Da mesma forma que a ridícula tentativa de queimar a estátua de Borba Gato, o passeio do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) pelo prédio da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ganhou repercussão nos principais jornais do País. E, não por acaso, a repercussão não foi negativa: quem conhece como a burguesia trata o Movimento dos Sem Terra (MST), sabe muito bem que chamar alguém que invada um prédio de “manifestante” é uma bela demonstração de boa vontade por parte da Folha de S.Paulo.
A imprensa não falou que a manifestação era ilegal, nem criticou os manifestantes. Ainda reproduziu vários tuítes de figuras da esquerda elogiando a ação, bem como uma nota da Bolsa de Valores deixando claro que a manifestação havia sido “pacífica”.
Além da imprensa golpista, o sindicalismo pelego e também golpista se mostrou feliz com o ocorrido. Em declaração à Folha, Ricardo Patah, presidente da UGT, disse ver “com bons olhos a sinalização de movimentos para acabar com a fome, a miséria e o desemprego”, ainda destacando que teria sido “muito emblemática a ocupação de um espaço capitalista como a Bolsa”. Conforme lembra a própria Folha, Ricardo Patah é o mesmo que, em 2019, era abertamente contra a greve geral contra a reforma da Previdência e defendia o “diálogo” com o fascista Jair Bolsonaro.
Dizer que Ricardo Patah e a imprensa burguesa apoiaram a iniciativa do MTST é o mesmo que dizer, portanto, que a direita golpista apoiou a iniciativa. E, de fato, excetuando-se a extrema-direita, que tem uma bússola ideológica mais definida, ninguém da direita veio a público repudiar a ação. João Doria, Rodrigo Maia, Arthur Lira e o conjunto da direita tradicional se calaram.
E por quê? Ora, porque a ação não é uma ameaça ao regime golpista. Muito pelo contrário! Os manifestantes não quebraram vidraças, saíram pacificamente, não se enfrentaram com a polícia. Finalmente, a única coisa que conseguiram foi aparecer na televisão. Para a luta contra a fome, a ação não contribuiu em nada.
A “invasão” da Bolsa é, portanto, uma ação de propaganda. E não propaganda de uma luta, mas sim de um grupo: é a tentativa do MTST de se passar por radical. E o objetivo é óbvio: para que a sua principal figura, Guilherme Boulos, utilize essa imagem para roubar votos da esquerda nas eleições de 2022. É uma ação publicitária de Boulos, eleitoreira, e não com o objetivo de realmente resolver a situação miserável dos sem teto.
Se a ação de fato combatesse o mercado financeiro, a Folha seria a primeira a espernear, como esperneou, por exemplo, quando Bolsonaro escolheu um diretor da Petrobras que não estava diretamente ligado aos grandes capitalistas. Se de fato atingisse o governo Bolsonaro, a UGT não teria aplaudido, pois isso não ajudaria em nada o “diálogo”. O que fez a Folha e a UGT sorrirem é o fato de que, para eles, a candidatura de Boulos é uma candidatura que deve ser impulsionada. Não necessariamente apoiada, visto que o candidato natural da direita em São Paulo seria um candidato do PSDB. Mas ao menos impulsionada, “facilitada”, para que tire votos do PT.