Elon Musk finalmente assumiu o controle do Twitter este mês. O homem mais rico do mundo brincou com a ideia de adquirir a rede social no início do ano, o que teve um amplo efeito especulativo em seu valor de mercado, manobra que fez com que Musk fosse “condenado” a comprar a empresa pelo valor que havia proposto. Sua entrada foi extravagante, como de costume, e o debate ao seu redor se deu, naturalmente, no próprio Twitter.
A questão central era se Musk restauraria ou não a liberdade de expressão na plataforma que há anos limita o discurso de seus usuários, seja através da redução passiva do alcance de suas postagens por motivos políticos, seja pela expulsão de usuários como o ex-presidente norte-americano Donald Trump, quando este tinha mais de 116 milhões de seguidores. O novo dono da casa anunciou logo de cara a demissão de quase quatro mil funcionários do Twitter aparentemente por motivos políticos, por ser um suposto defensor da liberdade da expressão em confronto com seus algozes. O drama continuou ao vivo nas redes sociais, com vazamento de mensagens trocadas em canais internos da empresa, onde Musk praticamente propunha um programa de demissão voluntária aos empregados que lhe restavam, o que resultou num êxodo ainda maior de pessoas.
Esse evento foi apresentado no debate nas redes sociais como reflexo da incompetência e da megalomania de Musk. Não há nada de errado com essa avaliação, já que ambos são características essenciais dos grandes capitalistas. Talvez Musk goste mais do que seus colegas de expô-las de forma contundente. Ainda assim, gostaríamos de fazer uma ressalva nesta coluna. Não seria de forma alguma uma defesa do CEO “polivalente”, mas uma elucidação sobre um fenômeno de fundo que ataca a indústria da tecnologia e o sistema capitalista de conjunto, e que aparece de forma superficial nesse grande drama das redes sociais.
Não foi apenas o Twitter que demitiu um grande número de funcionários neste mês. A Meta demitiu 11 mil no início de novembro após reportar resultados quadrimestrais desastrosos. A empresa de Mark Zuckerberg viu seu valor de mercado cair em 75%. Em menor escala, o mesmo se viu nas outras grandes empresas de tecnologia como a Amazon, que apesar de muito lucrativa, não cresce mais no ritmo acelerado que seus investidores acostumaram-se a esperar. Se voltarmos alguns meses, veremos que empresas como a Microsoft também aparecem demitindo um grande número de funcionários. Há inclusive um portal que monitora essas demissões. Empresas que não partiram para uma política mais aberta de cortes, como Google e Apple, reduziram ou paralisaram seu fluxo de contratações.
O motor de lucro infinito apresentado pelos executivos dessas empresas e pelos fundos de investimento que nelas aplicam parece mostrar sinais de desgaste. Jornais como o The Washington Post – que, inclusive, é de posse de Jeff Bezos, acionista majoritário da Amazon – já falam numa nova “bolha da internet” prestes a explodir, como a crise que aconteceu com as empresas de tecnologia super valorizadas no início deste século devido à intensa especulação de Wall Street.
A tendência à queda da taxa de lucro, analisada em profundidade por Marx, se manifesta de forma cada vez mais irreversível e anuncia a próxima crise capitalista. As demissões no Twitter estão longe de ser mera extravagância de Musk – ainda que não se possa descartar completamente esse componente. O recado que o bilionário passou para seus funcionários também serve para ele próprio e seus colegas de classe: “está acabado o almoço grátis“.