A última moda na “esquerda radical midiática” é cobrar do Lula que se comprometa a taxar as grandes fortunas e criticá-lo por não ter tomado essa medida tão simples enquanto estava no governo. Ouvimos isso de nomes insuspeitos como Guilherme Boulos e Rita von Hunty, a drag queen que quer a fazer a revolução vendendo suas palestras em empresas.
Essa medida, por óbvio, não depende de uma canetada do governante da vez. Embora conste da Constituição de 1988 (Seção III, art. 153, inciso VII), requer regulamentação para entrar em vigor. Segundo levantamento da CNN Brasil, feito com base nos sites da Câmara dos Deputados e do Senado, há 37 projetos sobre o tema parados nas duas casas legislativas, às quais compete votá-los, definindo a forma de implementação da lei.
Pelo menos em tese, os multimilionários, que constituem menos de 1% da população brasileira, são os únicos que não aprovam a medida, embora, como já fizeram seus congêneres de países que aprovaram a taxação, sempre possam transferir os recursos para paraísos fiscais, como, aliás, muitos já fazem mesmo sem esse imposto extra. A reivindicação desse imposto ganha ares de “radicalismo” porque parece uma grande ousadia querer tirar alguma coisa dos hiper-ricos, que são também hiperpoderosos. De fato, são eles que pressionam o Congresso a ponto de nem mesmo no pior ano da pandemia, quando o tema voltou à tona, ter sido possível arrancar-lhes um naco da fortuna.
Alguns lembrarão que os grandes empresários, numa ação conjunta, fizeram doações durante o primeiro ano da pandemia, conforme noticiava todas as noites o Jornal Nacional, da Rede Globo. No segundo ano, porém, nenhum deles apareceu na emissora como doador de uma cesta básica sequer. O noticiário passava a investir nas histórias de pessoas que, no meio das maiores dificuldades, encontravam um jeito qualquer de sobreviver e, de quebra, sugeria à classe média fazer doações. O mecanismo da doação, para os empresários, é muito interessante, pois, em nome das empresas, conseguem abater dos impostos o valor “doado”, melhoram a própria “reputação” na sociedade e, principalmente, doam quando querem, se querem, quanto querem, o que querem. Fechemos, porém, esse parêntese.
Quanto à taxação das grandes fortunas, sua aprovação, embora possa ser algo positivo, pois a mera existência de grandes fortunas ao lado da pobreza e da miséria é, em si, uma vergonha, nada tem de revolucionário ou “radical”, pois, além de não deixar o rico menos rico, não muda o essencial. Os trabalhadores pagam impostos sobre os próprios salários, já minguados; mesmo os desempregados, que vivem de “bicos”, e até os mendigos, que vivem de esmolas, pagam impostos sobre o consumo – basta que comprem qualquer coisa em qualquer lugar, um alfinete que seja ou um pão com manteiga na padaria. Os impostos deveriam recair somente sobre o capital, que, afinal, sobrevive à custa da exploração do trabalho alheio, mas nem o Boulos nem a drag queen pretendem entrar nesse assunto.
A esquerda pequeno-burguesa tende a comprar barato esses discursos pseudorradicais, como se estivesse aproveitando um preço de ocasião no empório gourmet do bairro. Caso essas pessoas se comprometessem, de fato, com a luta da esquerda, não estariam batendo palmas para farsantes que se passam por esquerdistas, enquanto fazem o jogo da direita, que, no momento, se traduz em tirar votos de Lula. É hora de apoiar a eleição de Lula ou assumir de vez que Bolsonaro merece uma segunda chance.
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