Nas últimas semanas, a América Latina passou por ofensivas golpistas, com destaque para o caso da Argentina, com a condenação da vice-presidenta Cristina Kirchner e da destituição de Pedro Castillo, no Peru.
Kirchner já vinha sendo perseguida desde antes da eleição. Da mesma forma como foi o golpe no Brasil em 2016 e da mesma forma como o imperialismo atua em vários países oprimidos – principalmente os da América Latina –, utiliza-se da campanha contra a corrupção para atacar governos de esquerda e progressistas.
Agora, a vice-presidenta da república foi condenada por “administração fraudulenta”. Só o uso desse termo já é um indicativo de que se trata de uma operação jurídica absurda. A condenação indicaria que a pessoa administrou mal algum tipo de recurso. A própria Kirchner, contudo, disse que não estava responsável por administrar nenhum recurso, que na verdade era responsabilidade de outras pessoas, o que já indica que, do ponto de vista jurídico, não faz nenhum sentido.
A vice-presidenta se pronunciou para denunciar o golpe, dizendo que os envolvidos nessa perseguição são pessoas da direita, ligadas à tenebrosa ditadura militar. A direita decidiu dar uma espécie de golpe de estado preventivo, condenando e, possivelmente, mandando para a prisão, a vice e ex-presidenta argentina.
O outro caso é de Pedro Castillo, no Peru. Antes de ser destituído da presidência, Castillo surpreendeu anunciando que fecharia o Congresso e o Judiciário, passando a governar por decretos. Além disso, o então presidente também decretou estado de sítio e o toque de recolher. A ofensiva de Castillo, no entanto, não teve o sucesso necessário. O Congresso não foi fechado e ele acabou sendo preso. A operação não teria como dar certo, visto que Castillo não tinha apoio do Exército e também não mobilizou apoio popular nenhum para a empreitada.
Cabe lembrar que Castillo foi eleito presidente numa disputa acirrada com a extrema direita, contra Keiko Fujimori, filha do ditador dos anos 90. Após ganhar a eleição, ele tomou posse e rapidamente se livrou do partido que o elegeu, passando a governar com um ministério mais direitista para buscar acordos com o Congresso, mas todas fracassaram. Houve denúncias de corrupção e de que as figuras de seu partido tivessem sido simpatizantes do Sendero Luminoso. Para se esquivar das acusações, foi cada vez mais à direita.
A partir desses dois casos, podemos analisar que os golpes de Estado contra os governos de esquerda estão a todo o vapor. Para os que acreditaram em uma “onda vermelha” na América Latina, só resto dizer que estavam enganados. Continua a política do golpe, da restrição dos direitos democráticos, da perseguição aos governos de esquerda antiimperialistas. Acontece algo similar na Bolívia, no México.
Esse panorama é importante para entendermos a situação no Brasil também. O PT vai assumir o governo agora, nessa situação de fragilidade dos outros governos latino-americanos, além dos governos abertamente direitistas. A crise interna no Brasil e no próprio PT também são elementos ameaçadores. No Uruguai, Paraguai, Equador temos governos de direita. No Chile há um esquerdista de “faz-de-conta” no governo, Boric. Na Colômbia temos Gustavo Petro, cooptado pelos Estados Unidos. O caso do Brasil é um único governo de verdade, eleito com apoio da população.
Há um elemento em comum no caso argentino e o peruano: eles tentaram contornar a maré golpista através de uma direitização, procurando acordos com a direita e não adiantou nada. Em momento algum procuraram mobilizar a população para defender o governo e lutar contra o golpe. Se o PT fizer um governo direitista, vai ser levado à falência com rapidez. Fazer um ou outro projeto, estruturar o governo por manobras institucionais não será suficiente. Será necessário mobilizar a população para garantir um governo verdadeiramente para os trabalhadores.