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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Identitarismo é um inimigo

A COP27, o ambientalismo e a luta contra o identitarismo

A política imperialista por trás da COP27 não é bom conselheiro para o desenvolvimento do Brasil, devendo servir apenas como exemplo a não ser seguido

Com febre, dores no corpo, tosse seca, garganta inflamada e diarreia, não pude trabalhar e por isso fiquei diante do televisor. Os principais temas dos noticiários, durante essa fatídica situação, foram o debate de como desestabilizar o futuro governo Lula e como deve ser a participação de Lula na Conferência do Clima, a COP27, no Egito. Os dois temas compõem o centro gravitacional de pressão contra Lula. Um terceiro eixo de pressão é o identitarismo, um eixo transversal, bombardeado praticamente em toda grade das redes de TV, especialmente a Globo. 

Entremeio ao “teto de gastos”, a Globo decidiu bombardear a audiência com elevadas doses de identitarismo: as falsas lutas antirracistas e antimachistas organizadas pela própria Globo; transfobia e outras ias; mulheres no poder independentemente das competências, entre outras questões. O próprio ambientalismo é um tema do identitarismo, pois catalisa e converge diversas pautas identitárias produzidas pelo imperialismo, executadas pelas suas ONGs, think tanks e movimentos sociais artificiais. O ambientalismo também serve para abordar o tema da Amazônia e sua entrega ao imperialismo. 

A histeria dos mercados após discurso de Lula no Centro Cultural Banco do Brasil, quando o presidente eleito afirmou que não vai fatiar os bancos e as empresas públicas, além de ter criticado a “lei do teto de gastos”, é coação para tentar colocar limites a um governo dos trabalhadores. Essa questão não é a mais grave, podendo ser superada com um governo com força no desenvolvimento de infraestruturas, trabalho, educação e saúde. Porém, esse desenvolvimento passaria pela ruptura com o identitarismo, incluindo a formulação de um zoneamento econômico-ecológico da Amazônia que vise coibir a biopirataria e a mineração ilegal, realizadas pelas grandes corporações transnacionais do setor de mineração.  

Uma das estratégias da imprensa capitalista é produzir generalidades a partir da completa ausência de compromisso com a verdade. Deste modo, a imprensa visa turvar a vista do receptor da mensagem. Por exemplo, essa imprensa afirma que garimpo é tudo aquilo que degrada e atende aos interesses exclusivos dos garimpeiros, como se o trabalhador do garimpo, a pequena empresa de garimpo e todos que atuam arriscando a vida sejam os responsáveis pela degradação. Portanto, para a imprensa capitalista, “não existem” circuitos produtivos, intermediadores, receptores e grandes corporações demandantes.  

A imprensa brasileira associa o ambientalismo com a esquerda. Mas, na realidade, o ambientalismo é uma das maiores armas de defesa contra o crescimento do Brasil. As ações de Bolsonaro na região amazônica, a fim de atender aos interesses do latifúndio, elevaram o nível de histeria dos ambientalistas. Com isso, desde que Lula saiu da prisão, houve o seu cercamento por pessoas ligadas às ONGs, contrárias ao desenvolvimento nacional por estarem comprometidas com o imperialismo.  

Sonia Guajajara, uma das lideranças ligadas ao imperialismo, atuante direta do golpe de estado, capitalizando junto aos Estados Unidos, papel de “autoridade climática”. Agora, a imprensa e a ala direita da frente popular tentam que Guajajara assuma um dos ministérios do governo Lula, colocando grande barreira ao desenvolvimento do Brasil, cuja fronteira de crescimento está justamente na Amazônia, não com créditos de carbono, mas com mais hidrelétricas, portos, ferrovias que liguem o Brasil central ao Oceano Pacífico passando pelo Peru; exploração do urânio para energia e armas de dissuasão; potássio para fertilizantes, dentre outros, podendo assim ter controle territorial que evite a penetração de agentes estrangeiros explorando indevidamente o Brasil. 

Em relação à COP27, cúpula organizada pelas principais potências econômicas para utilizar o clima como arma Soft Power, ela não é nada mais, nada menos que um cassino de lobistas que elaboram estratégias de como manter países pobres em atraso. O lobby dos combustíveis fósseis é o maior da COP, que encaminhou 636 representantes na conferência deste ano. “Há um aumento da influência da indústria de combustíveis fósseis nas negociações sobre o clima que já estão repletas de acusações de censura da sociedade civil e influência corporativa”, de acordo com nota das organizações Corporate Accountability, Corporate Europe Observatory e Global Witness, ONGs do lobby das energias renováveis contra o lobby dominante na COP desde sempre.

Lula terá imensas dificuldades diante da pressão do imperialismo, do “mercado” e do identitarismo, ideologia utilizada para exercer uma dominação em todos os espectros políticos. Por meio de uma política de cancelamento, o identitarismo exerce uma forma de pressão chantagista. O capitalismo jamais será um modo de produção que inclui socialmente, é um sistema produtor de mercadorias, como tal passou criar identidades indefinidamente. Cada identidade é um mercado próprio, uma tribo própria sem qualquer interesse socialista.

Identitarismo, sucedâneo artificial do nacionalismo

Desinteressado pelo desenvolvimento de conjunto do território brasileiro, o identitarismo veio para ficar como o sucedâneo do nacionalismo reacionário, aquele baseado na “identidade nacional dos valores patrióticos”. Ao fazer a máxima negação do território nacional dos países atrasados, a esquerda identitária desses países colabora para a máxima divisão e dissonância e a cultura do cancelamento se torna a arma de guerra cultural, facilitando a tomada pelo imperialismo.

Diante dessa consideração, o identitarismo deve ser considerado como uma folha de parreira utilizada pelo capitalismo a fim de manter o seu domínio, não sendo à toa que as grandes corporações têm adotado políticas próprias e impondo-as normativamente dentro das políticas de Estado. A vaga noção de diversidade criada pelo imperialismo fomenta grandes lucros, pois pode-se diversificar os investimentos e criar uma indústria própria de reprodução dessa ideologia.

Do ponto de vista territorial, a política identitária atende ao imperialismo no ponto certo, ou seja, a balcanização dos países atrasados. Criam-se ministérios de povos originários, depois criam-se ministérios específicos para cada interesse em disputa, geralmente disputas de palavras, pois aos identitários não cabe o socialismo, mas ter um lugar garantido num Estado. Por sua vez, o Estado não conseguirá se desenvolver por causa dos ambientalistas; não conseguirá fazer política, dando lugar a abutres que não visarão a totalidade dos trabalhadores; e não conseguirá organizar o território para benefício social, como fazer uma transposição de rio, por exemplo. A riqueza material e simbólica decorrente do show business identitário só atenderá à própria reprodução do capital.

Os revolucionários observam essas contradições e atuam para que o governo Lula se desvencilhe dessa armadilha, e não acreditam na capacidade do Estado burguês reformar as instituições com cores da diversidade. Junto dessa armadilha, estamos diante de uma grande crise capitalista; de uma operação de guerra contra a Rússia; da destruição da economia brasileira e da indústria nacional, principalmente a partir do golpe de 2016. Se um governo não conseguir romper com a sabotagem feita pelas ONGs e com o identitarismo, não conseguirá avançar no fundamental, superar o atraso nacional.

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* As opiniões dos articulistas não expressam, necessariamente, as deste Diário.

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