A paralisia tradicional da esquerda pequeno-burguesia já é conhecida nos movimentos populares. Quando se trata de mobilizar o povo, o lema dessa esquerda é “quanto menos esforço melhor.” Qualquer coisa é uma boa desculpa para não fazer nada.
Mas às vezes essa esquerda se esforça. O caso mais conhecido são eleições; gerais, de centro acadêmico, DCE, sindicato, qualquer eleição faz um pequeno-burguesa se mexer na expectativa de conquistar um cargo.
Existe também o esforço para fazer besteira. E esse esforço foi visto nesse 1º de Maio.
Em todas as capitais do País as direções dos movimentos e dos partidos da esquerda pequeno-burguesa fizeram um esforço para esconder os atos do povo. Com exceção do ato de São Paulo, cuja divulgação também não foi lá essas coisas, os demais atos quase não foram divulgados. Descobrir os horários e locais dos atos era tarefa para detetive particular.
Em São Paulo, o mais tradicional palco de 1º de Maio, o ato foi jogado para a Praça Charles Miler, no Estádio do Pacaembú. Um local sem nenhuma tradição de atos políticos, distante, descentralizado, num bairro de classe média, sem movimento e longe do metrô. O local foi cuidadosamente escolhido para ser péssimo.
A presença de Lula no ato foi o que salvou a pátria. Não fosse por isso, o ato poderia ter sido um fiasco. Mas é preciso dizer que com tantas adversidades, o ato foi muito menor do que o potencial que teria. Com a presença de Lula, o acirramento da luta política no País, as mobilizações de categorias de trabalhadores como metalúrgicos da CSN, professores, garis e outros, o ato poderia ter sido gigantesco, de enormes proporções. Mas não passou de um ato quase institucional.
Mas qual a importância de tudo isso? A importância está em primeiro lugar na importância do próprio 1º de Maio em si. Uma data que pertence aos trabalhadores e suas organizações, um dia internacional de luta, podemos dizer, um dia de greve geral internacional. A segunda importância está na luta política em curso no País.
Enquanto a esquerda abriu mão da fazer ato na Avenida Paulista, na Praça da Sé ou Anhangabaú, os locais tradicionais do 1º de Maio em São Paulo, enquanto a esquerda optou por esconder o ato da maioria do povo, os bolsonaristas convocaram um ato para a Paulista. Em Brasília, marcaram o ato no final da tarde deixando o dia livre para os bolsonaristas realizarem o ato. No Rio de Janeiro, marcaram o ato para o aterro do Flamengo, local também sem tradição para manifestações políticas.
O ato bolsonarista – diferente do que afirmam os piores cegos, que são aqueles que não querem ver – não foi um fiasco. O ato pode não ter representado todo o potencial de mobilização do governo Bolsonaro, mas foi um ato volumoso o suficiente para dar a demonstração de apoio ao presidente de extrema-direita.
Resumo da ópera: esquerda se escondeu em São Paulo e em todas as capitais, enquanto que os bolsonaristas apareceram como grandes organizadores de atos de 1º de Maio. Com o agravante de que os atos bolsonaristas tinham uma pauta política e bastante mobilizador: a crítica ao STF e a “defesa da liberdade”.
Nesse 1º de Maio, a esquerda pequeno-burguesa se esforçou. Um esforço para entregar de presente para a extrema-direita uma data que pertence aos trabalhadores. Isso equivale a entregar os próprios trabalhadores para a extrema-direita.