As últimas pesquisas de intenção de voto para o segundo turno mostraram, todas elas, o mesmo quadro: o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro cresceu e está tecnicamente empatado com Lula. Não só o resultado praticamente idêntico na maioria dos institutos de pesquisa, indicando uma cartelização desses institutos, que pertencem à imprensa capitalista, como também a repercussão da própria imprensa indicam que o capitalistas estão preparando um golpe eleitoral contra Lula. O candidato petista encontra-se estagnado, há semanas, nas pesquisas, enquanto Bolsonaro não para de crescer.
O crescimento de Bolsonaro não se dá somente no resultado mais aparente das intenções de voto. Logo após a divulgação do resultado do DataFolha, a pesquisa mais comentada da semana, a imprensa de conjunto publicou uma infinidade de artigos comentando outros aspectos secundários. Segundo a imprensa e os institutos, Bolsonaro não só cresceu na intenção de voto em geral, como também consolidou o seu apoio no Sul e no Sudeste e teria diminuído a desvantagem perante a Lula no Nordeste. O objetivo é claro: mostrar que há uma suposta grande onda bolsonarista que vai engolir a candidatura de Lula na reta final de campanha.
Outro dado, também levantado pelo DataFolha, chama muito a atenção pelo seu caráter grotesco. De acordo com o instituto, entre os eleitores de Bolsonaro, 80% apoiariam a “democracia”, contra apenas 78% dos eleitores de Lula. É uma clara tentativa de apresentar Bolsonaro como um candidato mais “palatável”, apagando a imagem impulsionada pela própria imprensa, no primeiro turno, de que o presidente ilegítimo seria um “bicho papão”.
O que se vê, portanto, é uma clara manipulação das eleições por quem controla os institutos de pesquisa e a imprensa. O fato de que os institutos e veículos de comunicação falam todos a mesma coisa, junto com o fato de que as pesquisas dificilmente correspondem à realidade, que todos os números apresentados são para favorecer Bolsonaro e que os mesmos institutos manipularam descaradamente as pesquisas no primeiro turno são prova disso.
Acontece que as pesquisas em si não são suficientes para que haja um golpe eleitoral. O provável golpe está sendo executado por uma classe social, a burguesia. Os institutos e a imprensa são apenas um instrumento, que podem cumprir um determinado papel. E que papel seria esse? O de criar um “clima” favorável ao golpe. Isto é, estabelecer um cenário em que a manipulação das eleições não pareça algo tão absurdo assim.
Se a burguesia resolvesse dar um golpe contra a candidatura de Lula e permitir que Bolsonaro ganhasse a eleição “na mão grande” com Lula liderando as pesquisas em ampla vantagem, provavelmente ocorreria uma grande contestação do resultado. Haveria uma crise política de grandes proporções que poderia tornar o resultado inviável. Se, no entanto, Bolsonaro vence o pleito com as pesquisas mostrando um empate técnico e uma tendência de declínio nos números de Lula, a contestação certamente seria menor.
Seja como for, a esquerda deveria contestar caso Bolsonaro seja eleito, quaisquer que sejam as condições. O segundo turno está se mostrando a expressão da luta de classes: a burguesia está cada vez mais unificada para impedir a vitória de Lula e está usando todo o seu aparato para ganhar a eleição o “jogo sujo”. A única maneira possível de impedir que o golpe eleitoral se consuma, portanto, é apelar para a mobilização da classe operária, para que, com seus métodos — a greve, o piquete e a agitação política — derrote a ofensiva de seus inimigos.
Há um problema muito sério, no entanto, que deve ser levado em conta: a burguesia tem conseguido levar adiante suas manobras porque conseguiu forjar, junto à esquerda, uma aparência de “legitimidade” para todos os seus truques. Mesmo diante da escancarada manipulação das pesquisas eleitorais, a esquerda se mostrou incapaz, até agora, de denunciar a fraude nas pesquisas e de denunciar a manipulação da imprensa. Até agora, mostrou-se incapaz de criticar o TSE por sua conivência com todos os crimes eleitorais vistos à luz do dia por parte da campanha orquestrada pelos patrões. E, do jeito que as coisas vão, não poderá contestar o resultado nas urnas. E tudo isso por um mesmo motivo: no último período, fisgada pela campanha da própria burguesia de oposição abstrata ao “bolsonarismo”, tornou-se defensora das instituições e do regime político.
Em nome de uma oposição abstrata à figura de Bolsonaro, a esquerda tornou-se a defensora número um das urnas eletrônicas, das pesquisas eleitorais, da Rede Globo e até mesmo do TSE! Essa oposição, no entanto, nunca foi real, mas apenas uma manobra da classe dominante para cooptar a esquerda e aumentar o seu controle sobre o bolsonarismo. Agora, que Bolsonaro se coloca como a única alternativa à vitória do PT, a burguesia abandonou completamente tal “oposição”.
É preciso largar imediatamente essa política, sob a pena de assinar embaixo de um dos maiores golpes eleitorais que a história poderá testemunhar. A esquerda precisa ter uma oposição independente e classista ao bolsonarismo e à direita de conjunto.