A participação de Lula no podcast foi relativamente curta, não chegando a totalizar 2 horas de conversa. Por volta da metade do programa, foi questionado pelo apresentador Igor a respeito da famosa “autocrítica do PT”, necessidade inventada pela imprensa golpista e propagada por setores da esquerda pequeno-burguesa, em especial do PSOL.
Em meio à campanha de ataques da burguesia contra o PT, surgiu uma pressão pela tal “autocrítica”. Na verdade, o que se queria era que os petistas ajoelhassem no milho em autopenitência por causa do que seriam os maiores escândalos de corrupção de toda a galáxia. Algo duplamente esdrúxulo. Primeiro, porque nunca se cobrou esse tipo de autopenitência de ninguém na política, e além disso, os processos jurídicos contra a “corrupção do PT” foram todos eles farsescos, do Mensalão à Lava Jato.
Como militante experiente que é, Lula não titubeou diante do resgate desse problema: “é fantasticamente engraçado as pessoas pedindo pro PT fazer autocrítica”. Muitas vezes, pontuar o óbvio é a argumentação mais sábia diante do absurdo: “se eu fizer autocrítica todo dia, eu não preciso de oposição, a oposição é quem tem que me criticar, por que eu mesmo tenho que me criticar?”
Em seguida, associou a campanha de perseguição da imprensa ao PT às conquistas sociais obtidas pela população trabalhadora durante seus governos. Não por acaso, o próprio apresentador do podcast foi beneficiário de um dos programas sociais impulsionado pelos petistas, o ProUni. Mesmo que consideremos esses programas insuficientes, faz parte da experiência concreta da população o impacto deles na vida de muitas pessoas.
Ao invés de adotar uma postura defensiva e começar a se explicar, Lula se comportou de maneira altiva, sem vestir a carapuça. Essa lorota de autocrítica unilateral foi uma manobra da direita, com ajuda da esquerda pró-imperialista, para esconder o golpe, atribuindo a culpa do processo ao próprio PT. Um cinismo típico da burguesia, que conseguiu intimidar gente dentro do partido, mas não uma liderança que emergiu da dura luta sindical como Lula.
A postura do PT em relação à conversa fiada sobre corrupção precisa ser mais firme, ao exemplo de Lula que debochou dessa palhaçada de autocrítica. Ele foi bastante claro nesse sentido, não faz sentido o PT fazer oposição a si mesmo quando está cercado de adversários para fazer isso. O petista colocou essa questão justamente denunciando o golpe de Estado, que foi a culminação de toda campanha de perseguição judicial apoiada pelo monopólio das comunicações.
Mais Lula, menos estrategistas contratados. É preciso trocar chumbo e não oferecer a outra face ao debater política, ainda mais durante uma disputa tão importante. Parafraseando manifestantes da esquerda na luta contra o golpe, autocrítica é meu zovo.