Neste sábado uma vereadora eleita pelo PT, Filipa Brunelli, na cidade de Araraquara publicou uma declaração no Facebook em respeito a uma posição emitida pelo Partido da Causa Operária contrária à censura ao jogador de vôlei Mauricio Souza que fez um comentário que dá a entender que acharia ruim ter um super-homem bissexual nos quadrinhos. A vereadora considerou a posição do PCO como um ato de opressão. Disse ainda que o Partido seria um bolsonarista dentro da esquerda. Sem explicar a razão, proferiu alguns xingamentos como “misógino”, “patriarcal” e “opressor”. Disse ainda que a agremiação oprime-a tanto quanto o PSL.
Por mais tresloucada que seja a colocação, ela dá um bom exemplo da situação da chamada esquerda identitária. É importante ressaltar que junto da colocação sobre o PCO há também postagens seguintes sobre a ideia curiosa de que o Saci, como o conhecemos no folclore popular, seria uma invenção do racismo de Monteiro Lobato, uma explicação questionável sobre o valor da “ancestralidade feminina” no Halloween e um projeto de lei para ter “energia limpa” no município de Araraquara. Isso tudo em menos de 48h de postagens.
Como podemos ver estamos diante de um setor da esquerda que representa a classe média, pois a “ancestralidade” do dia das bruxas passaria longe da cabeça de qualquer pessoa ligada aos interesses dos trabalhadores.
A natureza das preocupações é em grande medida importada dos EUA, já que a maioria da energia que abastece São Paulo já é majoritariamente renovável, visto que uma grande parte vem de Itaipu, em 2009 jornais chegaram a dizer que 100% viria de lá.
Este tipo de político busca se apresentar como um representante dos oprimidos, mas a própria natureza das discussões mostra, além de ócio e falta de ideias concretas, uma situação de privilégio pessoal, ainda que seja mulher, negro ou LGBT. É uma desconexão inclusive das mazelas que afetam estes setores.
A vereadora disse ainda que não se pode discutir classe sem discutir gênero, sexualidade e raça. Nós não tentaremos adivinhar o que esta frase feita significa. O marxismo, como método científico, não ignora quaisquer fenômenos que se apresentam na sociedade, nada que é humano nos é estranho, como disse Marx quase 200 anos atrás.
É interessante ver que junto com as ideias importadas, este setor privilegiado busca colocar uma oposição entre defender setores oprimidos como os citados e a luta socialista, que apresenta como questão central a luta pela libertação da classe trabalhadora. Esta também é uma ideia corrente no estrangeiro. Ocorre que o marxismo foi e é pioneiro na questão da luta das mulheres, tendo Engels colocado a coisa de forma claríssima já no século XIX, na questão racial também e até mesmo na questão dos homossexuais, com o grande August Bebel defendendo no parlamento alemão que ter esta orientação sexual deixasse de ser crime ainda na virada do século XX. O próprio dia 8 de março foi marcado como dia internacional de luta da mulher trabalhadora pelos marxistas, a revolução russa que começa nesta data começou com uma greve de mulheres.
Para além da ideologia imperialista e despreocupada com o povo, vemos colocações que são comuns aos setores enlouquecidos do identitarismo, como a fantástica ideia de que o PSL (em referência a Bolsonaro) e o PCO oprimem-na igualmente. Façamos um pequeno comparativo: PCO defende a legalização do aborto, a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, defende que tanto aborto como procedimentos para mudança sejam legais e oferecidos aos que quiserem pelo serviço público.
Defende ainda a separação total entre a igreja e Estado, defende a liberdade destes setores de falarem, seja politicamente ou artisticamente, aquilo que bem entenderem mesmo que ofenda a sensibilidade de setores religiosos. Somos contra a ideia bolsonarista de que uma mulher estuprada teria de acusar alguém para receber acolhimento do Estado. Onde teríamos convergência com o Bolsonarismo: em lugar algum. A direita por concordar com o que o jogador de vôlei disse defende ele. A direita por ver na crítica a esta ideologia fanatizada que é o identitarismo um palanque eleitoral critica estes setores, ainda faça exatamente o mesmo, basta trocar LGBT por Deus.
O PCO por sua vez não concorda com a opinião do jogador, como não concorda com várias declarações absurdas de setores identitários, como a ideia de que temos que banir Monteiro Lobato, ou até de que todos os homens são opressores, mas defende a tolerância para as opiniões das pessoas. Defende ainda que ninguém seja preso ou punido por emitir opinião.
O PCO seria bolsonarista por ser coerente e defender o direito de falar para qualquer um e não apenas para uma ideia que hoje é tida como norma pelo regime político. O identitarismo, que não é sinônimo de defesa das mulheres, negros, LGBTs, etc… é uma política que prejudica estes setores. Um trabalhador que discorda da punição ao jogador de vôlei, e numa porta de fábrica a maioria é contra, seria considerado opressor por pessoas como a vereadora citada, é uma política para entregar o proletariado numa bandeja ao fascismo.