─ Claudio Martini, correspondente em Barcelona ─
“A UE concordou este domingo, pela primeira vez na sua história, em organizar e financiar, com 500 milhões de euros (com previsão de mais 500 milhões), o fornecimento de armas para a guerra num terceiro país.”
Na Espanha o Presidente do Governo, Pedro Sánchez, disse inicialmente em rede nacional de televisão, que se limitaria a enviar material defensivo e ajuda humanitária, pois considerava a ajuda da UE suficiente. Esta decisão durou 36 horas, uma ligação do alto representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, forçou Sánchez a retificar o envio de armas para a Ucrânia.
Borrell que é o homem de Sanchez no Parlamento Europeu (e responsável direto pelo fracasso do envio secreto de caças MIG da Polônia para a Ucrânia), fez um típico discurso de fascista democrático contra a decisão do governo da Espanha antes de fazer a ligação telefônica para corrigir o presidente:
“Vamos lembrar daqueles que não estão ao nosso lado”, disse o político catalão. “ A União não vai trocar os direitos humanos pelo gás ”, continuou. “Não vamos abandonar a defesa de nossos direitos humanos e nossa liberdade porque somos mais ou menos dependentes da Rússia.” E continuou: “Não podemos continuar a confiar que apelar ao estado de direito e desenvolver relações comerciais tornará o mundo um lugar pacífico”. Ele enfatizou: “As forças do mal (…) ainda estão vivas e diante delas temos que demonstrar uma capacidade de ação muito mais poderosa, muito mais consistente e muito mais unida do que conseguimos fazer até agora. .” E finalizou: “Este momento trágico deve nos encorajar a nos unirmos mais”.
O discurso foi muito bem recebido entre os demais comissários deste verdadeiro “Clube dos Banqueiros” que é como melhor se caracteriza a democracia da Comunidade Europeia:
“O que está acontecendo em Madri?”, um dos comissários mais importantes da UE se perguntou audivelmente. “Não é suficiente para aquele governo que a União disponibilizou 140.000 milhões de euros para a Espanha se recuperar da pandemia, o item mais importante depois do italiano?” “O Sr. Sánchez acredita que vamos esquecer sua retirada [sic] em que a estabilidade de seu gabinete pesa mais do que o compromisso com nossa civilização de valores?”
Somente Espanha, Irlanda e Áustria se negavam a enviar armas para os nazistas da Ucrânia, “o que gerou desconforto na família socialista europeia, pois deixou o protagonismo dessa política nas mãos dos populares (‘sic’). Os sociais-democratas europeus não podiam permitir-se que um dos seus presidentes vacilasse. Sánchez acabou baixando a cabeça.”
A Ministra do Trabalho e Vice-Presidente do Governo, Yolanda Díaz (a comunista responsável pela não derrogação da reforma trabalhista), inicialmente defendeu o envio de armas apontando que a política externa é liderada pelo presidente mesmo contra toda a sua base de apoio e ao Unidas Podemos. Porém com o recente aprofundamento da política armamentista, com a imposição de um aumento do orçamento militar para 2% do PIB que engloba toda a UE (somente para a Espanha este desembolso pode atingir os 17.000 milhões de euros, face aos atuais 10.000 milhões), a super ministra se voltou para uma posição “a la PSTU”: “embora sejamos contra, apoiaremos a decisão de Sánchez”.
A explicação para a desestabilização completa do governo de frente ampla do PSOE não está nada oculta, em um país que conta com quatro bases militares da OTAN em seu território:
“O próprio presidente falou disso nas últimas conversas discretas com Díaz. Os socialistas defendem que o acordo de 2% do PIB para gastos militares foi assumido no âmbito da OTAN. Em outras palavras, Sánchez está de mãos atadas.”
“Esta é uma discrepância cuja importância das fileiras socialistas é reduzida ao mínimo. O PSOE, através do seu porta-voz parlamentar, Héctor Gómez, insiste que o aumento do Orçamento da Defesa para 2% do PIB é um “compromisso” assumido pelo Governo no quadro da OTAN e que como tal “vai cumprir”. “Não há espaço para debate ou contradição”, enfatizou. “Trata-se de reforçar a Aliança para defender o que mais importa, a democracia e nossos valores.” (Pedro Sanchez e seus ministros violaram todos os “compromissos” assumidos em campanha eleitoral.)
No entanto, a informação mais atualizada é de que Díaz (assim como o restante da esquerda, fora o PSOE), “não partilha” a decisão do Presidente do Governo nesta ocasião e rejeita o aumento dos gastos militares.
A crise da submissão ao imperialismo está aberta no governo da Espanha e em toda a Europa. Quem não pode sequer se posicionar contra o imperialismo norte-americano neste conflito, nunca vai ser confiável para defender os interesses dos trabalhadores frente a seu próprio imperialismo, e, portanto, quem não pode apoiar a Rússia na sua luta contra a OTAN também não pode apoiar os trabalhadores do seu próprio país.