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E a "homofobia"?

Desespero eleitoral enterrou a demagogia identitária com os gays

Reta final do segundo turno dá lugar a um vale-tudo entre os maestros do oportunismo

Não foram poucas as pessoas que se depararam, na última semana, com um típico exemplo daquilo que se convencionou chamar de “fake news” circulando nas redes sociais: uma publicação mentirosa, sensacionalista, com o intuito de difamar uma figura pública. Nos referimos, neste caso, à “denúncia” feita pelo perfil Anonymus, segundo o qual o deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL-MG), um escroque direitista, teria sido flagrado praticando sexo oral em outro homem. Em pouco tempo, contudo, veio à tona que se tratava de uma manipulação grosseira — a imagem divulgada havia sido retirada de um portal de adultos e nada tinha a ver com o deputado eleito.

O que chamou a atenção particularmente neste caso é que quem se dedicou a difundir a “fake news” foram setores supostamente ligados à esquerda nacional, que estariam apoiando a candidatura de Lula. Uma vez que Nikolas Ferreira está vinculado à figura de Jair Bolsonaro, tendo sido o candidato bolsonarista com mais votos na eleição, a divulgação da imagem serviria para atacar, portanto, o bolsonarismo.

É um cinismo impressionante. Esses mesmos setores que decidiram impulsionar a propaganda mentirosa sobre o rapaz passaram os últimos quatro anos alardeando contra as tais das “fake news”. Atribuíram a derrota do PT nas eleições de 2018 à difusão de notícias falsas pela extrema-direita, elaboraram milhares de teses acadêmicas sobre o “neofascismo” e a internet e chegaram ao cúmulo de apoiar uma quantidade estrondosa de medidas repressivas que prometiam combater as tais “fake news”.

No final das contas, era tudo um circo. As “fake news” sequer são algo concreto, mas sim um termo vago propagado pela imprensa capitalista (essa sim uma verdadeira indústria da mentira) justamente com o objetivo de levar adiante essas leis repressivas. A tradução para “fake news” seria “notícia falsa”. Se se tornasse crime a difusão de qualquer mentira, o mundo inteiro iria parar na cadeia — obviamente, não há nenhuma lei séria que trate do problema.

O fato é que qualquer legislação que se proponha a combater as tais “fake news” será inevitavelmente vaga e ficará nas mãos de um juiz para decidir o que pode ou não ser falado. Isto é, se uma rede de televisão gigantesca como a Globo mentir, e o juiz curiosamente não achar que seja uma “fake news”, não haverá pena alguma. Mas se um partido como o PCO fizer uma crítica política séria e defender o seu programa, pode ser considerado como um difusor de “fake news”!

O uso desenfreado das “fake news” por parte de um setor da campanha do PT demonstra que nunca houve uma questão de princípios envolvida na suposta “luta” contra as “fake news”, mas simplesmente uma manobra de ocasião. Como os setores mais conservadores da esquerda, ligados ao regime, perceberam que a burguesia pretendia controlar o bolsonarismo por meio de sanções às “fake news”, esses setores embarcaram de cabeça na campanha moralista contra as “fake news”. Agora, no entanto, que se deparam com as vésperas do segundo turno, em uma eleição extremamente disputada, atiraram para o ar qualquer consideração a respeito das “fake news”.

Essa política, no entanto, é um desespero de causa total. É uma tentativa de imitação do adversário, de imitação do bolsonarismo. E ao imitar o bolsonarismo, longe de ganhar a eleição, a única coisa que a esquerda conseguirá é passar a impressão de que sua política é inferior a do adversário. É uma desmoralização completa.

O problema é que a política da esquerda não é inferior à do bolsonarismo. Pelo contrário, a direita apela aos instintos mais baixos dos setores mais atrasados da população justamente porque é incapaz de defender francamente o seu programa. A política da burguesia é toda ela baseada na manipulação da informação porque não pode defender francamente o ajuste fiscal, as privatizações, as demissões etc. E é por isso, inclusive, que a burguesia é mestra na arte da mentira.

O interesse desses setores da esquerda nacional em apelar para a campanha moralista e mentirosa de difamação se dá justamente porque são os setores que não são verdadeiramente de esquerda. É um desespero de causa daqueles que se sentem ameaçados pelo bolsonarismo, mas que são incapazes de defender um verdadeiro programa de esquerda, como a redução da jornada de trabalho, as estatizações, o gatilho salarial etc. São os setores, portanto, que estão intimamente ligados a figuras como Geraldo Alckmin, Armínio Fraga, Márcio França e Marina Silva. Setores de classe média que pouco ou nada têm a ver com o movimento operário que é a base lulista.

A farsa em relação à campanha contra as “fake news” não foi a única que caiu por terra. Outra coisa ainda mais grotesca é o fato de que os ataques a Nikolas Ferreira são ataques aos gays, que são a menina dos olhos de ouro da demagogia identitária infiltrada na esquerda nacional. Durante muito tempo, certamente mais do que o tempo em que se ouve falar em “fake news”, os mesmos setores direitistas da esquerda vêm defendendo uma política de censura baseada na demagogia com a população “LGBT”. Qualquer fala que pudesse ser interpretada como uma “ofensa” a essa comunidade era encarada como uma agressão mais brutal que um massacre de sem terra no campo. E por qualquer “ofensa”, incluímos casos verdadeiramente bizarros, como as críticas à candidatura de Lula por não fazer uso da “linguagem neutra”.

Esses setores fundaram uma espécie de religião do identitarismo. O gay (de classe média), a mulher negra (de classe média), o transexual (de classe média) e o índio gourmet — aquele que aprendeu a ser índio na universidade — se tornaram uma espécie de santos intocáveis. Aquele que os ofender — seja lá o que for considerado como ofensa —, será excomungado de seus círculos, demitido e até possivelmente preso. No desespero, no entanto, a esquerda pequeno-burguesa abandonou por completo a adoração aos oprimidos de porcelana e passou a adorar uma santa ainda mais forte, capaz de dar cargos muito poderosos a quem para ele reza: a eleição. E como essa santa aceita qualquer oferta, os identitários agora partiram para um vale tudo eleitoral.

Os inquisidores identitários simplesmente abandonaram por completo aqueles a quem juravam ter uma procuração para falar em seu nome. Quem não atacou diretamente Nikolas Ferreira, na melhor das hipóteses se calou para a campanha rebaixada contra o bolsonarista. Um silêncio que jamais aconteceria se os interesses fossem outros. Basta lembrar, por exemplo, o quanto os homossexuais foram lembrados para defender a manutenção da intervenção imperialista no Afeganistão ou para atacar o governo nacionalista de Vladimir Putin.

Nunca houve preocupação real com os oprimidos. O que fica, feito o balanço da conduta vergonhosa dessa setor da esquerda, é a impugnação total da campanha repressiva de calar quem “ofende” a mulher, o negro ou o homossexual.

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