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Ucrânia e identitarismo

Como o identitarismo encobre as verdadeiras razões dos conflitos

A incompreensão total da esquerda sobre o problema de classes e o imperialismo a levou a tirar as mais absurdas conclusões a respeito do que está acontecendo na Rússia

Faz várias semanas que a Rússia decidiu invadir a Ucrânia, com o objetivo de impedir o avanço da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na região, bem como por abaixo o regime da direita golpista do país, que sofreu um golpe de Estado em 2014, muito parecido com o que sofremos em 2016.

Desde então, o país vinha sendo controlado pela direita e com um apoio fundamental das milícias da extrema direita, que controlam o governo de maneira muito mais direta que no Brasil, onde a extrema direita tem seu papel mas não é de tamanha importância para a sustentação do governo Bolsonaro. 

No início, a campanha pela paz tomou conta da esquerda. Naquela que era uma ação fundamental para se colocar do lado da Rússia contra o imperialismo e os grupos nazistas ucranianos, a esquerda foi para o lado do “nem, nem”, ou mesmo se colocou abertamente contra a ação de Putin.

Demorou, mas tempos depois apareceu o pretexto identitário para se criticar a ação de Putin, qual seja: “Só um macho para ter tesão pelo massacre (…) Só um macho para sentir gozo pela arma”, ou seja, é moralmente reprovável a satisfação de qualquer pessoa com a ação de Putin, sob a acusação de ser machista branco, até porque ele não defende “a agenda da luta da periferia”. 

Esses quase-argumentos foram lançados em uma matéria da Carta Capital e rapidamente se tornaram um refúgio de esquerdistas que não querem defender a Rússia diante da extrema direita ucraniana e do imperialismo, um refúgio para a esquerda que nunca quer fazer nada. Em última análise, para isso serve o identitarismo, para não fazer nada.

Um conflito a ser explicado pelo caráter psicológico de satisfação é uma novidade inaugurada pela esquerda identitária. Isso nunca existiu. O que explica um conflito, uma guerra, é a relação de classes, sua luta. 

A satisfação pela ação de Putin na Ucrânia não tem a ver com o tamanho do pênis, mas com a derrota monstruosa da direita golpista no país. Essa satisfação é compartilhada por toda população que sofreu um golpe de Estado, como é o caso do povo brasileiro. 

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Mesma satisfação teríamos ao vermos a polícia sendo enxotada das favelas brasileiras pelos moradores delas, especialmente se for com armas. Um macho pode até sentir gozo pela arma, mas, na verdade, um macho, ou qualquer pessoa, sente gozo pelo direito de se defender diante dos ataques da direita, do regime golpista. 

O identitarismo busca apresentar uma análise da sociedade com base nas características biológicas e até psicológicas dos indivíduos. E a saída para os problemas das pessoas estaria na aceitação, por outras pessoas, dessas características. O racismo acabará quando o branco aceitar o negro. O machismo acabará quando o homem aceitar a mulher, e por aí vai ─ eis a lógica identitária.

É uma campanha de convencimento do opressor de que ele é opressor, que é mau, e precisa mudar de posição após uma reflexão, uma autocrítica. Um método de luta que nunca foi usado por nenhum movimento revolucionário, nem mesmo os reformistas se utilizam de tal método. 

Por outro lado, o oprimido em algum caso pode ser opressor em outro, e assim fica “elas por elas”. Isso se deu, por exemplo, no caso do Afeganistão, onde o movimento de mulheres se colocou contra a expulsão dos EUA do país pelo Talibã, pois essa organização é conservadora no tocante aos direitos das mulheres. 

Mais uma vez, a campanha para não se fazer nada, esperar que um exército moral, perfeito, sem defeitos, irá fazer a mudança social, a revolução. E isso, como todos sabem, especialmente os identitários, não vai acontecer. 

Essa campanha, de cunho abertamente moral, não tem o objetivo de alterar absolutamente nada na sociedade capitalista. Serve, somente, para que se cubra com um verniz democráticos as mais brutais atrocidades, e que tudo fique exatamente onde está.

