Os objetivos concretos da intensa campanha do imperialismo nos últimos anos sob as bandeiras do “combate à desinformação” e “combate aos discursos de ódio” ficaram muito explícitos diante da guerra de informações que se seguiu às ações militares russas na Ucrânia. Essas bandeiras, apoiadas inclusive por setores da esquerda, especialmente a “nova esquerda”, está servindo hoje para impedir que o mundo tenha acesso à versão dos russos sobre os acontecimentos.
A mesma imprensa que silenciou por oito anos diante da violência das milícias nazistas contra os ucranianos de origem étnica russa e contra a esquerda em geral se apresenta agora como a absoluta promotora das “notícias verdadeiras”. Para essa operação funcionar, a censura e o cancelamento das principais fontes de informações que contrariam o que se noticia nos monopólios da comunicação certamente facilita muito, restando apenas a propagação em nível mundial de uma única versão, a versão oficial do imperialismo.
Inicialmente, o Google subitamente suspendeu a monetização de toda a imprensa estatal russa no YouTube. Mais recentemente, importantes canais na plataforma como a RT e a Sputnik foram restritos ao público russo. Outros menos conhecidos também foram ou estão sendo silenciados, incluindo Redfish, Russia Beyond, Channel 1, NTV, TNT, Moscow 24, Spas e Ruptly.
São veículos de imprensa que vinham divulgando reportagens sobre o golpe de 2014, a participação das milícias nazistas e o terrorismo estatal imposto contra grande parte da população ucraniana. Informações fundamentais para uma avaliação concreta do conflito atual que estão sendo negadas à população mundial em nome da “verdade” e do “bem”.
Censura ao PT
Na semana passada, quatro grupos de apoio à candidatura Lula foram suspensos e os administradores desses grupos tiveram seus números de telefones também suspensos no aplicativo WhatsApp. A justificativa, exposta pela equipe de comunicação do ex-presidente, foi de que teria ocorrido um bloqueio “automático” na plataforma diante de um “fluxo intenso de mensagens”, que teria sido interpretado como “automação de mensagens”.
Vale colocar de antemão que o aplicativo faz parte da mesma empresa que também controla diretamente Facebook e Instagram, sendo uma plataforma bem aceita pelo TSE, ao contrário do Telegram, por exemplo. Nas eleições de 2018, serviu como instrumento para a promoção da candidatura de Bolsonaro por fora dos monopólios da comunicação, enquanto estes ainda tentavam emplacar um candidato mais confiável da direita.
Esse fato serviu de isca para que setores da esquerda defendessem o avanço da censura na internet, uma “censura do bem” que serviria como uma barreira às “fake news” e, assim, ao crescimento da extrema-direita. Uma cilada perfeita para aqueles que elaboram suas políticas com base na moda do momento escolhida pela burguesia, como foi na farsa do “combate à corrupção”.
No caso ocorrido contra o PT, uma empresa norte-americana teve o poder de interpretar que os grupos de apoio à candidatura Lula estariam propagando “fake news”. O “fluxo intenso de mensagens” entre apoiadores da figura mais popular da política do país de repente foi equiparado ao disparo automático de mensagens patrocinado por empresários para impulsionar artificialmente a candidatura de Bolsonaro.
A censura e o silenciamento ou cancelamento, especialmente impostos com o poder da burguesia, nunca serão ferramentas de luta do povo. A esquerda tem a responsabilidade de denunciar e combater esse mecanismo de controle social da classe dominante, defendendo a mais ampla liberdade de expressão.