Mesmo não faltando ainda verdadeiras homenagens, disfarçadas de análises, ao ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, como as do jornalista Paulo Henrique Arantes, que no site do Brasil 247, exalta o fato de que ele seria supostamente “um aliado da democracia e, justamente por isso, uma pedra no sapato de Bolsonaro”, o encantamento com o ministro indicado pelo golpista Michel Temer (MDB) e ex-secretário dos reacionários governos tucanos, da parte de setores que se consideram como “progressistas” e até mesmo “de esquerda”, parece vir diminuindo sensivelmente, nos últimos dias.
A jornalista Denise de Assis, por exemplo, mesmo elogiando a ação do ministro que vem se notabilizando por desconsiderar o que diz a Constituição acerca da liberdade de expressão e da liberdade imprensa, e mandou – entre outros – bloquear todas as redes sociais ligadas ao PCO há menos de três meses da campanha eleitoral, com afirmações tais como a de que de que ele teria adotado medidas contra as chamadas fake-news para “removê-las das plataformas que lhes dão suporte”, lamenta e pede mais: “Mas e daí? O alcance de mentes e corações já foi consumado e o boca-a-boca que se segue não pode ser bloqueado. Talvez a chave para coibir esse tipo de crime de uma vez por todas seja a punição dos autores e dos disseminadores de modo mais célere. E mais duro, a exemplo da pena imposta nos Estados Unidos ao radialista odiento Alex Jones, de nada menos que 965 milhões de dólares, por negar o assassinato de oito crianças em uma escola de Connecticut”. Expressando um gosto pela repressão tradicional na direita e que se tornou comum aos chamados “progressistas”
Desespero
Mesmo não admitindo claramente que o suposto milagre que estaria sendo operado por Moraes e demais “homens da capa preta” vai se mostrando, de fato, inútil para os propósitos por eles desejados, muitos desses jornalistas e setores da esquerda vão expressando um certo desespero diante do fato notório de que não há nada de efetivo no “combate” a Bolsonaro pelos meios reacionários, inconstitucionais e retrógrados da censura, repressão etc, que muitos anunciaram como sendo capazes de deter o golpe que viria ( e não veio!).
Inconformados, pedem mais do remédio inútil, apresentado pelos charlatões como “eficaz contra todos os males”. da “falta de democracia” e do “fascismo de Bolsonaro”. Assis por exemplo, afirma que:
“Há quem diga que deveriam doer mais no bolso, ou sobre mandatos – como no caso do deputado Francisco Francischini (PSL-PR) cassado e com direitos políticos suspensos por oito anos – para que surtissem efeito.”
E mesmo elogiando o discurso do ministro que apoia entusiasticamente, quando exalta o fato de que o ministro afirmou que a Justiça Eleitoral está pronta para punir os responsáveis por disseminar fake news., lamenta que “o ministro nada pode com a lentidão do processo, embora possa muito sobre a dimensão das penas, que vêm sendo consideradas muito leves para o tamanho dos estragos”. Um leve reconhecimento de que a “grande” ação do ministro não vale de nada
Fim do teatro?
Junto com os jornalistas, uma parcela da esquerda parece – ainda que timidamente – estar se dando conta, com enorme lentidão, e só agora que Moraes e o STF nunca estiveram pela vitória de fato “pela democracia” e, por conseguinte, com a única possibilidade real que seria, pela derrota do candidato possível do regime golpista, o capitão Bolsonaro. Isso depois de meses de ilusão como suposto caráter democrático e “disciplinador” de Bolsonaro desses senhores.
Não conseguiram enxergar que o STF, TSE e todo o judiciário golpista, que cumpriu um papel central em todas as etapas do golpe de Estado – como no impeachment da presidenta Dilma Rousseff e na prisão de Lula, não tem qualquer compromisso real de fazer valer os direitos democráticos de seja quem for e que, como todas as demais instituições do regime burguês atuam na defesa dos interesses “superiores” da burguesia, antes mais nada neste momento, impedir que o regime golpista seja derrotado e que isso dê lugar a uma transformação efetiva da situação em desfavor dos grandes capitalistas.
Parece, ainda que lentamente, estar “caindo a ficha”, de que os “santos” da capa preta estão quebrando a promessa -na qual só a esquerda acreditou – de que eles combateriam as fakes news de Bolsonaro, garantiriam eleições democráticas etc. Uma ilusão profunda de quem quer crer que o regime político burguesia pode sequer existir sem as mentiras que a burguesia e seus partidos sempre contaram para o povo e que apenas mudaram de nome (fake news) e tem outros sócios, como os bolsonaristas, com maior êxito e popularidade do que os mentirosos tradicionais da direita, que fracassaram em derrotar a Bolsonaro e parecem ainda mais dispostos a se juntar a ele.
Toda essa “encenação” do “combate à mentira” acabou de fato tornando-se um esquema que – diante da reação de Bolsonaro e seus apoiadores – serviu de cobertura para sua política, diante da falta de iniciativa, no terreno concreto da luta de classes, por parte da maioria da esquerda.
Esse apoio a Bolsonaro ainda não pode ser demasiadamente explícito porque não podem mudar de posição, da água para o vinho, sem que se desmascarem por completo, E além disso, preciso manter uma posição de relativa autonomia par atentar continuar controlando e atacando a esquerda, mas a cada dia que passa fica claro que o falso combate à mentira e ainda mais falso apoio a Lula foi apenas para evitar uma vitória de Bolsonaro no primeiro turno que criaria uma situação ainda mais complicada para os interesses desses setores.