, assim como a indústria do tabaco. Atrás de mim está a pintura “Morte e Vida”, foi exatamente o que Gustav Klimt pintou naquela época, hoje se trata exatamente desta questão e desta decisão. Decidimos pela vida, nem pela sobrevivência da humanidade, ou continuamos a destruir nosso mundo com combustíveis fósseis. Mortos ou vivos – essa é a decisão que temos que tomar agora. Essa é a decisão que a política tem que tomar agora.”

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