Mais recentemente, foi descoberto todo empenho da CIA e dos Estados Unidos em amplificar a questão identitária para todos os países. Comerciais, empresas de comunicação, jornais da burguesia, até mesmo grandes capitalistas e a própria CIA já estão com seus representantes negros, índios, mulheres, gays, etc. Tudo em um gigante esforço para dizer: “vejam, não precisam se revoltar e tocar fogo em tudo, já temos um negro aqui, um gay ali, uma mulher acolá, e uma mulher negra, trans, favelada, logo ali”.

E a ideia principal do identitarismo é essa: estrangular qualquer disposição de luta de um determinado setor social, da esquerda. A campanha foi tão grande que mesmo sindicalistas tradicionais da luta operária hoje se apresentam assim: “sou nordestino, tenho tantos anos, moro em tal lugar, minha mãe é isso, meu pai é aquilo”, na tentativa de escapar de alguma crítica identitária. 

Por essa ótica não se pode apoiar absolutamente nenhum movimento de resistência, de luta. Pois todo movimento, toda classe, é composta por gente de carne e osso, que certamente guarda algum crime identitário, já que ninguém efetivamente é moralmente perfeito para os identitários.

A matéria da Carta Capital, por exemplo, cobra Putin de que ele deveria estar defendendo a “agenda da luta da periferia”.

Em primeiro lugar, ao esmagar os nazistas, Putin faz um bem gigantesco para todos os moradores de periferias e favelas. É uma esperança de que a direita pode ser derrotada, e, no nosso caso, a PM, que é a milícia de extrema direita oficial brasileira. 

Em segundo lugar, a colocação não passa de uma demagogia rasteira. Posto que coloca Putin como responsável pela luta da periferia brasileira, o que é ridículo. Essa obrigação deveria ser colocada para a esquerda. O que Putin tem a ver com a luta dos moradores do Complexo do Alemão? A pessoa faz essa colocação apenas como chantagem moral, mas não quer dizer e nem fazer nada.

Houve a versão do outro lado da moeda. A versão de que o imperialismo e seus meios de comunicação defendiam os ucranianos em razão da cor de sua pele e dos seus olhos azuis.

É uma meia verdade, tendo em vista que as vítimas negras dos conflitos imperialistas não são lembradas em hora alguma, mas o fator fundamental do problema é que, se preciso for, o imperialismo irá atacar os brancos também, como é o caso dos russos. O fato de que os russos sejam brancos não impediu que a OTAN organizasse uma ofensiva na Ucrânia para sitiar o país do presidente Putin. 

A incompreensão total da esquerda sobre o problema de classes e o imperialismo a levou a tirar as mais absurdas conclusões a respeito do que está acontecendo na Rússia, e, na confusão, muitas posições acabaram por se somar à do próprio imperialismo, ou seja, de que Putin é um ditador, não defende o povo, e está promovendo um massacre na Ucrânia. Ou seja, uma mentira atrás da outra, mas é justamente o que diz a imprensa burguesa e, infelizmente, a própria esquerda.

Os afegãos, por exemplo, cumpriram um papel fundamental na luta pela libertação do povo oprimido mundialmente. Ao derrotarem os norte-americanos que ocupavam o seu país, deram o exemplo e mostraram que é possível se livrar de uma ocupação militar da maior força bélica do mundo. Uma ação invejável e que deve servir para outras tantas lutas de libertação nacional. 

Desse ponto de vista, nenhuma luta de libertação nacional deverá ser apoiada pelos identitários, especialmente na África ou no Oriente Médio, tendo em vista que raros são os povos que detêm o modelo mais bem acabado e atualizado de direitos democráticos. Aliás, nenhum país no mundo tem isso, todos eles ainda possuem uma série de questões democráticas não resolvidas pelo regime. Basta ver o Brasil, controlado pela direita golpista de cabo a rabo.

Quer dizer, a maquiagem identitária só serve para esconder o fundamento dos conflitos e impedir a tomada da posição revolucionária diante dos mesmos. Visto dessa forma, o identitarismo é uma praga que precisa ser extinta da esquerda, precisa ser denunciada, pois não é uma forma de luta, mas de defesa dos interesses do imperialismo e da manutenção do atual estado de coisas. 

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