Desde o início de dezembro, a capital da Mongólia, Ulaanbaatar, é palco de protestos desencadeados por alegações publicadas há dois meses de funcionários do governo lucrando com vendas ilegais de carvão para a China. O suposto roubo de 385 mil toneladas do combustível fóssil foi o estopim de manifestações que culminaram com a invasão do parlamento no dia 6 de dezembro.
Os moradores da Mongólia enfrentam um inverno rigoroso, custos crescentes de energia e a queda nos preços de gado, seu principal produto de exportação. A receita da mineração, que representa mais de 20% do PIB caiu quase um quarto nos primeiros dois meses de 2022 em comparação com o ano anterior. O salto no preço do carvão foi de 40%, fora a escassez generalizada do combustível, o que alimentou a revolta em relação às alegações de corrupção. Os preços da farinha e do arroz, entre outros alimentos básicos, dispararam devido à guerra na Ucrânia, provocada pela ofensiva da OTAN contra a Rússia, somados a uma inflação geral que já atinge 14,5%.

É apenas início do inverno no hemisfério norte, mas não são estranhas aos invernos mongóis temperaturas ao redor de -35°C. Cerca de 60% da população do país asiático vive em tendas tradicionais que não estão conectadas à rede de aquecimento e água da era soviética do país, mas aquecidas com fogões a carvão.

Houve boas notícias no início deste ano, quando foi anunciada a conclusão de uma ligação ferroviária de Gobi à fronteira chinesa, que transportará o carvão até a China. E Tavan Tolgoi é um grande depósito de carvão no deserto de Gobi do Sul. Este lugar tem sido o foco da atenção internacional visto a escassez do mercado de carvão devido às sanções sobre a Rússia e o aumento da demanda europeia. Uma das três operadoras é a estatal Erdenes Tavan Tolgoi (ETT) e a única acusada de corrupção.
No outono, houve vários anúncios contra a administração da ETT com alegações de negociações impróprias envolvendo contratos de exportação de carvão. Outra decisão sobre o ETT ocorreu no final de novembro, quando o governo anunciou a ambição de transformar sua natureza operacional em um fundo soberano. Isto levou mais discussões na imprensa que alegou mais corrupção na ETT.

Embora a população esteja enfrentando uma piora em suas condições de vida, há um claro interesse imperialista em impulsionar manifestações como essas ou, ao menos, tentar controlá-las para favorecer sua política de enfraquecimento de seus rivais regionais, China e da Rússia, através da sabotagem de seus aliados.
A ação coordenada da imprensa internacional em divulgar notícias sobre manifestações em um país que raramente aparece é noticiado é um comportamento similar ao visto em casos como o da Bielorrússia, que teve suas eleições questionadas em uníssono em 2020, ou o do Cazaquistão, que esteve à beira de um golpe de Estado em janeiro de 2022.
As manifestações já mostram sinais de arrefecimento e o governo chinês respondeu à crise no país vizinho abrindo um novo canal de exportação de frutas e vegetais, que deve oferecer 18,5 toneladas de produtos frescos para conter a inflação de alimentos do país.