Crise no PSOL

Caso Juliano Medeiros escancara a crise no PSOL

Medeiros, o "dirigente à beira de um ataque de nervos", é uma expressão da polarização política

Como já dissemos neste Diário, conforme a polarização aumenta no cenário político, tudo aquilo que está ao centro tende a desaparecer. Se na direita existem atritos, fusões de partidos, dentro da esquerda a coisa não é muito diferente. A agressão de Juliano Medeiros, presidente do PSOL, a um militante de base escancara uma crise interna que só vem se agravando.

O sítio EsqWeb descreve o atrito e agressão que envolveu Medeiros e cobra uma posição do partido. Segundo o artigo publicado na tarde de 22 de abril, Carnaval, um grupo de militantes da tendência interna do PSOL, Socialismo ou Barbárie, interpelou J. Medeiros e o questionou sobre a “falta de democracia partidária na condução das decisões partidárias”, pois o último Congresso Nacional teria votado para autorizar a construção de uma frente de esquerda, não uma federação com um partido burguês (Rede). Também não teria autorizado “ingressar em uma frente eleitoral de conciliação de classes, como a de Lula-Alckmin”.

Segundo relatam, Medeiros teria começado a insultar, ao que os jovens responderam, e em seguida partiu para o ataque físico e enforcou um militante menor de idade por alguns instantes. Medeiros, transtornado, “aos berros com os punhos cerrados tentava intimidar e alcançar os três jovens que o questionavam”. Dizem que só não agrediu mais pois fora contido por pessoas próximas e gritava “Como ousam me questionar no meu Carnaval?”.

Partido rachando

Recentemente publicamos matéria que mostra como o mar está revolto dentro do PSOL, o MRT (Movimento Revolucionário de Trabalhadores), por exemplo, está chamando a que se rache com o partido em decorrência dos conchavos que a direção do PSOL vem fazendo.

Na verdade, o que está acontecendo são choques de interesses antagônicos dentro do PSOL. Existem pessoas que estão cuidando da própria carreira e usam o partido como trampolim. Basta para isso anotar a saída de parlamentares como Marcelo Freixo, Isa Penna, David Miranda para outras legendas.

O deputado federal Glauber Braga está em rota de coalizão com a direção psolista porque deseja se lançar como pré-candidato às eleições presidenciais, portanto, não quer de jeito nenhum que se feche uma aliança em torno da candidatura de Lula. Braga é também um dos críticos à federação com a Rede, partido de Marina Silva que, como ele, não tem a menor vontade de votar em Lula. Segundo Glauber Braga, “a Rede não é um partido que se propõe lutar pelo socialismo, nem agora e nem em mil anos”.

Somando-se aos descontentes, a tendência denominada Esquerda Marxista afirma que “a Rede é um partido que tem muitas figuras nitidamente de direita e com pautas conservadoras. Como poderemos nos misturar com elas nas eleições?”.

De acordo com a Rede Brasil Atual, a aprovação do Diretório Nacional (DN) pela da federação com a Rede, que ocorreu no dia 18 de abril, o placar mostrou que o partido está bastante divido. Foram 38 votos a favor e 23 contra. Juliano Medeiros, no entanto, comemorou no Twitter: “Com isso garantimos as prerrogativas negadas à Rede pela cláusula de barreira, fortalecemos a unidade contra Bolsonaro e impulsionamos agenda de combate à crise ambiental no Brasil!”.

O PSOL, que foi formado dizendo tratar-se de uma alternativa à esquerda do PT, está mostrando rapidamente a que veio. Esses rachas que estão ocorrendo não são progressistas, embora também se digam à esquerda da direção. Se, por um lado, esses setores descontentes questionam a federação com a Rede ou apoio a uma chapa na qual esteja um ex-tucano como Alckmin, por outro nada fizeram quando se tentou uma frente amplíssima com setores golpistas da direita, caprichosamente apelidados de “campo democrático”. A desculpa era que valia tudo para derrotar Bolsonaro. Esse argumento só não serve para apoiar Lula, exatamente o candidato de esquerda com maior chance de vencer as eleições.

Oportunismo

Há muito de oportunismo nesse cenário turbulento. O sítio da Rede Brasil Atual divulgou no dia 19 de abril que Juliano Medeiros pode compor a chapa de Haddad em São Paulo e, “dependendo de como se desenvolvam as conversas entre PT e PSB, Medeiros poder ser indicado para vaga paulista no Senado”. No dia 7 de maio será o lançamento da pré-campanha de Lula, por isso até lá  o “palanque vai ter de estar resolvido”

Boulos, Haddad e Medeiros: pose para a foto.

Tudo faz sentido dentro desse caldeirão. Em certa medida, as críticas que alguns setores veem fazendo contra a direção do PSOL estão corretas. O ‘nervosismo’ de sujeitos como Medeiros demonstram claramente que a direção sabe que está correndo riscos de desagregar ainda mais o já dividido partido.

O Socialismo ou Barbárie segue ainda no texto publicado na EsqWeb criticando Medeiros e o chama de oportunista, que se utiliza de métodos stalinistas na condução do PSOL. O texto diz Juliano Medeiros, que é capaz de agredir um menor militante de base do mesmo partido para impor sua linha oportunista, deixa evidente que não tem o menor compromisso como os princípios socialistas, com a democracia interna e a solidariedade militante, ele responde apenas aos compromissos com a liquidação do PSOL e com uma burocracia partidária que tem interesses materiais (…)”.

O texto também pede a cabeça de Medeiros: “Fica evidente que Medeiros cometeu uma grave infração à ética no que diz respeito à convivência solidária entre companheiros e que não tem condições para se manter ocupando a cadeira de presidente do PSOL”. E diz que tomarão providências “Desta forma, além da denúncia à toda a base do partido sobre a violência de Medeiros contra um militante menor e de base do PSOL, conforme o Capítulo XIII, iremos levar esse fato à Comissão de Ética do partido para que essa apure o episódio, que o militante agredido seja ouvido e que as devidas providências sejam tomadas”.

Beco sem saída

O PSOL parece não ter muito futuro, além de ser todo retalhado com inúmeras tendências, conta já com um alto grau de fisiologismo. Seus setores mais à esquerda acabam caindo em um esquerdismo inócuo, e aqueles que estão mais à direita chegam a apoiar a Lava-jato ou a dizer que não houve golpe no Brasil.

A dúvida é saber se o PSOL sobreviverá às eleições deste ano. O clima interno está esquentando rapidamente, para constatar isso basta ler a frase de encerramento do artigo do Socialismo ou Barbárie:

Juliano Medeiros, tire as suas mãos sujas do PSOL!”

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